sábado, 2 de novembro de 2013

Aviso.


 Quem dera fosse verdade essa tal história de amor. Já ouvi tanto esse verbo que hoje é igual ao céu, contemplado às vezes, mas na maioria ele está lá, ignorado. Aqui dói, dói muito. Lágrimas incessantes me fazem soluçar. E isto já era previsto de acontecer a qualquer momento.
 Ontem eu vi um beija-flor. Ele era lindo, todo escuro e vivaz. Lembrei do dia que vi uma felicidade igual, lembrei do dia que conheci um lugar novo, lembrei de uma tarde silenciosa, lembrei de filmes engraçados, lembrei de músicas distintas, lembrei do meu coração. Será que o beijar-flor veio beber do meu coração? Pobre beija-flor, quando viu que aqui estava vazio ele olhou-me estranho, bateu asas no mesmo lugar. Levitou. Buscou aqui e ali pelo potinho com água açucarada. Pousou em meu ombro e piou. 
 Senhor Beija-flor- disse explicando-me-, eu não tenho mais açúcar em mim. O meu amor foi jogado fora.
O passarinho abaixou a cabeça e piou fraco. Bateu asas novamente e fintou-me. A lágrima do passarinho fez meu estômago remexer. Senti que ele queria tentar dizer que eu poderia mudar, que poderia ser diferente, mas ele não sabia que eu vivo na contra-mão.

 Logo o passarinho pousou em grades. Cansado. Peguei-lhe em mãos, ele não reagiu, senti seu fôlego vibrante.
 Chorei.
 A vida que tinha em mãos era como todo o sentimento que me faltava, tudo o que fora pra nunca mais voltar. O ser frágil foi deixado numa árvore próxima onde ele poderia buscar abrigo, um lar. A tarde custou a passar com a mente no beija-flor. Nunca pude acreditar que uma criatura pudesse ver em mim uma esperança de conforto, acredito que nunca sentirei isso novamente, assim é a vida. Ontem eu vi um beija-flor, que me deu alegria em alma moribunda.  



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