E quando todos partirem, estarei de volta ao normal. Sozinho.
Os papéis tantos que rabisquei ficaram encharcados com água e sal, esta linha que atravessava a trave dos olhos aliviando o peito. As linhas que se formam gritam meu silêncio, falam do meu coração.
Escrevi uma, duas, setenta cartas diferentes para que eu pudesse compreender o que se passava ao meu redor, o que ebulia aqui dentro, o que ribombava na mente. Escrevi, li, corrigi, escrevi. E assim passaram os dias na minha crise existencial.
Essa crise, geralmente, acontece no momento mais forte da vida de uma pessoa, bem quando ela se sente vulnerável, perdida ou desconsolada. A existência neste momento determina passos futuros, projeções traumáticas e remorso. E o redemoinho que se faz é infinito, levando sempre para as mesmas questões já respondidas e não compreendidas.
Calma.
Tenha calma.
O que geralmente não se responde de dentro para fora, já é sabido de fora para dentro. É nesses momentos que a palavra amiga é tida como apoio irrefutável, o braço estendido no abismo. É de onde vem as explicações variadas, a ladainha repetida, o olhar de compaixão. É posto em prova a paciência, carinho, e afeto. Porém, tem-se dois efeitos: pra quem ouve toda a explicação e presença em apoio, não faz sentido nada de nada, e pode misturar ainda mais a confusão mental, e para quem fala é algo infinitamente desgastante, pois a ajuda tem que ser insistente para ser satisfatória.
Quando você ouve, você tem que provar que está pronto para ajudar, limitar-se aos problemas alheios dando-os extrema importância, mesmo esses problemas sendo poucos ou diminutos. Cada um sabe exatamente os pesos da própria vontade, do próprio viver. Caberá ao ouvinte estar presente, haja o que houver, a sua missão será suportar os pesos, dos mais pesados aos mais leves, e ajudar na divisão.
Muito embora a ladainha repetitiva torne o diálogo frustrante, alterne com a divagação dos sentidos. Martelar um prego batido não fará efeito, use então de artifício para dispensar, mesmo que por alguns instantes, o conflito íntimo do outro. Ajude ao outro da melhor forma possível, estando apenas presente, organizando ideias, fazendo-o esquecer do mundo, coisas deste tipo.
Se você é o epicentro da tormenta, calma.
Tenha calma.
Vou contar-te um segredo, antigamente, em meados de 2007 para ser hipoteticamente preciso, eu tive uma crise existencial forte, as coisas mais imbecis eram, pra mim, as maiores coisas do mundo. E o engraçado é que eu sabia exatamente o que fazer e como fazer, mas algo me perturbava de uma forma avassaladora. E sabe como eu superei? Ele me ajudou. Ficou comigo quase em todos os momentos, quando eu ficava muito triste e já desistindo do mundo, ele ficava ali do meu lado, apenas olhava com um olhar de um carinho tão grande que eu lia em sua feição "Aconteça o que acontecer, eu sempre estarei aqui." E eu respirava fundo com isso ouvindo um suave, quase firme, "Calma, vai ficar tudo bem". A crise acabou quando o prazo de viver chegou no próximo nível, quando o medo do novo foi obrigado a ter coragem. E assim foi superado. O tempo decantou minhas ideias.
O interessante é que a crise existencial era justamente pelo crescer, pelas novas obrigações, era como se eu não estivesse preparado para aquilo e rogasse por outra opção. Não há opção na vida além do crescimento ou estagnação. E se eu fosse você optava pelo primeiro.
O agente do caos, ou seja, a pessoa que está em crise, ela não tem noção dos fatos. Ela perde a sensibilidade de pensar em três dimensões. A profundidade das coisas se torna superficial demais, profunda demais, confusa demais. É como estar perdido em uma floresta, e você tem vários caminho diferentes, e de todos os caminhos você ouve o chamado do teu nome. Qual o caminho à seguir? Você saberá quando a chuva cair, abafando assim as vozes do medo. E terá certeza do caminho certo para seu íntimo, e uma vez escolhido terá que enfrentá-lo. É por isso que quando estamos em conflito, é de extrema importância, relevância, e sabedoria o não agir por impulso. NÃO agir eu disse, Não! Pode ser difícil tentar parar o mundo enquanto tudo gira, quando a mente atordoa o sono, quando escapam as lágrimas e ninguém aparece para, no mínimo, perguntar com sinceridade se você está bem. Na verdade, é isso que nos faz perecer, escolher o caminho mais fácil, a gente escolhe desistir. Acredito que isso seja para a autopreservação, ao instintivo que nos fez sobreviver por anos e anos, sem enfrentar as adversidades do mundo externo.
Ser um agente do caos é tarefa difícil de se entender, ao mesmo que muito fácil. O que rege nesses momentos de inexatidão é o estopim para a fuga. Qualquer coisa pode culminar em ásperas palavras, ações vingativas, desprezo múltiplo, ou indiferença potencialmente localizada. O final sempre é o afastamento. Parece que o mundo vai desabar sobre a cabeça a qualquer instante. Mas não tenha medo em pedir auxílio, uma ajuda, um conversar sobre qualquer coisa. A tendência é aspirar-se umbigo a dentro, afastando toda e qualquer pessoa que dê início ao refletir, que mostre a saída.
Se o casulo se formar, não maltrate quem tentar te salvar.
Se o casulo se formar, não maltrate quem tentar te salvar.
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