Com a mão estendida continuei por três segundos. Com um sorriso catedrático e um semblante caricato, tento não expor a incredulidade espontânea. "Nós nos já conhecemos", você afirmou desvinculando qualquer cordialidade. Retirei do vazio o punho já fechado, sem titubear, voltei a contar os pigmentos de céu. Se fosse outra pessoa, ficaria a tentar ser deveras gentil, mas não era o caso. Nós realmente já nos apresentamos e, muito embora, nunca conversamos ou conversaremos, fico a torto pensar se realmente fiz certo. Certo não, necessário. Uma vez que somos apresentados, fixa-se uma concórdia de amistosa reciprocidade. E falando em reciprocidade, ainda não descobri porquê Minerva me odeia tanto. Acredito que nunca saberei. Atenção. Ela vai sair. Preparou-se para retirada de maneira religiosa e, cultuando a educação e polidez, se despediu sendo agradável como costume. "Você vai também, não é?", respondi e eles se entreolhavam: OTÁRIO, diziam entre si. Sem nenhuma sílaba além do corpo que ria de mim. Mais uma vez, em dias como estes, preferiria seguir meu instinto sábio de evitar tudo e qualquer coisa.
Acordo com palavras de motivação: perdedor, lixo, desprezível, otário, lesma (...); durmo com ecos de motivação: inútil, imbecil, babaca, retardado (...)
Não suportaria arriscar tomar rumo à casa atravessando rodovia. Tentador demais. Então, estacionei no mais próximo, não iria conseguir caminhar mais, me arrastar mais. Sorte que a carona se aproximou na hora certa, não sei mais por quanto tempo seguro o soluçar. O silêncio que me acompanha me diz tanto. Ricochete de motivação. Se não fosse algo já vivido, talvez eu ainda estivesse em prantos, entretanto, como já faz parte do dia, as lágrimas vêm sutis. Às vezes quando menos se espera, em qualquer lugar. Fuga talvez. Admiro a paisagem quando o caminho é longo e febril, carregando o intrépido murmúrio de ser mais um cara.
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