Me pergunto, entre dentes cerrados, quando a vida vai começar, quando o hábito deixará de ser fato corriqueiro e passará a ser sonho, quando o fim de semana for tão almejado quanto o dia de pagamento. Quando serei comum? Dando os mesmos simétricos passos em direção à frente, não importando a tabulação, será sempre à frente. Quem sabe assim o risco tome conta.
Sinto as imagináveis nuvens a minha cabeça, o terno som do mundo ao longe; movimento, vida, mundo. Como se daqui de cima eu fosse inalcançável, inatingível, inalienável, inacessível, ina... ina... inacreditável. Confesso verdadeiras as palavras de algum autor que não tive a oportunidade de plagiar, mas que de muito areou minha cabeça que vagava por mundos moribundos, algo que ele me disse em tom rouco e trêmulo, com suas palavras agressivas e densas: Deixe Queimar!
De início olhei estranho para ele, mas minha atenção fora roubada pela sensação ardida que vinha das palmas dos meus pés. Na plataforma onde me encontrava, de madeira bronzeadamente maciça, a ordem sutil daquele ser que eu já não encontrava com o olhar, ecoara em minha mente. Ora ordem, ora titubeio. Não havia nada aos meus pés, apenas a plataforma, e as cores vivas das chamas que fugiam do núcleo terreno, mas só havia calor, nada mais. Aquecia, mas não machucava, O que seria aquilo?
Em volta, o meu conhecido mundo, abaixo apenas uma figuração daquilo que pensei ser verdade, mas era apenas a minha voz, ou melhor, era a voz d'Ele. Conheci por sentir a pele vibrar em arrepio que correu espinha a cima, como um estalo terreno que sobe tateando as superfícies possíveis, senti a presença do bem e do mal, do certo e errado, mas o que dera certeza de sua pessoa fora o Ímpeto. Sentimento trespassante que adrenalizou o peito, sensação de bravura e determinação; era Ele.
"Deixe queimar!" vulgarizou meu paladar, perpendicularizou valores e emoções, deixando o caminho livre para qualquer atitude e consequência. Mas, por que eu levaria em conta o desejo de um arquétipo? Sei que o lugar d'Ele está bem reservado e é eloquente em até certos pontos, embora demasiado surpresa me trouxe ao ouvi-lo dentro de si. De tanto pensar nada fiz. Vi as os tentáculos alaranjados subirem pelas frestas da madeira, eles buscavam algo que nunca tocaram, eles buscavam os meus medos. Sabia disso porque não veio fuga em mente, mas sim, a mente em fuga; Desligar-se do real era a única forma de sentir-me de verdade e fora assim que acontecera, mas fi-lo sem pensar.
Seu blog me acalma, interessante. Amo as músicas daqui, amo suas palavras. Quero sempre voltar aqui!
ResponderExcluirBeijo
Acalma? Intrigante. Primeira pessoa que diz isso, fico feliz por reconfortar. Apareça, beijo grande.
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