sábado, 2 de outubro de 2021

Sonho de Imersão

 

Photo by @HolBolDoTweet

Estávamos buscando alguma coisa ou alguém. Ela, Mayra, estava se sentindo desesperada. A angústia começou a tomar conta quando o sinal tocou. As pessoas estavam saindo das salas e indo embora. Mayra e eu sabíamos que ninguém viria nos buscar. Ninguém se importava conosco. Mayra começou a chorar silenciosamente. Tomei-a no braço como chegada pós casamento. Ela era franzina e pequena. Saímos da escola aos prantos, mas ninguém nos dizia nada, ninguém perguntava nada. Os grandes portões de ferro ocultavam o grande sol lá fora, a rua estava cheia de vida, comércio, lojas e pessoas, indo e vindo. Foi assim que comecei a caminhar e perceber que todos se conheciam.

Mayra finalmente se decompôs e fiquei segurando meu coração. Chorei. Chorei não só por estar sozinho verdadeiramente, chorei porque eu sabia que Mayra era eu mesma. Sozinha na infância, sozinha na vida adulta, seguindo o caminho que tem que ser seguido. Mayra me deixou saudade de uma risada boba com ingenuidade.

Depois de tanto chorar abri o olhos e respirei fundo. Parecia que acordava de um sonho pesado. Senti leveza e conforto. Estava na sombra de uma árvore, uma grande árvore, ela posada na beira de um precipício. Bem, sabemos o que acontece quando eu encontro um desses, mesmo que em sonho. A sensação de ter chorado tanto e já não estava tão cheio assim, me deixou observando a grande família que subia na árvore para gravar um vídeo. Eles deveria ser uns quarenta ou cinquenta, o chefe bem declarado era um sessentão com aspectos padronizados, óculos da moda, sorriso de quem venceu na vida. A família toda parecia ter sido saída dele, inclusive as mulheres. Todos brancos, cabelos pretos, olhos claros, ar de gente rica. O chão da árvore era grama seca, tudo amarelinho, a árvore também não era tão verde assim. Com suas folhas largas e grosso tronco, parecia que todo mundo atravessava o inverno.

A família ria e se tocavam com carinho. Abraçavam, se empurravam, se curtiam. Gravando o vídeo para momentos posteriores, a grande família não-consegui-ouvir estava em festa. A árvore tinha apoio firme para subir e descer, quase uma casa na árvore, mas alguns ainda se penduravam nos galhos fazendo pose. Depois de gravar o vídeo, com direito a drone, eles foram descendo, ajudando uns aos outros. Em sincronia, eles desceram sorrindo e conversando e seguiram para os carros estacionados do outro lado da rodovia. 

Em nenhum momento alguém olhou para mim, falou comigo ou qualquer coisa. Eles chegaram, fizeram o que tinham o que fazer e foram embora. Depois desses minutos observando-os, voltei a contemplar o abismo. Não tinha forças para levantar ou só não queria. Parecia que estava tudo no seu devido lugar.

Finalmente.

quarta-feira, 28 de julho de 2021

O sol já vem.

 

Foto: acervo pessoal

Acredito que essa seja a primeira foto que tirei calmamente aqui no sul. Durante todo o trajeto, eu vi e reli algumas coisas que queria guardar para sempre. Desde coisas engraçadas até coisas que só eu entenderia. Tinha um celular novo que jamais pensei em ter de tão caro, tinha um lugar novo que jamais pensei que um dia pisaria, tinha uma esperança que pensei que seria apenas utopia. 

Hoje, atravessando mais um inverno entre nevascas e ventanias polares, percebo que cada parte da minha vida é como um pedaço de sonho. As imagens vão e voltam, algumas pessoas brotam na mente, as cenas do passado se repassam e me lembram quem eu era, onde eu estava e o que eu queria ser. Engraçado como nossa mente nos projeta para frente e para trás.

Através da janela, naquele dia, senti a luz do sol tentando rasgar o frio que me assolava, o medo me corroía antes da grande chegada. Não sabia se eu seria recebido, eu confiava, mas não sabia. Poderia acontecer tanta coisa. Nunca me senti tão abalado e sozinho durante tanto tempo. Foi um medo devastador. Não era receio por ter que voltar pra casa logo depois de chegar aqui, mas do que aconteceria se isso fosse verdade. Tanta tensão me rodopiava que eu estava colapsando a cada segundo.

O sol me esquenta gostosamente em dias de frio. Foi algo que aprendi aqui. Se está frio, torne-se quente, seja o fogo que te respira a alma. Não tenha medo de querer ser quente, de estar quente, vire um ser fumegante. Okay, não foi isso o que me ensinaram, só me mandaram sentar ao sol. Vamos combinar que depois de tanta euforia, a gente só vai querer o bem de quem nos quer bem. Aconteça o que acontecer. Vamos agasalhar mais um pouco, colocar mais um pedaço de comida no prato, fazer rir só mais um pouquinho para amenizar um dia ruim.

Sempre fui uma criatura da noite, amava o silêncio e a solidão das trevas, o clima ameno, a falta de pressa, as ruas vazias. Hoje, continuo sendo uma criatura da noite, mas também do dia. Vejo as coisas boas sob o sol, as risadas embaixo das árvores que farfalham, os chutes na água que fazem chuvas moderadas, o suor que escorre ao pedalar ladeiras e plantações de macaxeira. Acordar cedo é custoso, porém vale a pena. Ver o sol nascer quase oito da manhã é ritual do querer-bem.

Coisas ruins acontecem, coisas boas também. A única certeza que teremos é que amanhã o sol vem novamente, mais um dia, menos um dia. Outra chance para tentar não cair, outro motivo para se levantar e tentar de novo. Planejamos nossos dias e não nossas noites, porque é nele que vem o trabalho em sua maioria, é nele que está o horário comercial, as aulas das escolas tradicionais, as idas e vindas nas feiras e lojas, é uma vida ligada no poder da radiação solar. A gente acaba acostumando.

Acostumando e esquecendo.

Contudo, não esqueça. É uma oportunidade por vez. Não viva dias seguidos, noites arguidas, sem prazer. Sinta o sol dez minutos por dia, se entregue aos raios, sem pressa, sem fazer outras coisas, só viva para uma pseudofotossíntese. Garanto que quando esquentar o corpo, vai parecer que a carga dentro de si está transbordando pele à fora. Vai pedir água para refrescar ou, se estiver por aqui, mais um tempinho num calorzinho que aquece a alma.

Só vim aqui dizer que estou seguindo o sol, de leste à oeste, um passo por dia, um pouco por vez. Se parecer que desisti, por favor, acredite mais em mim e perceba meu fôlego. A maratona é muito longa e eu não vim até aqui pra desistir agora.


terça-feira, 13 de julho de 2021

Margeando

Photo by @beholdvoid


Amarrar o tênis sempre me causa aflição, fica uma ponta grande e outra pequena. Lembro de deixar de ir à lugares por conta disso. Repetia uma vez ou outra o mesmo movimento, olhava para os pares de cima. Me incomodava ao ponto de me dar aflição. Se você não é como eu, jamais sentirá a emoção avassaladora do que é perder o controle do corpo por algo simples e frágil como amarrar os cadarços. Sei que você vai dizer que é bobagem ou frescura, vocês sempre dizem. No final, ninguém fica do meu lado quando estou em momentos críticos como esse para me deixar confortável ou prestar apoio. Ninguém fica.

É interessante, pra mim, anotar essas coisas na memória, porque quando você é contestado por mim pela atitude adversa, sempre vem um belo e sonoro "veja bem". Sim, aquelas desculpas para dirimir sua culpa em ser uma julgadora-mor sem qualquer tipo de empatia. Você só é escrota porque é escrota, se evadindo pelo já conhecido "é só minha opinião". A vida tem disso. Legal é quando depois do confronto você fica sem graça, dá aquele sorriso amarelo ou já muda de assunto; algumas ficam agressivas, cuidado.

Fiquei pensando sobre isso quando estava margeando a pista. Através de pedaladas ritmadas, observei que fazia tempo que não saia por aí em momentos de estresse pessoal. Antigamente, tipo quase quatro anos atrás, eu saia sem rumo pela cidade, pegava um ônibus e ficava em algum lugar, alheio a tudo, só observando o movimento. Naqueles momentos eu andava quilômetros, esvaziando a mente, observando apenas o movimento. Via as pessoas indo e vindo, conversas alheias, os carros e motos, assistia o mundo sem mim. 

Não era, necessariamente, que eu queria sumir e ver o mundo como se eu não existisse, não é isso. É que, às vezes, eu só queria ser o espectador, sabe? Como se você parasse numa tarde qualquer e ficasse vendo o mar, como se você se sentasse na margem de um lago ou rio e ficasse ouvindo o som da água, sentindo a brisa na pele, vendo o farfalhar da grama. Estar presente na natureza é um ponto muito positivo quando se pensa nas coisas ou quando não se quer pensar em nada.

No meu caso, eu só saia e ficava pelos concretos mesmo. Sentava em banco posicionado entre prédios, às vezes escorava no parapeito do viaduto da avenida e via o mundo correr, as cores dos céus mudavam, as pessoas iam e viam com tantas emoções distintas e isso me dava fôlego para voltar ao meu universo particular e pensar que ninguém sabe da minha história, nem de tudo o que eu queria mostrar. Eu era apenas um ponto, flutuando no universo. Fuligem de um mundo vulcânico. 

Não vou te contar que eu voltava cem por cento, isso não acontecia com frequência, principalmente quando me cobravam onde eu estava, o que eu fazia e porquê. Aquilo ficava pesado quando eu tinha que me explicar. Como explicar algo que não tem explicação? Eu posso narrar tudo o que me acontece, mas por dentro é complicado, são as minhas razões e a vivência é doloridamente difícil de partilhar com quem não passou por algo parecido. 

A margem da rodovia agora convida o pôr-do-sol. É legal ver a cidade daqui. Me lembra tempos outros que eu andava por aí até não sentir mais nada. Hoje eu sinto meu fôlego, respiro pesado nas subidas, alivio nas decidas. O suor quente vai se derretendo feio lava, tentando atravessar os pelos do corpo, o vento gelado tenta me refrescar, mas sou mais quente que isso. O sangue pulsa e rebomba dos pés à cabeça. Na pista não há qualquer  movimento, sem carros, motos ou sequer pessoas. Tudo passa muito rápido, corro atrás do sol como se ele me chamasse para o fim do mundo, as estrelas coçam minhas costas e a lua tenta me agarrar. Tudo aqui fora está parado, mas eu estou à mil. 

As paisagens mudam constantemente, como se fosse um rolo de cenário de hollywood. Eu sou o movimento. Veloz, ritmado, rasgando o mar de oxigênio estagnado. O meu corpo conspira para mais e mais movimento. Margeando a rodovia, nesta ciclovia pagã e vazia, nada mais importa. Eu sou o próprio vulcão e a mente em erupção fervilha a cada passada de marcha, a cada pedalada, sempre atento ao mundo que fica para trás. O corpo quente, lava que derrete tudo escorre e não congela, sol que brilha todos os dias, corpo que não sente mais nada.

Corpo que vive o tempo.

Coração que bebe as cores de ser quem é.
 

segunda-feira, 12 de julho de 2021

Se passam os dias

Photo by @beholdvoid

As músicas vão passando, o calor se instala, mas o sono não vem. Hoje é mais uma daquelas noites que, mesmo cansado, demorarei a dormir. Pauso o player, me espreguiço, jogo meu corpo para o lado, pego a garrafa do chão, desrosqueio a tampa metálica, um, dois, três, quatro, cinco goles de água. Isso me fará ter um pouco de coragem. Levanto, vou ao computador, posto a garrafa de vinho de uma lado, mouse do outro e cá estamos.
Essa semana foi um pouco diferente, aconteceram algumas coisas que achei que esse ano talvez não o tivesse. Além de uma bicicleta para poder ir e vir em noites quentes, alguns filmes me voltaram ao mérito de querer apenas relaxar. Vi um, ou dois filmes, desses famosos durante os anos 90/00, os que chamo carinhosamente de Sessão da Tarde. E, quem sabe, trago aqui depois algumas breves indicações? 
O que eu queria mesmo, era contar que já se passou um ano desde que comecei a fazer as lives para não me sentir tão sozinho. Graças a pandemia, tudo se tornou extremamente desgastante, seja fazer uma amizade, seja manter uma amizade. Fácil foi acabar com elas, ou deixá-las no limbo do esquecimento. 
Olho para janela e vejo os vizinhos em festa. Eles fazem churrasco todos os domingos, religiosamente. Eles riem muito, conversam muito, às vezes até dançam. Sinto falta desse tipo de possibilidade. Perdi meus amigos por ser aquele que ainda crê que a pandemia pode matar. Os poucos contatos que tinha acabaram por se afastar para não me ouvir falar que o que eles fazem é errado: É errado sair pra transar com várias pessoas diferentes no mesmo dia; é errado passar o final de semana viajando com o namorado para visitar outros amigos; é errado beber no barzinho pop cheio de gente só para aliviar a saúde mental... me tornei o fiscal dos amigos. Aquela pessoa que todo mundo odeia.
No começo da pandemia era apenas pelos stories, e as poucas pessoas que se aventuravam fazer essas coisas eram rechaçadas e "canceladas", agora é tão vulgar que o errado é não fazer o que todo mundo faz. Respiro fundo e balanço a cabeça com um sorriso amarelo, finjo interesse e logo depois volto para minhas paredes. Converso com meus botões, diálogos profundos sobre a grande vastidão da solidão.
O mundo, através da janela, é tão bonito. Os céus desses últimos dias riscam vermelho neon tão gostosamente lindo que dá vontade de sair pedalando até o horizonte, desafiando as planícies mais questionáveis. O frio vem e passa, a moda vem e passa, e as pessoas... essas aí são complicadas.
Existem dois tipos de pessoas nas nossas vidas: as pessoas onda do mar e as pessoas planetas. 
As pessoas onda do mar são aquelas que acontecem na nossa vida por um período, elas podem vir e ir tão rapidamente que talvez você jamais lembre dela pelo resto da sua vida. São colegas de infância, amigos do trabalho, parentes distantes, alguns amores rasos... Já as pessoas planetas, elas somem e aparecem em uma constância significante. Como se orbitassem ao teu redor. O magnetismo delas vão te fazer crescer ou diminuir, vão te marcar de algum modo, elas te puxam para experiências únicas e, até mesmo aquela que você nem se lembre, assim que algo acontecer você estalará direto para ela, como um insight profundo e intenso, igual Plutão, que já foi um planeta.  
Do ano passado pra cá me aconteceram muitas coisas, a maioria repetidamente enfadonha que nem vale a pena citar. Aconteceram algumas pessoas no caminho, conheci histórias novas, desejos novos, sonhos intrigantes. Não sinto falta do antigo normal, as coisas de 2019 pra trás. Sinto falta das possibilidades, de acreditar no universo infinito. Sinto falta dessa essência de crer que tudo ainda vai acontecer.
A maturidade vem dragando cada vez mais, puxando para um buraco perverso onde todas as coisas são imagináveis, mas não possíveis. Daqui da janela os pássaros seguem cuidando do ninho, a família ali festeja como se hoje o mundo fosse acabar. Talvez crescer seja isso, passar a ver o mundo mais sólido, menos etéreo. Sonhar menos e aceitar mais, ter convicções certeiras sobre pouco e parar de querer ser tudo.
Ser infinitamente, possivelmente, apenas tudo. 

terça-feira, 22 de junho de 2021

Inverno nosso de todo ano

 

Photo by @zookomi0124

    Essa semana foi de muita chuva. Uma chuva fria, para um tempo frio. Sim, também muito frio. Aqui quando esfria fica em torno de 0 grau e uns 10 graus. É bastante frio. Daqueles que as juntas doem, onde a cama gela nos pontos que não há calor humano e que o banho é uma tortura e um alívio ao mesmo tempo. Essa baixa temperatura somada ao desânimo persistente de viver no brasil do Boliro me torna inútil para sociedade. Sei que é dramático o suficiente para levar um tapa? Sei. E, às vezes, penso que um tapa bem dado poderia mudar alguns rumos de pensamentos obscuros. Tapas psicológicos, é claro. 

    Acordo, volto a dormir. A água de lavar é gelada, o chão de pisar é gelado, as janelas sempre fechadas. Chove muito lá fora, e quando não chove fica uma névoa traiçoeira que envolve toda a vista num clima londrino, poderia ser facilmente confundido por cenários de Sherlock. Sei que está muito frio lá fora porque as paredes ficam suando e as janelas choram. Chove aqui dentro de uma maneiro meio liquefática. 

    As vestes são muitas depois do banho quente, um banho por dia quando estou apenas existindo. Não há exercício, não há suor. Só as constância de ver a chuva cair, o farfalhar das árvores e a esperança de um dia quente de vez em quando. Olho os pássaros no ninho e fico aflito. Eles se esquentam de um jeito que me dá um aperto no coração. O ventos chacoalham os pombos, o ninho se segura o máximo que pode, a aflição é constante durante as tempestades. 

    Esse é o segundo ninho. O primeiro quebrou-se na tempestade de verão. Não sei se havia ovo ali, sei que os pombos passaram o dia inteiro montando o novo aqui na frente da janela. Não houve luto, só trabalho. A natureza continuava correndo atrás do prejuízo. A natureza tira, a natureza deixa pôr. Pena que o humano não consegue seguir esse fluxo por suas condições humanas. É preciso ter, é preciso fazer.

    A chuva deu uma amenizada, os pombos estão se secando como podem. Fico feliz em saber que estão seguros na medida do que seus instintos permitem. A natureza cuida dos seus, eu acho. Seres humanos cuidam dos seres humanos. Notícias na tv mostram o andar da vacinação, parece que o natal terá uma ceia em família, já vacinados, sem aglomerações. Família. 

    Assim como os pombos da minha janela, que ficam lutando para sobreviver as intempéries da própria natureza, a minha família também se amontoa em ações e reações para promover os confortos da humanidade e os luxos das pessoas do capital. A natureza vai e volta, aqui e ali, mas o mundano permanece forte. Veja a questão de quanto lixo a gente produz por dia. Sem sair de casa, em dia de chuva e frio, apenas existindo, há plástico e papel para ser descartado, seja no mínimo de higiene, seja no mínimo da alimentação. E esse legado vai perdurar por muito tempo no planeta e, talvez, você nem saiba que fui que que pratiquei o consumo disso. Não há cpf num copo plástico, nem afeto. Só uso e instantaneidade. 

    Saí do marasmo de um dia de chuva para a consciência ambiental. É bem assim mesmo. Vou divagando solitariamente e sem pressa, como o escorrer das lágrimas da janela, lentamente e graciosamente se escorregam para um efeito microclimático. Essa é uma parte do inverno daqui. Quando não tem essa chuva toda, a gente até arrisca pegar um sol e fingir fotossíntese. Ficar em cosplay de lavoura é bem gostosinho. Ruim é só respirar porque dói. O frio meio que entra cortando, sabe? Ainda que de máscara, é uma sensação muito estranha. Recomendo para entender, não recomendo praticar.

    Sair na ruas ruas de baixo para caminhar ou correr é terrível. Tem muitos esportistas que segue firme, eu mesmo não tenho coragem. Se eu não tenho essa coragem, imagina ânimo? Tá, eu sei que quando o clima voltar aos 14 graus pra cima, eu voltarei a dançar por aí e querer pedalar a cidade toda. Tá bom, tá bom. É que faz parte do clima frio e chuvoso reclamar do clima frio e chuvoso. Sei lá. Todo mundo reclama. 

    Entra inverno, sai inverno e estaremos aqui. Lembrando sempre que a vida continua e que a natureza dará seu jeito. Isso se o ser humano não destruir tudo, né? Okay, okay. Vou sair dessa imensidão meio cinza, vou te deixar com minha descoberta: H20 meninas sereias. Sim, aquela série americana, eu acho, onde três garotas viram sereias. Descobri durante essa chuva toda. Irônico? Talvez. Tem um ar de sessão da tarde e a dublagem é do tipo B que se esforça. É genial, é para você só ver e aceitar, os diálogos são estranhos e, às vezes, não batem nada com nada. Pronto, para aproveitar tanta água, que tal ver mais um episódio? Ah, eu sou a Cléo, tá?     

      

quinta-feira, 27 de maio de 2021

Abril Maio

Photo by @akinecoco987

Sim, eu sei que faz um bom tempo que eu ando me prometendo cumprir pequenas metas para poder ter pequenas vitórias, mas enquanto não existe algum componente de ultratecnologia que retire os pensamentos da minha mente e os coloque aqui, pode demorar que a postagem surja. 
São muitas as práticas que me invalidam durante todo do dia. Vai de trabalhos, avaliações, aulas, jogos, conversas, e talvez principalmente esperançar. O termo esperançar aqui será levado como todo o sentido da palavra, desde ter fé no futuro até qualquer coisa que te venha na cabeça porque, convenhamos, quem vai ditar regra em plena pandemia? A quarentena que dura mais de uma ano deveria ser rebatizada, isso sim.
Eu começaria esse texto falando de um livro que atravessamos no clube do livro secreto, o título é Uma Coisa Absolutamente Fantástica, porém não focaria na história em si, apenas no nome caricato da protagonista: April May. Sim, o nome dela é Abril Maio. É sobre isso, e tudo bem. De tantas coisas loucas e assuntos pontuais que conversamos durante todo o livro, algumas coisas ficaram implícitas.
Você até percebeu, talvez até quis comentar, e a exaustão de ser em plena pandemia tenha tirado suas forças, o ritmo mudou e flagrou a desesperança. Assim, terminamos mais um livro e seguimos ao próximo. Acredita que já vamos em quase seis meses de grupo e passamos por algumas modificações internas e externas. Fomos de Serpentário de Felipe Castilho, Sono de Haruki Murakai, Uma Coisa Absolutamente Fantástica do Hank Green, O cémiterio do grandioso Stephen King, Um estranho numa terra estranha do importantíssimo Robert A. Heinlein, A casa Assombrada do famoso John Boyne, com duas da Agatha Christie, sendo o Expresso do Oriente e Não Sobrou Nenhum os títulos, sobrando apenas o Eu sei Por Que o Pássaro Canta na Gaiola da Maya Angelou para fechar esse ciclo.
Alguns títulos entraram, outros saíram, algumas pessoas entraram outras saíram, cá estamos tentando manter um grupo de diálogos durante a pandemia, tentando manter um hábito tão massacrado pelas pessoas e tão idolatrados ao mesmo tempo. "Eu quero ler, eu gosto de ler" é tão dito e repetido quanto as horas imersivas nos aplicativos do teu celular.
Abril Maio foi uma alusão aquilo que é tão absurdo que torna especial: o tempo. Esse que dedicamos às coisas poucas, às milhares de pessoas nas redes sociais, às notícias instantâneas a todo momento, às fofocas boas e ruins das pessoas que conhecemos ou não, às artes ou apresentações ou apenas um programa de televisão, tua série favorita, os filmes que emplacaram o ano da solidão. Apenas o tempo que dedicamos ao acaso, querendo mais tempo e não filtrando o que realmente importa. A vida vai passando e logo mais Junho Julho, Agosto Setembro, Décadas e Décadas. Onde estão os meus botões? 
Os diálogos mais perenes serão os mais lembrados pela memória falha e pouco perspicaz, tudo o que teremos será lembrança. Ler aqui e ali, ler mais um pouco, refletir, conversar, manter, descontruir, construir novamente, escrever. Finalmente escrever. Quem sabe, vendo isso aqui no futuro eu lembre de abril maio, ou só de abril, ou só de você, que ainda estava aqui.  


quinta-feira, 25 de março de 2021

(In)Competência

 

Imagem por @brianchorski


Era uma questão de tempo quando ele veio se redimir outra vez. É sempre sobre escolhas, família, amores e sonhos, que no fim das contas, vão por água abaixo. O estopim do desmoronar da sólida relação ao estilo wreking ball (Miley Cyrus, 2013) foi o despedaçar do sonho, do teu sonho. Quando conversamos sobre sua projeção em ser o novo namorado, a persona virtual no Instagram pelos nove mil seguidores, a projeção na relação dele com a mãe, e a reflexão sobre cursar o curso que ele faz, nada disso me fez chutar o ultimo tijolo do que chamávamos de amizade. Veio mesmo no convencimento de que ir atrás de um sonho é perda de tempo. Que a vida é injusta demais com os bons e que tudo o que fizerdes, por mais forças que tenhas, nada disso iria adiantar na tua jornada. Foi então, neste exato momento, onde você escolheu usar disto para justificar um amor que não existia, que tudo apagou em mim.

Engraçado, fico sorrindo ao lembrar que as pessoas ao meu redor já desistiram de ti faz muito tempo. Elas sempre me diziam que você não merecia tanta atenção assim, que tudo na tua vida é um engavetamento frenético de péssimas escolhas onde tudo se justifica para que você possa não se afoga em si, nas próprias mazelas de rancor por não ter sido amado como achas que deverias. Eles até têm razão, sabe? A questão é que eu ainda gostava das nossas conversas engraçadas, seus atos falhos com vocabulário, suas frases desconexas e prolixas, os sonhos de cinema e audiovisual que tanto te empolgava, tudo isso me deixava alimentado de que tu merecias meu apoio, e por mais que eu não tivesse nada para te oferecer, você ainda aceitava minha presença.

Sabe, eu pensei muito nessa relação de pai e filho ao qual uma vez foi me apontado e, por um segundo, eu me senti tentando controlar tua vida. Dando ordens de estudos, atividades e, até mesmo, como e quem você deveria amar. Não sou pai, irmão ou filho, psiquiatra ou psicólogo, nem neurotípicamente posso dizer que te endento em todo. Então, comecei a esquivar da obrigação de nortear teus pensamentos quando estávamos a dialogar. Talvez, assim, as coisas continuem rumando para um lugar diferente, sem a necessidade de estar certo ou se sentir culpado. Quem sabe?

Dos planos e projetos eu já havia desistido. Uma coisa que eu sempre percebi é que te falta responsabilidade. Sim, sei que parece duro, mas é justamente a palavra que melhor explica o que se passa. De acordo com Oxford Languages, responsabilidade pode ser definido como "obrigação de responder pelas ações próprias ou dos outros", e essa obrigação sempre é massacrada por dizeres como "não pude", "não tive como", "não me deixaram", e nós sabemos que o que faltou foi só a priorização do que realmente importava. Essa doença de ser sempre ávido a responder a família que te suga tanto, de ser benevolente aos problemas dos outros, a gente sabe que tudo isso é autossabotagem. Convenhamos. Alguns momentos podemos até dar o privilégio de dizer que o prazo não fora cumprido por este ou outro motivos, isso com uma escala grande de tempo entre eles. Agora me dizer que todas, TODAS, as tuas coisas não podem ser cumpridas porque sempre algo te obriga a fazê-lo. Isso sabemos que é impossível. Uma porque podemos sempre escolher o que fazer ou não fazer, ainda que fiquem chateados conosco, decepcionados ou até mesmo nos odiando para sempre, mas são nossas escolhas; segundo que se há um prazo a ser cumprido, não se fode deixar para o ultimo momento para fazê-lo, isso se chama irresponsabilidade. Ainda que me diga que és brasileiro e que tudo se faz assim, o nome continua sendo irresponsabilidade. Tanto que se você não cumprir certos prazos, terás uma consequência terrível, seja uma multa por renovação documental ou até mesmo a perda de um edital. 

Talvez o problema não seja a obrigação, mas a consequência. Quando se é para falhar com algo que te traz prejuízo, sabes correr atrás. É uma entrevista, um boleto, um exame. Quando é um projeto com um amigo, como o amigo sempre vai estar lá para ti, daí vem as desculpinhas: é a garganta, a coluna, o gato que passou mal, a mãe que brigou o dia todo, as tias que pedem favores irremediáveis, o carro que bateram, a internet que caiu... e tudo isso acontecendo a toda hora e todo momento. Pode me chamar de insensível, agora te pergunto: isso também acontecia quando você namorava e morria de amores pelo 9-mil-seguidores? Porque não consigo vê-lo ficando de lado por tanto tempo aceitando essas condições, arrisco dizer que tenho certeza, CERTEZA, que a prioridade era dada a ele e não as coisas que poderiam se resolver sozinhas ou nem resolver.

É que, no final do dia, quando quiser conversar eu vou estar aqui, pois decidi ser teu amigo. Não é?

Era.

Hoje, imagino que deixo outra pessoa que precisa e quer ajuda seguir o caminho dela, pois tu se tornas responsável por tudo aquilo que cativas, e mais uma vez, a feição acabou. Hoje somos estranhos que se conhecem. Desejo infinitamente que as coisas melhorem pra ti, tua família e coisas que te acontecem, que o amor verdadeiro te consuma e te derrame do jeito que queira e mereça, que a terapia te ajude a descansar essa busca por aprovação e afeto que tanto buscas desesperadamente, ainda que em tempos de pandemia massacrante do genocida medíocre e que, quem sabe, nos esbarremos no futuro para uma conversa e outra e decidamos juntos reconstruir esse castelo.


segunda-feira, 1 de março de 2021

Março

 

Photo by @you_yamate

Era exatamente primeiro de março quando estava em uma inauguração. Era o espaço das doulas, junto com uma loja de produtos naturais. Algo bolado com intuito de agregar mulheres locais, fortes e trabalhadoras, para trocar ideias, manter contatos e usar um espaço para diversas atividades. Os grupos de grávidas e mães estavam presentes, os familiares das fundadoras também, os amigos de trabalhos e colega do amigo também apareceram para dar todo o prestígio merecido da nobre causa. Era um domingo, numa tarde quente, houve discurso, vídeo, testemunhos e vários sorrisos. O vozerio era sentido desde a quadra anterior, os carros dos visitantes alocavam cada centímetro do meio-fio, as crianças gritavam e corriam soltas. 

Tinha chá, café, e suco, torradas, bolo, bolachas e patês. Tinha um bocado de coisa para um coffee-break decente. Um coquetel talvez fosse feito falta depois das 16 horas, mas ninguém ousou perguntar. As fotos foram postadas em todas as redes possíveis, os vídeos nos ares, os comentários de sucesso e esperança eram rolados a todo vapor.

Não posso dizer que esquecível, muito pelo contrário. Essa foi a ultima festa, evento, confraternização e encontro que fiz durante todo esse processo de pandemia. Naquela semana eu ainda fui algumas vezes no espaço dar auxílio administrativo na empresa de produtos naturais, parece que nunca aconteceu. Depois de tanto, mas tanto tempo, a memória daqueles dias se perderam, para o marco do dia primeiro.

Pisei no gramado com descalços pés, o chão era frio e úmido, o clima era quente, a brisa deixava a desejar. Foi um domingo longo como a própria tarde. Revisitamos aquele dia em memória uma ou duas vezes para falar sobre todas as pessoas queridas que ali estavam. Hoje, pensando muito sobre aquele dia, só me resta olhar para a foto das foto que tirei e fiquei de postar. Eu esperava uma grande texto icônico sobre a vida das pessoas e das ideais transeuntes. 

Estamos em mais um lockdown. As lojas fechadas por uma semana, as escolas abertas para as crianças. Os bares e restaurantes funcionam normal durante o dia, à noite um ou outro arrisca o drama da fiscalização. O corpo da saúde colapsou mais uma vez. Todo mundo doente e buscando o que dá de esperança, remédios, consultas e exames. Ainda é o mesmo vírus, talvez uma linhagem das 5 existentes, mas o nome é o mesmo. 

Após ficar internado por alergia à dengue, me encontro mais uma vez olhando pela varanda as coisas se repetirem um ano depois de tudo começar aqui na cidade. Eles não levam a sério, não fazem o mínimo, pessoas morrem todos os dias. Até quando? Essa é a pergunta que faço todos os dias desde as primeiras notícias de contaminação no Brasil. 

Sei que pra você, possivelmente, eu continuar em isolamento é idiotice (como disse o médico que me atendeu na emergência), que a gente não pode parar de aproveitar tudo que temos porque o outro não está fazendo a parte dele. Olha, eu até estou cansado, realmente exausto disso tudo, porém nada, NADA, justifica colocar a vida do outro em risco, ainda que ele não se importe. Porque, afinal de contas, eu me importo. Eu me importo por mim, por você e por eles. Por isso, e mais algumas convicções, não sairei de casa se não for estritamente necessário. 

E quando eu puder sair, seguro e a salvo de protocolos pseudo efetivos, eu te trarei todas as cores da rua. 


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Mar adentro

 

Imagem por @hello_kaczi2

Outro primeiro dia, agora num mês bem mais festivo. Aqui, como você já sabe, continua a chover. Engraçado que virar o mês doente me fez pensar em bastante coisa, uma porque eu só podia ficar deitado, repousando, e outra que a chuva me traz essa divagação e reflexões das memórias em horários bem aleatórios. O que não é ruim, claro.
Ainda foi no banho que eu fiquei repensando no que te responder, se ao menos deveria responder. Me sobraram palavras, faltou energia. Tomei o diálogo novamente e aquele mar revolto era o mesmo. "Vc esqueceu de mim, esqueceu quem vc é e esqueceu de mim!" foi tão impressivo que mergulhei por algumas vezes tentando prender o ar do mundo.
Com o som da água aos ouvidos, despedacei a sentença de tantos modos que me sobrou tão pouco. A mensagem era claramente para mim, mas não era sobre mim. Das três chamativas duas é sobre você. E sempre fora assim. A imensidão do teu oceano afogou tantas percepções que hoje nem se importa mais. 
Debulhei as frases que se seguiram, claramente um resgate, mas de quê? "olhe pra dentro de vc; Vc é muito mais do que pensa que é". Três pedaços bem distintos de um quase diálogo. O que responder a isto?
Nunca saberei de fato. E por não saber qual mensagem eu devera expor, deixei apenas a onomatopeia da incompreensão. E isso, obviamente, te decepcionou. O que é triste. Não pela intenção da mensagem ser outra, mas sim porque, mais uma vez, eu lido apenas comigo mesmo.
Pensar em ti é um acumulo de aprendizagem, aventuras, situações embaraçosas e muita carga de linguagem agressiva, para não lembrar das agressões de fato. Talvez você não me entenda ou nunca entendera, isso é bem comum, pois a pessoa que aqui vos fala nada mais é do que uma nova pessoa. Não há como carregar a mesma ideologia, pensamento, e sonho de mais de uma década atrás. Se você depois de tantos anos, tantas coisas e pessoas, você continua sendo, exatamente, a mesma pessoa, eu sinto muito. O crescimento pessoal deve acontece igual ao coral, coloridamente natural e para cima, envolvendo-se dos perigos e protegendo a vida que há em si.
Crescer, mudar, mergulhar mais fundo em si. De fato, isso que nos transforma. Não são relacionamentos, diplomas ou dinheiro. A gente se transforma pra si. Se se transbordar for um perigo, faça-o sem pensar. Não tenha medo da imensidão que reside em ti, porque todo mundo sabe voltar à superfície, e você não sabendo, existem inúmeros profissionais que ensinam a nadar.
Essas práticas, em aulas terapêuticas e bem guiadas, vão te ajudar a entender os outros mares, não só o teu. Daí, quem sabe, você entenda que essa linguagem que usa é agressiva, em tons hostis, como uma cobrança muito antiga para alguém que não tem recibo de entregas. 
Vejo a luz dançando na superfície, você lembra dessa sensação? É como ficar suspenso numa grande bolsa, os movimentos fluidos, os sons aquáticos e a luz torpe. Uma segurança que dura o tempo do fôlego, sem pressa, sem competição. 
Eu acreditava que nós éramos assim, sem pressa, apenas nós, sem competição, tudo era morno. Eu estava errado. Ao se aproximar do fundo, tocando o chão arenoso e macio, percebo que não existe mais aquelas pessoas por aqui, tudo virou memória, tempos líquidos, não só nós dois como um bocado de gente e de coisa. Às vezes, em tempos de maré rasa, revejo nossas conversas entre ouriços, o veneno do teu desdém marcou meu pé por vários meses. Eu jamais te dei o meu maior tesouro de bom grado, fui o verdadeiro Don Quixote que acreditou, tudo pereceu, o corte sarou, o veneno com o tempo se depurou e a cicatriz permaneceu, maré subiu, tudo foi deixado de lado. Me prometeram proteger aquilo que eu mais presava, a coleção. Com o tempo, fui obrigado a abrir mão já que jamais os teria de volta. Nunca houve uma tentativa clara de devolução, nós sabemos o motivo, o baú que devia estar pesado e sendo procurado pelos piratas está vazio, e os piratas zombam do falso tesouro. Todos sabem que ele teve outro destino. Um  traiçoeiro, sorrateiro e voraz. Um ato insólito de apropriação de títulos diversos, belos e tão quistos. Tesouros que cultivei com muito querer e que jamais retornarão para mim porque você decidiu que eram todos teus. Coisa que eu jamais permitiria se pudesse fazer algo, mas não posso. Consigo nadar apenas no meu oceano.
É bom rever momentos, repassar métodos e entender motivos. Não espero que alguém vá me entender, principalmente este que se mostra ser o mesmo por mais tempo que o ciclo da uva. Tenho medo de que as coisas nunca mudem, de que as pessoas permaneçam as mesmas toda vida e acabem se afogando em poças do recife sem jamais ter contemplado o grande oceano que é cada um.

   


quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

A nova ordem.

 

Imagem por @freshestblanket

Hoje, aconteceu o grandioso dia onde o Trump fixou-se como ex-presidente. Alguns comemoraram, outros não. Essa semana, também teve as primeiras vacinações aqui no país. Saiu a lista de participantes do Big Brother Brasil e a internet ficou polvorosa. Essas são as ultimas notícias dos trends que eu lembro. E o que isso importa, você se pergunta.

Bom, para começar, temos a ideia de que o cerquilha seguido de palavras são modeladores da realidade. Tipo, é e não é. É como se fosse, mas não. Resumindo: depende. Usar o ponto gráfico cerquilha (#) e alguma palavra ou frase dará destaque nos sistemas de filtros e algoritmos, e isso não, NÃO, muda a realidade de fato, só que isso traz visibilidade, dá importância, retoma à pauta assuntos que ora não são vistos em detalhe, ora sequer foram pensados em desenvolvimento. 

Esse é o real poder da ultrajada hashtag que tantos usam das mais variadas maneiras. Dizer que o Trump perdeu eleição por twitaços, não é verdade. Ele perdeu por votação. Dizer que a vacina chegou ao Brasil por compartilhamento de postagens, também não é verdade. Preciso falar dos novos BBB's?

E é justamente esse o ponto que nos encontramos. Onde compartilhar uma ideia, uma movimento, uma declaração é o máximo que fazemos para ajudar o movimento. Enquanto alguns vão lá e fazem, outros dão um toque, um clique e seguem a vida. A grande manifestação do ser humano hoje é 1 segundo de atenção no smartphone. 

Estamos ficando a cada dia mais preguiçosos com nossas próprias lutas. Tudo fica muito pesado, muito cansativo, e aquele um por cento de chance de ter sucesso é massacrado com o marasmo de todos os dias sendo noventa e novo por cento certo de que nada vai mudar. 

Não sei se é realmente a vida adulta, pressionada pelo capital, pela falsa urgência do extremamente necessário ou apenas FOMO (fear of missing out, que traduzida para português significa "medo de ficar de fora") e descompaixão. E isso nem é de hoje. Lembro que bem antes do provimento das mensagens instantâneas os mais velhos me diziam que movimentos sociais eram só para jovens, para os que são novos e acham que vão mudar o mundo, para os que têm energia de lutar. Pessoas ocupadas, pessoas que trabalham não têm tempo para movimentos sociais, não participam de protestos porque hão de trabalhar. 

Em outras palavras, quem está na rua com cartazes, nas passeatas, fazendo performances são vagabundos e/ou privilegiados. O que de fato é uma parte acontece, porém não tudo. Nas vivências entre movimentos e manifestações, eu sempre me deparei com grupos e entidades representativas (LGBTQIA+, Negros, Professores...), haviam pessoas comuns que aderiam à causa como trabalhadores avulsos e domésticas (eles e elas), muitos estudantes e professores. Negros e pardos sempre foram maioria no mar de gente, era plural a cor da onda, mas não elitista, não naquelas lutas ao menos. 

O povo, através da manifestação, declara seu apoio ou descontento, seja virtual ou físico, nas redes ou fora dela. Sempre é uma opinião a ser observada. E toda aglomeração é um protesto, vejam o movimento do rolezinho que mostrou o quanto a periferia estava inserida em ambientes não tão acessíveis. Eles não precisaram levar cartazes, ou gritar palavras de ordem, apenas estava acontecendo. E acontecer é o verbo da ação social. O que as ciências sociais estudam, revisam e tentam explicar é justamente esses acontecimentos, os chamados fenômenos sociais. 

Fake News, disparo em massa, twitaços, são palavras que já estão inseridas no vocabulário dos pesquisadores que se deparam com novos tipos de movimentos sociais. Novas formas de dar visibilidade. Uma marcha na internete aconteceu com o  movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam que é um movimento ativista internacional, com origem na comunidade afro-americana) e se não fosse a respeitosa marcha por dias, em diversas partes do mundo, não tivesse a forma e poder que trouxe tanto para o mundo caucasiano. 

Aconteceram coisas tão gigantes que só foram relidas por conta do próprio movimento. A exemplo das primeiras notícias e coberturas eram feitas e debatidas apenas por jornalistas e comentaristas brancos. A internet observou, apontou e reforçou, através das redes, que aquilo também era uma forma de racismo e, justamente, a falta da visibilidade e oportunidade da pessoas negras/pardas. Não é que elas sejam menos capazes, mas que não dão a mesma oportunidade para falar de todo e qualquer tema sem que seja no momentos de consciência negra. Daí, momentos depois, houveram os marcos da luta do movimento quando os jornais e revistas passaram a dar voz as pessoas que estão inseridas nesta realidade, que até não fizessem parte do movimento diretamente, mas que estavam sendo representadas. Subiram fotos e vídeos emocionantes de gente que se viu ali na tv, na internet e nas ruas como passíveis de representação. Crianças puderam/podem se ver como jornalistas, médicos, empresárias, atrizes e tantas outras profissões e sentirem orgulhosas, sentirem o poder da possibilidade que a "branquitude", através dos tempos, tenta suprimir.

A nova ordem mundial é potente na internete, contudo não se engane: não é do wi-fi ou 5g que sairão as grandes revoluções ou movimentos revolucionários que a gente tanto precisa. Não tenha medo de se vincular a um partido político, participar de uma organização não governamental, financiar uma organização da sociedade civil de interesse público, frequentar grupos de apoio ou até mesmo estudar sobre temas delicados da sociedade. Ter experiência no assunto não minimiza a necessidade de estudar sobre, do mesmo que ter estudo sobre não excluí a urgência de experimentar as vivências de outrem. No fim das contas estaremos lutando por nós mesmos. Nossa sociedade só mudará quando a gente lutar pela mudança, podendo ser a conta gotas, passos de formiga ou um dia por vez. As ferramentas são rápidas e práticas, mas lembre-se: baixar um app é tão preguiçosamente prático que nem te faz pensar que o suor e sangue das ruas é quem levam a nação à mudança. 

Retuíte, ponha a máscara e venha pra rua.

sábado, 9 de janeiro de 2021

Janeiro

Foto por @gape_photo

Estou te escrevendo mais um dia, quem diria? Agora para te dizer que estou passando um tempo bom enquanto você faz aí suas coisas. Provavelmente, continuo curioso para saber como você consegue ir e vir e acreditar que tudo continua do mesmo jeito. Parece que estamos num mundo paralelo. Sei que o mundo se despedaça lá fora, mas por trás desses muros, aqui tudo é do mesmo jeito. Do mesmo jeito. O ano novo começou, comemoramos aqui na sacada, com bebidas vinda de lá fora, com comidas feitas por mim das coisa que vieram lá de fora. Meu coração aperta sempre que você sai, ainda não acostumei e ver essas coisas de lá, aqui, como se a guerra não estivesse acontecendo, como se as pessoas não estivessem morrendo, sim, ainda não me acostumei. 
Você finge que não se importa, mas sei pelo seu olhar que estás aflito. Todos estamos. Essa segurança toda que você me passa, em tentar estar bem, me faz bem. Você não surta, eu não surto. Você me acalma, eu te acalmo, assim seguimos. No piquenique de janeiro, nas luzes amenas do sol, lá pelas sete ou oito da noite, sol brando, hora dourada, comemos bobagens, bebemos natural, o vento passa, a conversa fica, eu escrevo um pouco, você toca um pouco, nós nos revezamos no espreguiçar. É final de semana. Um acampamento depois de passar tantas horas longe é tudo o que preciso. Recarregar as esperanças que nada vai dar errado. Estamos aqui. Respiro lento, olho firme, as cores das árvores se alaranjando no pôr do sol, um tom verde mais escuro vai pairando, e nós aqui. Esbanjamos tempo. Tudo é perfeitamente calculado, por um momento me sinto vivo. Não pela comida, não pela bebida, mas por você.
A barra de ouro que ilumina o teu sorriso no canto da boca enquanto me pega de soslaio vigiando teus dedos deslizando as cordas do violão, o som da risada de uma nota só que respira uma memória de que estamos fazendo arte. A brisa tentando corroer nosso calor dividido em pernas entrelaçadas, apoio meus braços na barriga para continuar lendo meu exemplar enquanto te espiono entre páginas. Sei que você está tocando a serenata para lua minguante, sei disso porque toda hora você alisa seu pé no meu, testando um código Morse para um gênio da lâmpada impossível. São momentos como estes que duram infinitamente pouco. Parece uma vida traçando segundo a segundo a memória, uma foto filmada e gravada pra sempre. 
Isso é janeiro, ou ao menos um pedaço dele. Uma tarde em piquenique no quintal de casa, um pedaço do mundo onde não aconteceu a guerra, onde pessoas ainda não morreram, porém a tragédia nunca deixou de acontecer. Afinal de contas, a humanidade sempre sente quando os seus são postos à luta. Você acaba, juntamos as coisas, a mochila cheia, as luzes daqui de fora começam a acender, o jardim vai tomar a noite logo logo. Caminhamos para dentro pela entrada do lado, não vamos sujar a cozinha de areia branca. Não hoje. Hoje vamos fazer como poucos dias, um dia para viver cada luz do sol. Ficaremos no beco, do lado da cerca, abraçados, dando adeus ao dia de hoje. Como se fosse o ultimo dia de nossas vidas, o melhor deles.    

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Adianta falar?

 

Foto por @wilma_arts

Começamos um novo ano em meio de uma pandemia, a maior deste novo milênio talvez? Quem diria que algo tão pequeno poderia nos tirar o sono, a vida e até mesmo a esperança de um mundo melhor?

É virada de ano, e claro, estou com aquela desesperança contínua na humanidade. O mundo dos anônimos atônitos está cheia de festa, de gente, de música e álcool. Aglomeração generalizada. Porque é amor. É fim de ano, tem que abraçar os queridos, a família, os de longe e os de perto. Passamos por um ano desgraçador e conseguimos sobreviver. Isso mesmo, apenas sobreviver, porque temos Deus, porque temos sorte, porque apenas não era nossa hora somada aos coquetel de remédios dado pela ciência. Aconteceu o pior de tudo, o descaso com saúde pública, a mesquinhes do burguês. Fomos de um carnaval meio assim até o fim do papel higiênico na prateleira. Gente perdendo emprego pela crise, pela má fé, pelo caos que é não ter um fluxo de caixa. Os leitos do SUS sendo leiloado e o do privado sendo surrupiado.

É... fomos de um grande problema para um problema imenso. Aí, depois de tanta lamentação, depois de tanto sufoco, tantas lágrimas e febre, cá estamos. Contamos os últimos segundos deste ano merda. Sei que aconteceu muita coisa boa, óbvio que aconteceu, mas para mim nenhuma notícia é boa e tão suficiente para não ser esmagado pelos mais de 196 mil mortos no tempo desta postagem.

Eu consigo ignorar tudo o que acontece lá fora, porque tenho o medo de morrer e o imenso privilégio de poder ficar em casa. Controlar a ansiedade e a insanidade de não socializar foi difícil, e tão possível quanto escolher qual novo hobby investir para cultivar bons pensamentos. Atentar aos detalhes simples da vida, respirar, ouvir os pássaros, rir com risadas do vozerio, tomar o sol com meditação, a meditação, fazer comidas novas, fotos e filmes, e tantas, mas tantas coisas bobas, pequenas e simples que contornavam tantas horas do meu dia.

Os podcasts foram meus amigos de horas seguidas e pessoas foram amigas por seguidas horas. A vida aconteceu por lá, sim, e muito. Foi uma saga acompanhar como telespectador comentarista, dando uma de psicoamigo das horas ruins e compartilhador de coisas boas. Só que hoje, nessa virada de ano tão repugnante, é válido frisar que boa parte dessas idas e vindas como coadjuvante apenas é desapontador. 

Não é mágoa, tristeza ou decepção. É um mix dessas sensações de disforia e empatia subjugada. Conceituo "público" aquilo que é de bem comum a todos, e saúde pública como ramo específico que cuida dos fisioquímicos que melhoram e/ou pioram nosso bem estar biossocial. Visto isso, através dessa varanda, sei que muitas dessas pessoas que não se importam com a pandemia ou deixaram de se importar quando passaram pela infecção, já não presam pela saúde pública. O que importa é o carpe diem, viver o agora, YOLO (you only live once), Deus no comando.

Eles daqui, os seguidores do presidente, não são tão diferentes dos conhecidos de lá, os militantes de internet. Porque sei que quando o assunto é sair de casa existe uma lista imensurável para justificar a máxima "é para minha saúde mental". E isso machuca. Não machuca como um crime real, e sim como um peso na desesperança. O que me passa em mente é: você realmente está dizendo que comer sushi com o namorado numa quarta-feira com 10 amigos, tirar muitas fotos juntos, gravar stories é para sua saúde mental? Que no final das coisas estavam todos com máscara (ou no queixo ou no bolso)? 

Tenho problemas reais nos pulmões. Cicatrizes profundas de derrames e tuberculose, asma e bronquite, sinusite e pressão alta. Autismo e ansiedade. 

Quando me chegam essa máxima de "é para minha saúde mental" depois de ver a semana toda as fotos e microvídeos de praia, cachoeiras, shopping, passeios, amigos, famílias, como se fosse 2019 e anterior. Como se as ruas não fossem uma bomba viral, como se o grande inimigo da humanidade não fosse a desumanidade egoísta do só se vive o agora. 

Estou realmente vivendo o isolamento social.
Não pelas paredes que me riscam a solidão, mas através das pessoas próximas que me sonham em leito de hospital ou em caixão a sete palmos, esses sonhos que elas sequer lembram porque dão em troca pela "minha saúde mental."

Respiro fundo.
Feliz ano novo digo para o céu. Porque você sabe o que está fazendo errado, você sabe o risco que é fazer tudo isso, você escolhe baseado nisso e naquilo, e no fim das contas o outro é só o outro.
Foda-se a vida.  

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Sim, mais um ano.

 

Foto por @iJmillz

Olá, se você está lendo isso quer dizer que, finalmente, estamos em 2021. Não sei se propriamente o primeiro dia, mas cá estamos. São 19 e trinta e poucos e o sol começa a se pôr.

Sim, eu sei que eu prometi a mim mesmo estar de volta no dia seguinte da ultima postagem e protelei isso pelo mês todo. Não se engane, martelei a ideia e as ideias que cairiam aqui por inúmeras vezes. Eu sou assim, fico de fazer e acabo por me desfazer em vários pedaços de culpa. A culpa que hoje declaro apenas "culpa católica", pois minha realmente não o é.

Depois dessa entrada triunfal, teremos o grande feitio que é a postagem primeira do novo ano.

Sim, a primeira postagem cheia de alegria e esperança, aquela que vai trilhar todas as outras durante o novo ano. Como se isso realmente fosse possível. Né?

Sei que o ser humano vive de ultimatos e que adora firmar um novo ciclo para pontuar novos ideais. Sim, a gente já viu isso aqui muitas vezes. Este ano, então, não seria diferente. Daí, aqui estão minhas metas para enquanto eu permanecer vivo e em quarentena:

1) Continuar vivo - sim, isso é muito importante, e por mais óbvio que seja, eu quero dizer que seguirei todas, TODAS, as diretrizes de saúde pública que estiverem ao meu alcance. Nada de justificar saídas aglomerativas com "é para minha saúde mental", porque isso é passar pano para a coisa errada. E, como todo gato escaldado, não me convém pactuar com essas falácias infundadas para tentar justificar o injustificável. Por isso, sigo em quarentena solitária em prol da minha vida e da saúde pública. Fazendo tudo o que é possível para continuar sem a culpa de assassinar culposamente outras pessoas;

2) Estudar mais - mesmo com o ENEM ter sido auto cancelado pela falta de vacina e o SISU acontecer antes da prova, eu quero muito continuar estudando e tentando entender as máximas do mundo e tentar também trilhar um caminho de tutor da palavra para, inclusive, tentar, ao menos um pouco, desmistificar para o grande público as coisas da vida. Sejam elas nas áreas biológicas, humanas, sociais aplicadas e afins. Ver realmente uma turminhas para dar uma ou duas aulas sobre as coisas;

3) Streaming a lot - Continuar a saga da e-gurl na twitch e ver uns jogos legais e conversar bastante com as pessoas. Isso foi o que me salvou durante a pandemia e um mundo novo que abriu com grandes e claros objetivos. Estar ao vivo, ver pessoas virtuais e conectar com o mundo é uma dádiva que me deixou são e contente comigo mesmo;

4) Terminar de ver as séries e filmes que eu gosto - Mesmo sem estar no catálogo, ainda quero terminar de ver os contos e reviravoltas que conquistaram tanta gente. Terminei muita série em 2020 e quero continuar vendo 2 horas de série por dia enquanto puder. Focando na atual e deixando a lista longa para pensar em depois;

5) Ler mais, bem mais - Ler é algo que me fascina em produção e consumo. Quero conseguir seguir em frente com o Clube do Livro, e ler os da minha meta pessoal. Quero ao menos terminar a metade da minha lista de famosos. Uns 60 livros esse ano. Apenas;

6) Emagrecer - Nossa, se tem uma coisa que eu quero muito esse novo ano é seguir recomendações de exercícios físicos e voltar a vestir 2. Quero comprar umas roupas sociais e calças de linho e me sentir bonito, confortável e contente comigo mesmo. Dane-se os outros. Isso é por mim. Roupas que combinem com minha sapatilha vermelha tão linda;

7) Viajar novamente - se tiver vacina. Quero continuar vendo meus colegas e amigos da internet e quebrar o tabu de existir apenas no virtual. Conseguir dar um abraço nas pessoas que me fazem existir através de caracteres é fundamental para que me realize como pessoa. Que eu veja na pessoa aquilo que ela me faz quando conversa comigo e transforma o meu dia. Não importa o lugar, cedo ou tarde a gente vai se encontrar;

8) Ser uma pessoa ligeiramente melhor - Não por mim, mas pelas outras pessoas. Tratar uns traumas e transtornos, assim como síndromes e doenças mentais. Quero poder me sentir bem o suficiente para chegar na terapia e me sentir desarmado e simples. Assim, quem sabe, eu possa te entregar o melhor de mim; 

9) Cozinhar comidas típicas - Quero fazer um São João bem gostoso. Não importa o mês, farei todas as comidinhas gostosas;

10) Ajudar minha família - esse tópico ainda está remoto, mas será concluído; 

Se tudo der certo, ao menos dez por cento será feito e muito festejado. Metas devem ser possíveis e passíveis de flexibilidade, porque dependem de muitas variáveis e, por isso, vivemos em um mundo de possibilidades.

E você, o que nos traz nesse novo ano? 


Apenas o céu

Foto por @sanamaru O amargo remédio se espreme goela abaixo, a saliva seca e o gosto de rancor perdura por horas. Em vez de fazer dormir ele...