Ouvi em um dia de verão que o prazer que gera a felicidade momentânea está ligado diretamente ao estado da mente onde há liberação de endorfinas no organismo. E que "felicidade" é um estado durável de plenitude, satisfação e equilíbrio físico e psíquico, em que o sofrimento e a inquietude são transformados em emoções ou sentimentos que vai desde o contentamento até a alegria intensa ou júbilo. A felicidade tem, ainda, o significado de bem-estar espiritual ou paz interior. Logo, ser feliz é de fato substrato daquilo que você conceitua, podendo ser bom ou ruim para outrem, tal como idolatrado e até mesmo repugnante para a sociedade.
No universo de tragédias, decepções, erros e violência, a mera sensação de felicidade em nossas vidas trás consigo um determinado aspecto humanístico. O vício. E este, por assim dizer, não é algo que nos afastamos por querer. Se algo me faz "bem", me trás satisfação, sensação de liberdade, alimenta meu ego, ou apenas completa meu estômago faminto por soluções, desvinculando-me, mesmo que momentaneamente, dos problemas mundanos, será alvo de busca incessante. Projetamos a calma/serenidade, que seria íntima, para algo que possamos ter fisicamente, para algo palpável afim de suavizar os mecanismos nervosos que nos alertam a mente. Consumir é ação que advém o vício.
Construímos nosso caráter para ficar longe ao máximo dos vícios em si, porém alguns deles (os sociais) são tidos como aceitáveis, em tese. Alguns são postos em nossas vidas como condição de integrabilidade comunitária, como beber álcool ou fumar um simples cigarro. Alguns gostam, outros não, mas todos aceitam. É cultural, dizem eles. De outro modo, há vícios sublimes que não são tão tocantes no dia-a-dia, como a gula e o sexo, por serem mais íntimos ao indivíduo e tratados como Fuga psicológica. Sendo ou não fuga, alimentar o (in)consciente vício ou simples vontade diária de consumir algo, é tão humano quanto mentir. Ilógico tratar a busca da felicidade sem observar os corriqueiros atalhos vicissitudinários, e talvez seja por isso que a nova geração, Geração Y, seja tão precoce. Tão intensa quanto a Geração Coca-Cola observava a Geração Internet crescer e sermos o que somos hoje.
Para mim vício é algo que se torna danoso, diferente do hobbie que é algo sadio. Os dois são repetições cíclicas de comportamentos ou ações que geram felicidade, entretanto um cumina em dor e o outro não; Dor, em seu sentido amplo e infinito seria sempre subjetiva. Cada indivíduo apreende a aplicação da palavra através de experiências relacionadas com lesões nos primeiros anos de vida. Os biologistas sabem que os estímulos causadores de dor são capazes de lesão tecidual. Assim, a dor é aquela experiência que associamos com lesão tecidual real ou potencial. Sem dúvida é uma sensação em uma ou mais partes do organismo mas sempre é desagradável, e portanto representa uma experiência emocional. Experiências que se assemelham com a dor, por exemplo: picadas de insetos, mas que não são desagradáveis, não devem ser rotuladas de dor. Experiências anormais desagradáveis (diestesias) também podem ser dolorosas, porém não o são necessariamente porque subjetivamente podem não apresentar as qualidades sensitivas usuais da dor. Muitas pessoas relatam dor na ausência de lesão tecidual ou de qualquer outra causa fisiopatológica provável: geralmente isto acontece por motivos psicológicos. É impossível distinguir a sua experiência da que é devido à lesão tecidual se aceitarmos o relato subjetivo. Caso encarem sua experiência como dor e a relatem da mesma forma que a dor causada por lesão tecidual, ela deve ser aceita como dor. Esta definição evita ligar a dor ao estímulo. A atividade provocada no nociceptor e nas vias nociceptivas por um estímulo não é dor. Esta sempre representa um estado psicológico, muito embora saibamos que a dor na maioria das vezes apresenta uma causa física imediata. A abordagem que se faz da dor, atualmente, é que ela é um fenômeno ‘biopsicossocial’ que resulta de uma combinação de fatores biológicos, psicológicos, comportamentais, sociais e culturais e não uma entidade dicotômica.
Temos como exemplo prático de vício aquele onde nos remete automaticamente uma degradação do organismo, do mesmo modo em que o hobbie seria um lazer comum. Pergunto-te: Colecionar seria um hobbie ou um vício? Tal como qualquer coisa que você pense ou faça, o que dirão sobre isso será o resultado não propriamente dito, mas sim a intensão substancial, o dolo. Nosso exemplo, colecionar, será um hobbie se feito de maneira branda, como uma diversão, passatempo; será vício se o colecionar for suprimento adjacente ou rebelador, quando deixar de praticar algo para consumir ou quando a valoração for maior do que um mero praticar, quando virar sublimemente obrigação.
Nesse reflexo de possuir, a felicidade momentânea se finda, volta-se ao natural e deplorável sentimento depressivo. Voltamos a consumir, vício cíclico se per faz. Alimentamos mais uma vez o vício. E mais outra vez, criando micropontos de felicidade. Cria-se então a dependência. Então podemos dizer que a dependência se caracteriza pela relação entre a pessoa e o objeto de seu vício. Caso abstenha-se do uso daquela atividade, ela passará por estresse e mal-estar, então sente que deve utilizar a substância. São frequentemente presentes nas drogas que causam dependência psicológica efeitos como o relaxamento, alegria, euforia e sensação de poder e percepção maiores. A dependência trata-se da troca de prioridades de um indivíduo onde, devido aos bons estímulos conseguidos, comportamentos mais frequentes tornam-se obsoletos e o comportamento vicioso cresce em importância. A dependência define-se, então, como a relação de uma pessoa com uma atividade que traz danos biológicos ou sociais que está fora do controle deste indivíduo. O funcionamento biológico da dependência dá-se no sistema de recompensa do cérebro. As atitudes que nos causam a sensação de prazer estão sendo encorajadas com esta sensação pelo sistema. É pela ativação farmacológica do sistema de recompensa que funciona uma droga e é esta a principal razão pela qual são viciantes. Não só operam ativando este sistema, mas algumas drogas o aceleram consideravelmente, do mesmo modo quando nos viciamos em emoções ou ações de comportamento que antes eram agradáveis, o que alguns chamam de compulsão. Nesta ultima, alguns pesquisadores delimitam como linha que difere do vício por se tratar de um distúrbio traumático ou fisiológico. O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) ou distúrbio obsessivo-compulsivo (DOC) é um transtorno de ansiedade caracterizado por pensamentos obsessivos e compulsivos no qual o indivíduo tem comportamentos considerados estranhos para a sociedade ou para a própria pessoa; normalmente trata-se de ideias exageradas e irracionais de saúde, higiene, organização, simetria, perfeição ou manias e "rituais" que são incontroláveis ou dificilmente controláveis.
Sendo vício ou compulsão, o tratamento é o mesmo. Trabalho psicológico para a extração da ação danosa para com o meio do indivíduo. Alguns param o vício de pronto, de maneira radical e abrupta. Entretanto, o mais indicado é a regulagem decrescente de efetivação do ato, causando menos problemas na abstinência. A abstinência nada mais é do que a fase pós vício, quando a realidade que escondemos de si é nos jogados sob corpo e mente, e é nessa fase onde buscamos insanamente a completude do vazio que nos é mostrado, o vazio que tentávamos preencher outrora. Os sintomas variam de acordo com o vício, se for físico ou psicológico: Muita ansiedade; Sensação de vazio; Dificuldade de concentração; Desejo constante e persistente pela fonte do vício; Problemas de sono (dormir muito mais, acordar várias vezes ou ter insônia); Alteração bem significativa na alimentação (comer muito mais ou muito menos); Inquietude; Mal humor;Irritabilidade e impaciência; E agressividade (voltada a outros e/ou a si mesmo).
Quando o vício se apresenta em forma física como álcool tabaco, jogo... É "mais simples" seu tratamento ou fase de assistência à abstinência por serem mais comuns. Medicação e acompanhamento de especialistas somados a família se fazem de fundamental importância. Mas, quando falamos de vício psicológico, a coisa complica. E é depois de falar e explicar tudo isso que eu chego, em finalmente, ao vício chamado Amor.
Quando amamos, criamos a relação de vício mais antiga do mundo, muito mais do que qualquer outra coisa, e de tamanha proporção é seu dano. Por que eu considero o amor um vício você titubeia? Falo sem pestanejar, todo amor é sofrível, um dano de complacente aceitação. Um mal necessário. E tal qual nos joga em momentos de prazer e dissabores de igual maneira a qualquer outra forma de contento.
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