Deve haver um mundo onde você possa caminhar entre as flores, entre os amores, entre as cores de aurora. Deve haver vida além da escuridão. Se não houver, acostume-se. Acostumei a dar de ombros, a ficar calado em vez de explicar, acostumei a não precisar sempre, a não querer tanto, acostumei a ficar sozinho, a fazer sempre a mesma coisa.
Se o rascunho falasse por si, você certamente saberia os quilos de tinta preta que se despeja por entre as noites de frio. As letras se derrubam, se trespassam, se matam por aparecer e não sucumbir ao vazio que são as noite de chuva. O som da melancolia é sabido pelos vizinhos que tentam sorrir param mim quando passo por eles na sorte. Tentam dizer que Deus me ama, que o dia está lindo, que a economia vai melhorar... são tantas esperanças viscosas que são diluídas pelas paredes falantes que contam as verdades. Ouço cada um deles confessar o contrário quando estão salvos de si, no calar da noite, na depuração dos sonos, todos tolos durante o dia, todos tolos.
Apesar de passar por coisas que poderiam ser belos relatos metódicos, processei as informações como recebo elogios: Jogo-os no lixo, amassadamente. Essa tão desesperança, velha conhecida, não traz qualquer novidade, qualquer menção ao passado ou futuro. Ela se projeta como naqueles tempos cinzas que eu não sabia quem eu era, o que eu era, e o que poderia ser. E, claro, hoje, tudo isso se estraçalha em desdém por ser apenas mais um dia da vida lixo. Parei de comer e sustentar o corpo. Passei a digerir do fim ao começo, como as letras que corrijo agora por autoflagelação linguística, ludibriando o arquipélago lácteo que flutua em preto frio. Acostumar é sinônimo de adaptação, e assim se vão os dias, menos um dia por vez, craterando a vontade de seguir em frente.
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