quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Liverpool


  Tudo o que eu lembro são dos bons momentos, lembro do teu nome, do jeito que me fazia rir, mas não lembro do teu rosto. Lembro como é o teu gargalhar que até agora me faz sorrir, mas não lembro do traço dos teus lábios rasgando um sorriso em conversão do sério a um caloroso aspecto delimitadamente incrível de alegria.
   Lembro da forma de me imitar, mas a feição é turva, de nítido tenho pedaços. Um olhar, um mastigar, um fungado inesperado, nada que fusione em construção ao fisiológico ser. Poderia pensar que foi tudo um sonho, sozinho como o tédio, por isso o bloqueio ainda que tardio do teu rosto, do sentimento de agradabilidade que se congelava a cada som que subira garganta a cima e chamava por mim.
   Assim como uma outra vida, viajamos no tempo e espaço e nos deparamos com o som do mar fazendo constrição aos nossos dilemas. Pousados sob o céu riscado de neon, vislumbramos o que chamo de Liverpool. Um momento irreal daquilo que não podemos maquinar em vida comum, uma fuga ao paradiso sistema que é criado uma única vez, algo que nos remete ao superliminar desejo de nunca acabar. E fora ali que trocamos figurinhas, compartilhamos sonhos e dissecamos ilusões. 
   Engolimos o dia entrelinhas e estrelinhas começaram a ser prepostas no firmamento. Varamos o crepúsculo como uma sorte vista ao chão e embolsada com carinho ficamos ali, aos barcos e barrancos, costurando uma vida. Construindo saídas. E no limiar de aparato concluir, deixamos para trás tudo e nada. Fora apenas uma tarde em prosa, em calor e temor que o mundo pudesse nos tocar. Liverpool, um lugar onde só eu sei ir e voltar, um lugar onde eu adoraria te encontrar e sussurrar em teu ouvido: Como é bom te abraçar.

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