Olho para o céu esperando algo acontecer no meu firmamento. Camadas. A tempestade que se aproxima aqui dentro não consegue ser dispersada pela luz do sol daqui de fora. Saboreio meu café lentamente. Sorvendo preciosamente cada gole, como um pensamento em resoluto que irá perdurar miseravelmente por um tempo desbravador de tristezas. Em pensar que, a ventania nem corrobora com o clima. Era para estar um ambiente lamentável, mas está tão agradável. Você deixou meu dia assim. E, talvez esse seja o teu dom. Você me disse que não sabe fazer nada, não tem dom para nada além do desastre. Talvez teu dom seja cuidar de outra pessoa. Fazê-la sentir-se bem. Sei que me sinto bem e isso não consigo fazer por si. Sabes que a sinceridade é o meu forte, sabes sim. Me pergunta "como vai" e não aceita um "tudo bem e você?" como resposta. Você fica e quer saber tudo, o melhor e o pior, quer saber se algo incomoda, se eu quero incomodar também. Quer aprender e ensinar. Quer fazer que eu seja melhor a cada dia. Se isso não é um dom, eu tenho que comprar o que você quer vender de si.
Estranho, esse vento me traz um perfume do invisível. O teu cheiro saboreia minhas roupas, sabia? Sempre que a gente se abraça, teu cheiro fica. Você me marca por todo o dia. Impregnado como tatuagem invisível. Às vezes, acho que você me segue e o perfume te denuncia. A música é boa, o café também, e nesta varanda suspensa de distrações fico a divagar. Observo as árvores e a malemolência lenda urbana que elas dançam ao vento. Tarde vazia. Mais tarde nem sei o que será de mim, provável marasmo contagioso. Arrastar-te-ei novamente para o tédio dominical. Tu não reclamará, mas mandará mensagem depois possibilitando outros lugares para ir, outros afazeres. Com imagens bobas e piadas, esse pixelado amor pelo inerte uma hora te cansará. Te digo, meu bem. Assim como o céu que vejo correr nuvens, meu coração também vai flutuar por aí qualquer hora, uma nave vai surgir para ser tripulada e espero que sejas você ao me escolher como bem-querer. Outro gole e já nem te quero por aqui, junto desse desastre, apenas o interlúdio de alegrias e visceradas frustrações contínuas. Ah sei lá. Talvez eu nem deveria ficar pensando em ti. Quem se importa com o que a gente é ou o que será daqui pra frente? Pedi um minuto de silêncio ao meu acaso para apreciar um café banal e gasto com todas essas míseras suposições de releituras de diálogos tortos.
Tudo o que eu quero agora é ouvir a canção que me fez dormir em abraço e calor humano, o álbum que arranhou as paredes do quarto quando implodiu outra galáxia dentro de mim, suando, vaporando desejo e querendo mordiscadas. Tudo fica parado no tempo e se acelera, se acelera e pára de novo, vai se recontorcendo e espichando... Vai... Pressionista de volumes e bips dicotómicos, os olhos esbulhados de órbitas conquistadas pequenos planetas bolhas de bilhar caramelo mar areia branco pelos som risadas memória passos não não não que passa com o que falas céu azul sem nuvem calor sensação céu claro. É sempre desse jeito. Começo com o pensamento em linha e quando você começa já não sei onde estou. Tudo se afunda, se aprofunda, fundando imprevisibilidade estudada e, como em um mix de imagens, sons e sensações aleatórias, a escolhida sempre é uma coisa fustigante. Talvez você nem entende que sempre que me encontro contigo me pego olhando o céu, ficamos sequestrados pelo infinito de uma forma simples.
Olho para o céu esperando algo acontecer no meu firmamento. Abro os olhos novamente. E fico ali.
Só.
Só.
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