Sinto o físico se liquefazer, está indo ao tempo todo o areado de conformidade mútua ao que construí no virtual mundo da ignorância, resumida em eventos cíclicos de atmosfera agradável. Vejo através do corpo e espectralmente estou me tornando mais uma vez invisível. Isto é tão perfeito quanto a qualidade de não me importar. E se de fato me dissipar por entre a multidão, apenas não me procure.
Não será tarde demais, nunca é tarde demais para nada. Apenas não será hora, mais uma vez. E enquanto estiver invisível me depararei com os mesmos relatos de sucumbência de terceiros aos moribundos vícios carnais e oriundos de vontade fraca e desejos maiores que a própria pele áspera em violenta emoção. Sim, eu não pertenço ao teu mundo, e nem o quero participar. Ele é vil e traiçoeiro, o que não me permite ser honesto consigo.
Prefiro ser assim, algo que você acredita que eu seja. Um boato talvez, uma alma condensadamente impura ao intrínseco e dicotômico sentido de pureza, uma pessoa que é dúbia e misteriosa aos opacos olhos que simulam vivência, quero ser apenas uma possibilidade neste vasto universo. E através do poema homônimo evaporarei no calor da noite:
"O dia que se consome e vira noite
consumindo a minha alma
na noite, eu me deparo com faiscas do sol
e o fim do fogo
a poeira dos ossos
a noite me tira o folego
engole toda minha lingua
viro, volto e retorno
na noite vejo a verdade oculta
escondida na clara mentira do dia
olhos bem fechados
dentes brancos em sorrisos
o sono anda e fala
e pés marcam o ritmo
de uma batida sem tambor…."
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