sábado, 13 de abril de 2013

Cena do Crime


Não durmo por pensar demais. Mas tem momentos que isso é algo sagrado. Me jogo em mente ao início da noite, com naturalidade tudo acontece e isso é o que mais odeio. Não há controle sobre o natural, sobre as ações contínuas, hábitos e vida. Não sei o que vai acontecer, não conjectura possibilidades.
Vai ver é apenas teu jovem coração atordoando minha mente. Seu temperamento indiferente me deixa em torpor, minha imensa vontade de controle fica temendo uma repreensão, fico com medo de você não mais querer. A avaliação dos teus olhos com brilho de faca estraçalha meus instintos mais sombrios.

-Apago a luz?

Fico envergonhado quando não sei o que fazer. Mas você me diz que sou velho demais pra ficar encabulado, que eu já deveria estar acostumado. E a noite segue como a prática comum do terceiro encontro.
Você me criticou, mas eu fiquei a noite inteira. Como se fosse natural, isso é o que mais odeio. Pois eu sabia que naquela noite algo poderia acontecer de fato, sabia que eu poderia conhecer mais do que as estrelas do céu da tua boca.

-Apago a luz?

E ficamos estáticos, nos olhando como se alguém fosse ser condenado pela morte alheia. A mente corria em números, gigantes probabilísticos. Você se aproximou dominando a ação, me tratou como eu sou, algo que você já conhecia, sem muito espetáculo, com a atenção necessária.

-Apago a luz?

O desencadear de acontecimentos deitaram cansados. Fiquei confuso por não saber se ia ou ficava, se era certo, se foi certo, se talvez seja certo tudo aquilo. Os insetos da dúvida mordiam meu corpo, não havia o que se arrepender ou voltar atrás. Aconteceu. E nós dois sempre com aquele aspecto de crime perfeito, de que tudo é possível.

-Apago a luz?
-Sim, apague.

Sim, tenho vergonha do meu pensamento, do meu corpo, dos meus segredos. Entretanto, isto nada importa. Não serei teu amor, não serei teu amigo íntimo, não serei uma lembrança viva. Fui apenas cúmplice de uma noite, dessas de verão. Sirvo apenas para preencher o teu vazio, preenchendo-o devagar, sem pânico ou dor, completando o vazio dos teu lençóis. Uma companhia perfeita para as cobertas. Uma quebra de hábitos solitários.

-Por favor, apague a luz.
-Você tem vergonha?
-Tenho mais que isso.
-Verdade, você tem a mim.


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