sábado, 3 de novembro de 2012

Ausweglos


     O distante luar erradicou meu sentimento de culpa, tolheu-se então a esperança. Todas as feridas latejaram dor, as marcas se mostraram mais uma vez, era vivo, era cortante, era sangue. Observei através das traves o negro céu que não brotava estima, sem polvilho cintilante, sem pomposas nuvens, eu era apenas alma morta na penumbra.
     Tentei buscar alegria em meu dia, mas logo se fez tristeza por cortesia ao frio da noite. Não havia uma boa noite, uma atenção concentrada, um pensamento em mim. Nada era a palavra da vez e, por mais que eu tivera um buquê de maravilhas nas mãos ensopados de rubro viscoso, não teria alguém para entregá-lo, nem por singela brincadeira. Costumeiro tornou-se minhas noites em desdém de si, sono que atrapalha minha compulsão por pensar e teorizar a vida, lâminas que fissuram carne à procura d'alma, assim conto minhas noites em conversas com os próprios botões.
     Outra vez acordo com esse vazio aqui, essa sensação de não sentir nada. Estou frio, seco e triste, estou sem chão, e ninguém parece ligar ou querer me ajudar. É, acho que a vida é assim, a gente sofre, mas quase sempre sozinho. Se não fosse tão perigoso te pedir ajuda já o tinha feito, mas pendurar em abismo de um talvez o meu lado mais virtuoso é suicídio temperamental. Corro atrás de ti por um simples socorro, ajuda esta que chega num rasgado sorriso, numa mensagem de cumprimentos, em melodias do rádio dedicadas à mim, em memórias do passado alimentadas por ti. Corro por ato unilateral teu, pois dou passadas largas quando o assunto é você e mesmo com todo o seu abrasivo calor, o frio que gelou minh'alma não o pode mais sentir. Foi muito lindo te ver pela primeira vez e pensar, sem palavras: eu quero.

2 comentários:

  1. Carrega-se, nas ramificações dos caminhos felinos da vida, os ditos chagas e os estigmas, ígneos do fogo. A cinza que vemos, após a ardência do querer, é consequência da veracidade do desejo humano. E a solidão, de visualizar, de longe, as melhores maravilhas, aguçam nossa solitude e nos fazem carne, osso e sangue.

    Gostei da literalidade das palavras; das metáforas quase que inexploráveis, impactantes e vívidas. Segui!

    Beijão, Kristianno.
    E cuide-se. @stirbfhw

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    1. Opa!
      Nossa, foi um comentário digno de publicação!
      Obrigado pelas palavras e atenção aos meus dizeres. Fico feliz por ter me encontrado e espero que sinta-se à vontade em poder usufruir do Ultimo Suspiro.

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