sábado, 20 de abril de 2013

Efalante


As linhas sem contorno vão derivando em outras linhas, formando círculos, meia-lua, rugas e patas. Estou desenhado outro elefante, mas este, especialmente este, possui o carinho que eu preciso agora, este aqui quase sorri pra acalentar meu peito que ainda continua atordoado.
Não gosto de sonhar, não quando durmo, porque quase sempre é algo ruim, algo que aconteceu ou irá acontecer, sempre com alguém que conheço ou alguém que só lembrarei na hora do fato. Sublimará uma névoa de deja vu, o arrepio abordará os pêlos da nuca, o borboletar no estômago será sentido. 
Prefiro não sonhar. Não é seguro, e me deixa muito mal. E sempre que estes me sequestram, acabo aqui, sob a luz da madrugada desenhando alguma coisa, rabiscando algo que me faça pensar em outra coisa, sempre um animal com aspecto cartoonesco e cordial, rabisco, desenho, formeio, pinto, colorindo sem noção e com esmero, como um totem que será destruído junto às más lembranças do súbito acordar.
Talvez se existe alguém para conversar a qualquer hora sem ser interrompido, talvez se alguém pudesse ouvir sem questionar, talvez se um sonâmbulo apenas concordasse com o que eu digo ou apenas me mandasse esquecer tudo, talvez se tivesse algo mais que o divertido amigo que acabara de criar... talvez assim eu voltasse a sonhar coisas boas, sonhos malucos de aventuras surreais. Talvez.
Enquanto este sonho não acorda, agradeço por ter sempre a mão papéis, lápis de cores, tintas e uma esperança. Contando meus pesadelos à nova criatura e ouvindo seus conselhos. Dando um sorriso de "bom dia" ao impossível.


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