Elas estão em todo o lugar. Facilmente identificadas, tem a voz feminina, estão levemente ou muito maquiadas (muitas vezes durante o dia). Usam calças extremamente coladas, coloridas e de cintura baixíssima (a calça santropê das mulheres perde feio). Às vezes se permitem até usar uma peça ou outra feminina, que vai da calça jeans até as coisas mais íntimas. Abusam de joias e adereços em geral. A ideia é ser o mais caricato possível. Sem esquecer, é claro, dos cabelos: escovados, lisos ou encaracolados, pintados ou com generosas mechas. Os cortes são os da hora, porque nada, do pé a cabeça, pode estar desconectado da atualidade.
Essa definição inicial diz respeito a muitas bichas pintosas espelhadas pelo país. Execradas até por boa parte do próprio segmento gay, elas provam, entre outras coisas, a supremacia do homem que se dá o direito de ser delicado, possuindo, assim, uma identidade própria, original. Claro que essa atitude custou a elas um preço alto: o da inferiorização frente as outras Bees, que volta e meia alardeiam que as pintosas são “bichinhas” de categoria menor. Com essa postura, há a fragmentação do movimento homossexual entre as “aceitáveis” (machudas, bonitas, malhadas e discretas) e as “inaceitáveis” (pintosas, drag queens, travestis e transexuais).
Nessa divisão, percebe-se que o que separa o joio do trigo ainda é a figura feminina. Quanto mais próximo estiver do que é ser “mulher”, mais próximo o indivíduo estará do que é ser minoria. No Brasil isso se “justifica” pela a história de segregação vividas por mulheres e gays. Fazendo essa retomada, entende-se melhor a ojeriza que alguns, até gays, nutrem por aquelas mais caricatas. É a heteronormatividade, a qual transpassou as barreiras de gênero e identidade de gênero, adentrando no universo homossexual e, sorrateiramente ficando raízes entre aqueles que, ao invés de se unir, brigam silenciosamente em ter si.
Após saber disso, percebe-se porque a postura de algumas bichas incomoda tanta gente. Elas curtem divas internacionais, até discutem entre si pela Gaga ou a Madonna. Batem cabelo na boate e se entregam a um bom funk. São fã dos shows das Drags Queens. Acompanham a moda à risca e sabem tudo o que é dessa e da próxima estação. Não sentem vergonha de expressar o que sentem em seus Tumblr, Twitter ou no Instagram. Enquanto ou outros, mesmo assumidamente gays, escondem suas emoções e preferem uma vida mais “tímida” ao invés de soltar a franga, literalmente falando. Ou pior, criam superioridades para justificar o recalque que sentem por não serem como as pintosas.
No entanto, tudo isso só se encaixará com o perfil e bicha que, mesmo sendo machuda, durinha e musculosa, acha que tem o direito de menosprezar as outras Bees por isso. Mas, há muitos homossexuais que por razões diversas preferem uma vida mais discreta, no entanto não se utilizam disso para atacar que optou por uma vida mais glamorosa. Pelo contrário, quem tem uma maior aceitação por si mesmo entende bem o outro, pois sabe que a individualidade é fundamental para se harmonizar uma boa convivência. Entretanto, parece faltar a muitas bichas essa consciência, da qual machudas e pintosas pudessem viver sem maiores conflitos.
Fonte: http://serfelizeserlivre.blogspot.com.br/2014/08
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