Cansei de ser incompreensível. Cansei de sempre concordar, de entender os fatos e casos, cansei de tentar valorizar a vida, a sociedade, o bem-estar comum. Cansei de mediar conflitos, de abordar soluções, de ignorar xingamentos e maus tratos. Cansei. Agora vou ser compreensível como eles me pedem parar ser, ou seja, vou ser a pessoa mais egoísta e mesquinha possível, já que é o que eles pedem.
Surge, então, uma nova pessoa. Ou melhor, supre-se, então, uma nova pessoa. O ruim disto tudo não é o que eu perco, afinal de contas ser bonzinho e caridoso nunca surtiu efeito, acredito que seja pelo caminho mais agressivo que as coisas se firmem ou se mostrem. O silêncio imperará, evitando a ladainha sacra de todos os dias, os inefetivos monólogos que perduram por horas em busca de satisfazer o silêncio das paredes. E quando for necessária, a voz será objetiva e não repetida. Assim é uma pessoa compreensível.
Desculpe-me se fui rude contigo por esses dias, ou se deixei de ser por algum motivo, é que ficar sozinho é mais prazeroso do que qualquer coisa. Um bom livro substitui facilmente você que age por impulso, que tem uma vidinha vazia a custa de aparência. Isso mesmo. Mas calma, não tenha raiva de mim. A autopreservação é instintiva, e polpar-te o esforço de levar um fora ou uma soco na cara é ainda cabível.
Ir para academia todos os dias para dizer que está malhando e tomando hiperproteicos, sair quase todas as noites para gastar o dinheiro da pensão ou só do papai e da mamãe e por fim reclamar da vida, viajar pelo mundo e não dar valor a terra em que vive, amar alguém que não te ama... Tudo isso eu troco por um belo livro. Esquivo tranquilamente dos assuntos do dia para que eu possa, em minha mente, ter uma conversa mais prazerosa sobre algo mais interessante, ou seja, qualquer coisa que não seja a sua vida. Sabe por que? Porque eu não quero saber!
Dos amigos, a saudade. Da família, o desprezo. E assim vão os dias, já já será 2014, e outro ciclo começará. O que não quer dizer que tudo será novo, não não. Será a mesma coisa, só que um pouco diferente. A não ser que aconteça um desastre, fora isso será o comum e inerte dia-a-dia.
Se você está triste ou irritado por saber que eu não dou a mínima para o que você pensa, eu te aviso: não dou mesmo. Tenho uma coleção de coisas para fazer e nenhuma delas você terá a oportunidade de ver/conhecer. Pois, cada pessoa que agregou-se em mim, elas, sim, sabem o verdadeiro significado de vida, de correr atrás, de reclamar para liberar mais energia enquanto estão enfrentando as desavenças da vida.
Cansei de correr atrás das coisas impossíveis, de mostrar-se capaz das coisas como se elas fossem tudo. Aprendi. Cai. Levantei mais uma vez. Cá estou eu dizendo para mim que o esforço só é merecido depois do aprendizado, que a valoração das coisas vem com a implicância de saber o que é o raro, o que é belo, o que é único. Uma vez me disseram que era muito fácil ser feliz com pouca coisa, pois eu não tinha nada, isso me acertou bem no hipotálamo, como um machado que, maciçamente, atravessou o crânio e partiu-me em dois. Ouvi tantas outras coisas que me fizeram perceber como eu era, como o mundo era, como as coisas são. Nunca duvidei das coisas, mas sempre as aceitei com dois olhares duvidosos, um para quem os dizia e outro para o que realmente significava e, só consegui realmente me entender quando isso passou a não mais importar, quando a circunscrição de moral e valores se fundiram. Aprendi.
Do empírico fica o trauma, a memória boa ou ruim, ficam chagas no espírito que, possivelmente, nunca sararão. O que pode, ou não, transformar um indivíduo. No meu caso, só aliviou o peso de admitir as próprias escolhas. Algumas significantes, outras desastrosas. Entretanto, sempre serão tidas com orgulho.
O grau de importância que você dá as pessoas/coisas é o que fará diferença no seu mundo. Exemplos, uma feira de livros pode ser mais esperada do que um espetáculo de um artista, uma ligação pode fazer mais efeito restaurador de felicidade do que uma mensagem qualquer, uma fuga de aniversário pode realizar desejos maiores que o planejar de uma grande viajem pra outro país, uma presilha de cabelo quebrada pode ter mais sentimento de saudade do que uma foto da juventude, uma roupa pode contar mais histórias que uma roda de amigos, o olhar de quem te ama pode te dar forças para continuar, mais que antidepressivos.
Não importa de onde surja o carinho, o afeto. Se você tem isso no peito, rogará por demonstrá-lo, seja fisicamente, seja vocalmente, seja mentalmente. Uma prece também é uma forma de carinho. Nem sempre estaremos ao lado de quem gostamos, seja familiar ou não, a vida corre depressa e para alcançá-la, perdemos de vista muitas pessoas, trocamos situações por outras, o conforto pelo conflito, ou vice-versa. Tudo para a satisfação nossa, tudo pela escolha certa. Visto isso, pergunto-te: Você fez a escolha certa?
A única pessoa que pode responder isto é você mesmo, tanto para esta pergunta quanto para todas as outras, e ninguém poderá julgá-lo, saber por que? Porque não lemos as almas das pessoas. Não sabemos o que ela carrega em corpo fechado. Vejo a vida através de olhos de proporções singulares, quer entender como eu penso? Imagine um seriado dramático, vamos pegar Lost como exemplo, cada pessoa daquela ilha tinha uma história antes de chegar lá, e isso não é levado em conta nos momentos "selvagens", mas nos momentos "sociais", eles vão se revelando. Montando um quebra-cabeça de situações. Bem assim somos nós, um apanhado de cenas que refletem em outras pessoas e por aí vai. Cada um com várias histórias próprias e experiências, boas e ruins. E sabendo desta máxima, não cabe a nós julgar ninguém além de si, pois só você sabe o que se passa na sua cabeça, seus problemas, seus desejos, seus êxitos e frustrações. Só você sabe o motivo que você fez a escolha, esta qualquer que seja.
A vida é o que você vê, e é o que acontece quando você não está lá.
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