Eu sabia que você não me deixaria só, mas eu não te vi por muito tempo, não naquele dia, tampouco depois. Mas sentia um formigamento incomum que eu não queria que parasse, por isso e muito mais eu encarei aquele dia como ápice atemporal das minhas próprias convicções, eu fui pura e maciça confusão de mim.
A comunicabilidade transcorria como numa antes, e isto me dava cada vez mais propriedade personalística, era tudo ou muito mais, nunca um tropeço proposital como contrapeso das circunstâncias modeladoras. Estava seguro num quase arquétipo de si, tanto o é que aventurei a duvidar da sorte irlandesa, trombei os alhures divinos conforme as projeções interpostas, aceitei ver um conhecido que nunca tinha visto. Coisas destinadas a acontecer caso a vontade o faça, pois o karma está cansado de errar.
O sódio sempre potencializou minha hipófise, tanto quanto o álcool cumulado com comprimidos proibidos. Foram afrodisíacos da minha insanidade. Sim eu era puro torpor. Quem sabe não seja isso a razão de ter tido um dia perfeito? Logo cedo com o filho e logo depois com os amigos ora perto, ora longínquos Não tomei partido em me preocupar com as possibilidades, era tudo muito turvo para se entender. A pupila já dilatada, os traços oratórios meio divagados e um pouco pastosos, era hora de começar a ceder ao importante.
Mas o intrigante tinha que acontecer, pois eu estava permitido. Solitário e ao relento você perseguiu-me sinistramente por entre o retilíneo. Não houve suspense maior ali do que minha própria pergunta "Por que agora?", duvidei da vontade do universo e ele acatou o desafio, me entregou alguém cheirosamente atento a tudo aquilo que eu poderia vomitar de informações. Semblantes prepostos ao curioso, ficamos ali por horas conversando, trocando atenções e jogando corporalmente.
Pela primeira vez em minha toda vida, eu apenas falei. Falei mais que podia, mais que conhecia e poderia ter acontecido, falei tanto que cheguei a pausar várias vezes para ver se estava tudo bem, mesmo o sono e o cansaço mostrando presente nos bocejo de atenção. Fui uma metralhadora giratória automática de repetição cíclica de grosso calibre. Muito você tentou deixar o clima ameno naquele ambiente, mas o fluxo de ar quente que vinha dos meus pulmões combalidos, armava o mecanismo ideológico para os disparos intermináveis. Era mais uma entrevista do que uma conversa casual. Fui inquisidor de levianidade e tentador de gestos.
Estudei cada movimento teu com tanto esmero que fico a pensar sobre minhas avaliações, antes-durante-depois, de tudo. Tudo, digo nada. Não houve nada demais. Por mais que sentia o saltar de olhos sempre que eu dava vazão as minhas ideias sem sentido, com vários "abre parenteses" e "esqueci o que falava", Fui sutilmente agressivo e selvagemente delicado. Um paradoxo que, como o próprio, nunca sabe explicar nada que faça sentido óbvio.
Entre minha vontade implícita e nossos olhares, eram como se teus olhos emanassem duas retas que se transversavam a um feixe de retas paralelas a minha precisão, então racionava entre dois segmentos quaisquer que poderíamos notar de uma delas, ponderando igualdade entre a razão de segmento respectivo correspondente. Foi isso que eu senti e não foi apenas isto que mutilou a saliência, pois o riso do acaso golpeou-te e me fez enveredar pela lascívia.
Escorri meus dátilos, lambendo teu couro que exalava querer. As fossas de rupturas únicas estudavam teu ser, como braile, eu li massageando a oportunidade. A vontade era de puxar pra perto, mas a decisão não caberia a mim, por isso fiz que nada queria, por mais desejo que houvesse, ou conversas passadas sobre possíveis atos, ali não fora hora, não tive como romper a própria conduta de vulnerabilidade. Não fiz nada além de mordiscar teus lábios com meus cílios de proteção ao turvo.
No fundo não acredito que aquilo tenha acontecido, foi naturalmente tão bom que duvido que tenha sido vivido por mim, acredito que tenha sido mais uma imersão ou visão do infinito particular. Algo que só existe no meu mundo e que percorre até hoje como uma saudade intrigante. Como poderia alguém maneiro deste jeito atentar para um ser como eu? Nada a oferecer além de seus próprios diminutos pensamentos. Não houve naquela noite uma música sequer, apenas os grilos que rasgavam o silêncio dando um charme a noite que esperançava ser fria ao ponto de doar um abraço, um banco de praça, a noite desabada aos nossos ombros e eu falando sem parar um só momento.
Esse foi um dia alto, tão alto que do âmbar nem me lembro, apenas lembro do prateado indo buscar a vida em outro local. Fora viver algo salutarmente mais prazeroso que uma noite sem prazer, sem dizer, apenas observar o contradicto mundo das possibilidades. Foi-se uma nota musical de aparência agradável e contextual, mas quem sabe de um timbre medonho não soe novamente?
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