Sem dores permanentes, sem molhar o rosto, sem luz forte, sem pressa, sem barulho. Foi assim que acordei hoje, em pleno domingo costumeiro. Acabei dormindo tarde e, por mais pesado que tenha sido o dia, continuo aqui. Tive um sonho, deveras, engraçado. Não lembro o que aconteceu, mas lembro da música, lembro de acordar leve. Acordei sozinho, como sempre. Pessoas difíceis vivem sozinhas, andam sozinhas, comem sozinhas, dormem e acordam eternamente sozinhas. E, se você acredita que eu chorei para estar tão aliviado, desconsidere este pensamento. Não houve banho demorado durante a madrugada, embora eu estivesse suado depois de passar um bom tempo no 141. Apenas consegui dormir. Sem imaginar as constelações, sem pensar no horário do amanhã, ou no corpo fervilhando em dissabor. Foi uma noite de exaustão serena.
O dia segue no fluxo de descompaixão. Os cartuchos vazio ficam caindo ao chão a cada palavra de ódio, o corpo é metralhado violentamente com a desesperança que só alguém que já morreu pode conceber. E, no ultimo suspiro de vida, tento sanar as chagas desconfortáveis que me alvejam diariamente. A gangrena hemorrágica de um dia normal. Não escrevo em letras garrafais em busca de socorro ou uma prece para rogar minh'alma, tampouco perdão pelos atos ou mesmo despedidas. Quero apenas uma sombra da alvorada para descansar meu corpo cansado. Um jazigo natural para que o ciclo continue verdadeiramente. Gabriel, ontem, me contou que às vezes cidades inteiras são dizimadas pela natureza, assim sem poderem se defender, mas que no final das contas continuam lá, imersas, desoladas, mas sempre lá, em memória. E isto me fez pensar se, quando eu partir, continuarei nulo, invisível e anônimo.
Será mesmo que faria alguma diferença? Peguei minhas anotações sobre visibilidade e resposta, até agora estou em quadro 10/100, e a cada dia que passa vai caindo. Quando a população chega a 0, não se tem motivos da cidade continuar de pé. Será consumida pelo tempo, pelo vento, pelo vazio que já era.
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