Eu sabia que não era uma boa ideia, mesmo assim, arrisquei quebrar o protocolo que tento criar para poder fazer as refeições sem pragmatismos. Acendeu de maneiro costumeira, "@X curtiu sua foto", e após 15 segundos, tempo suficiente para a notificação expirar, "@X curtiu sua foto", e assim se fez outras vezes. Eu já havia desistido de capturar as notificações e te aconselhar a respondê-las de pronto. Porque tem horas que pequenas coisas significam muito, e tantas outras vão além do nosso poder de pedir. Mirei a refeição seca, comi o melhor que pude, e deixei correr os diálogos que me atraem. Sempre que surge algo interessante, o massacre é quase que unânime. Todos ao redor ficam desdenhando, satirizando e calando conversas com teor atrativo. São chatices que ninguém quer saber, dizem eles. Eu continuo calado. Aprendi a ficar calado depois de perder muitos bons contatos. As pessoas não querem saber sobre meus gostos, sobre o que faço de melhor, ou outras teorias que leio por aí. E, sentado à mesa, vejo uma cena que já marquei a pele com mágoa, era bem assim que as pessoas se afastavam por eu só falar da mesma coisa, ou falar demais sobre pessoas mortas, sobre teorias nunca lidas/ouvidas antes, era bem assim. Propositalmente, a tela volta a acender, a figuração do diálogo nos bastidores do dia começam a me deixar exausto como o resto do dia. São conteúdos similares: idades, amigos, músicas, redes sociais, o que curtem nessas redes, os comentários de um para o outro e conceitos de gente normal. Além do que, formam um belo casal. De soslaio vejo vocês conversando, o toque sublime no cotovelo, no ombro, as risadas, as mãos circulando no ar e a confiança pairando em seus sorrisos. Vocês têm uma boa conexão. Considero isso fantástico, porém hoje não posso ficar contente por ti. Hoje é um desses dias de clima nublado, que choverá a qualquer momento, onde eu vejo tudo isso que vocês são e eu não, vejo o que ele pode dar e eu não, vejo as ciências sociais calada por mais uma vez e isso não será problema, bem comigo era. Muitas coisas comigo são diferentes, como a torta que não é pedida quando estou presente, como o livro que não é locado quando estou presente, quando os passos ficam se arrastando, como minha presença fica pesada e difícil pra qualquer um. Observei, meses atrás, o quanto de amizades era crescentes, e tudo era comentado como um "nada demais", "apenas contatos", e nós sabemos melhor que ninguém que não passa de uma mentira dita pra si, que tudo tem um significado relevante e bem objetivo, porém não ali, não naquele momento. Sei disso porque são mentiras diárias que contamos para si, para fazer a gente acreditar em nós mesmos.
Eles apontarão os dedos e falarão coisas quando me verem, isso é bem normal da humanidade. Por isso, e mais um tanto, é que passo a tentar ser suprimido pelo trivial, sem curtidas de apoio, sem comentários alusivos, sem passeios de mãos dadas, sem sms na madrugada, sem sorrisos ao encontrar, sem futuro a planejar. Viver um dia normal, seguido de outro, e por aí vai. Sem afetos irrisíveis e superestimados. A vida cansa por um momento e é aí que lembramos que estamos sozinhos na vida adulta, meio que descompassa tudo. São tempos de cinzas, céu cinza, chão cinza, chove o dia inteiro, lá em casa, aqui na rua, ali nos meus olhos do espelho. A tristeza não se faz presente, apenas exaustão súbita das coisas tolas, de uma conversa não tida, de um segredo ocultado, de uma mensagem apagada. Isso vem corroendo e despejando indiferença nos eventos cotidianos, você percebe e não agride minha parte para não sacudir a tua, o "está tudo bem" sepulta aquilo que firmamos em nunca mais ousar em tocar. Você sabe do que estou falando ou vai fingir que não é contigo?
Pessoas adultas adultas conversam, entram em acordos e seguem a vida. Estou exatamente nesta fase, o problema é que o esforço de conversar tantas e tantas vezes acaba arranhando o bem-querer, rasgando-o de maneira vil. Espero que eu não desista antes de acabar, porque a força é quase nula. No mais, estou indo embora.
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