segunda-feira, 15 de abril de 2013

Pour Dor


 Meu corpo é tímido, bem como meu toque ao teu corpo.
 Não há nada de belo ou salutar, é apenas pele, pelo, pêlo, pelas.
 Tudo tem que ser perfeito para que eu tenha uma noite ou um dia verdadeiro em corpo.
 O ambiente tem que ser familiar, confortável e nada de muito exagero.

 Ao contrário que todos pensam, o lugar em que vocês estão para o pecado de nada vai adiantar, pois no fim vão ser dois animais na selva. Não haverão cobertas, travesseiros, cadeiras, mesas ou box. Vão ser os dois, talvez eu e você. Talvez ele e ela, ela e ele, ele e ele, ela e ela ou eles com eles. Vão ser sempre em pares, ímpares ou primos. Números que resultam em um somatório único, apenas um. Um ato, um corpo, um sexo.

Naturalmente as coisas vão crescendo para o pouco:
Quanto mais beijos, menos palavras;
Quanto mais perto o corpo, menos longe a alma;
Quanto mais corpo, menos roupas;
Quanto mais pele, menos pudor;
Quanto mais vontade, menos sentido;
Menos visão, mais tato;
Menos lógica, mais instinto;

 E tudo vai acontecendo naturalmente, conhecendo aquilo que já sabemos. Vamos sentido o arrepio que desce pelo pescoço no mordiscar da orelha, o suspiro de agonia dá uma tensão maior, é o "continua" que sempre se pode ouvir no silêncio dos inocentes. Arquétipos que se desvinculam do corpo, apenas duas almas que se entrelaçam com uma única vontade de serem um do outro, sem precisar construir ou destruir nada. Os dedos caminham na trilha das curvas, lambendo toda a pele que habita um querer.
 Aperta, arranha, morde, afaga, puxa... As mãos fazem uma massagem que desconstitui qualquer santo, elas açoitam com precisão aquilo que deve ser tateado, dão sentido ao entorno de movimentar, são elas que conduzem, junto aos pés, toda a dança que é o sexo. Para os mais habilidosos, as mãos são artifícios tão perspicazes quanto a própria boca, pois são com as mãos que se despem os corpos calmamente, são com as unhas que desenhamos o urro da veemência de prazer, e os pés enveredam os lençóis, abrem caminho, delimitam espaço, servem como facilitadores de uma posição de prestígio. As pernas que servem de colo são as mesmas que seguram a vítima de um beijo avassalador. 

Estes são pequenos atos de um início de noite. Algo que é embalado com um lounge muito bem selecionado e regado ao suor ameno que emana dos corpos. Entre um beijo e outro, um gole de algo gelado para fazer o tentáculo oral entorpecer  e depois guiá-lo rente ao teu ponto erógeno, as orelhas, pescoço, cotovelos, mamilos e por aí o vai. Sem controle, com remotos. Devagar e degustando cada sabor do teu corpo e nesse jogo em que todos ganham, vamos conhecendo aquilo que já sabemos.

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