O frio convidou-me ao assento mais próximo e para me lembrar do ontem, faltou apenas o cheiro de melaço. Ficar ao sereno é o que me resta para tentar amenizar a minha dor, esta que não passa com nenhum medicamento, nenhuma terapia, não passa com nada. Sofrer deve ser minha sina, só isso explica tamanha comoção com o vazio que carrego dentro de si.
A noite é silenciosa e amiga. Enquanto todos dormem, enquanto a densa escuridão invade as casas, estou aqui, estou sempre aqui. Ninguém atrapalha meu escrever, ninguém pergunta o que estou pensando, ninguém segura minha mão. Assim foi por tantas vezes, sob o luar mágico que sinto na gélida pele das mãos, a lua me avisa que algo bom estar por vir, algo que realmente vá criar algo dentro de mim, que me faça sentir vivo. O luar consola meu vampirismo. Viver eternamente não é a maldição, na verdade a grande maldição de ser assim é não sentir.
Não há tato algum, você acredita que sente algo ao tocar, mas é apenas movimento da mente. O áspero não dá vazão ao passar de dedos, o beijo é mero movimento de vinte e nove músculos, o abraço é apresamento qualquer. A luz da lua, bem como a luz do sol, é algo que sinto. Apenas isso é verdadeiramente sentido, mesmo que memorialmente falando, mas são as únicas coisas que me fazem acreditar que posso ser normal. Que poderei ter uma vida humana.
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