segunda-feira, 29 de maio de 2017

Silberhoch


Rabiscando as alegrias, recortando as dores e colando o coração. Foi assim que decidi continuar com a arte de amar. Dizem que quando não se espera muito, tudo pode acontecer. E, pensando nisso, me distraí olhando o desejo se dissipar. Já não me importei com o que havia dito outrora, ou o que tinha feito, e para onde passara. Me desliguei quase que completamente. Esperava algo novo e formidável acontecer. Esperava, por outro lado, que acabasse logo e que tudo voltasse a como era antes. Confortável. Previsível. Padronizado. Continuo rabiscando algumas coisas. Uso minha pele como papel. Às vezes, também risco as paredes em confusão. O que me restou para dizer eu nem tento. Tomei vergonha e passei à arte, que me salva, tudo aquilo que me vem, tudo aquilo que se foi também. Não tenho pressa nem precisão. Agradando a mim, como única forma de paixão plena. Deixando pelos por todos os lados. Pelos cantos, pelos pretos, pelos brancos, pelo povo. Pelado, sigo com a alma sofrida. Mastigando a própria língua em atentado ao honesto voto de silêncio. Me calo ao infortúnio prazer de conviver com intrigas, discórdia e desdém. Abro a boca apenas para sorrir, na verdade, nem abro. Rasgo as pontas dos lábios com hipocrisia. Não olhando para o umbigo, não olhando para os outros, mirando a vista para o alto, para longe, para além. 

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