terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Ao Meu Lado.


 As pontas da toalha foram enroladas tantas vezes que já não eram retas, o guardanapo de tecido virara origami, os talheres postos e sobrepostos, as taças viradas e embebidas minutos a fio, petiscos dispensados, aguardando apenas o próximo andarilho. 
 Poucos instantes foram necessários para que alguém sentasse do meu lado. Conversa casual de uns seis a dez minutos e voltava a ficar vazio. Ótimo, assim ninguém vai ficar me alugando para uma idiota participação social. Até que:
-Achei que você viria acompanhado.
Aquela voz suave e feliz, carregava uma tristeza repentina. Era o tom de uma surpresa magoada.
Olhei desconsertado para ela, mirei o assento vazio, tornei meu olhar com a mesma resposta:
-Vivemos em um mundo de possibilidades.
E ela, com seu terno olhar, respondera:
 -A melhor delas é saber que você está aqui.

A alegria foi tanta que atravessou a face em um esbranquiçado sorriso perfeito. Ela tinha uma incrível capacidade de ver o melhor em qualquer situação. O abraço foi calmo e bem encaixado. E com o sussurro veio as melhores viagens em pensamento.
-Eu não ficaria triste por não estar contigo, eu ficaria triste se nunca tivesse você em minha vida. Seria uma tristeza inexplicável, algo além de mim.

 A música tomou conta e logo ela se afastou. O lugar ao meu lado iria continuar vazio, assim como todos os próximos eventos e diversões que eu já tinha programado fazer em conjunto. Ficaram os ingressos para o teatro, os convites de aniversários e celebrações de fim de ano. Irei sozinho. E quando olharem para o meu lado, vou responder a mesma coisa.
 Para bom ou para ruim, as possibilidades são as mesmas. Incrível seria se eu me deixasse levar por algo além de mim. Se alguém me roubasse de mim. E isto, está longe de acontecer. Quando se passa tanto tempo na mesma companhia é comum ter os mesmos pensamentos e ações, um padrão. Então, olhei ao meu redor e vi como aquilo se repetia, e eu me senti bem, estava exatamente na minha melhor condição. Era apenas eu.
 Engraçado como a situação muda o corpo quando a mente entende o propósito do significado. Brandei um sorriso sereno, um olhar no vazio que ali lograva êxito, sorria feito um louco sem sentido. Brindei a mim, brindei aos amigos, brindei ao meu universo. Logo alguns outros vieram saber porquê tanta felicidade, e apontei para algumas pessoas, e comentei apenas: Todo mundo aqui tem motivo para ficar chateado ou triste, por algum problema ou pensamento qualquer, mas olha, olha mesmo, estamos todos contagiados por uma alegria mútua, quase uma histeria coletiva - coloquei mais champanhe na taça e forcei um brinde entre aqueles estranhos curiosos-. Vivemos em um mundo de possibilidades. E eu sou a melhor delas.
 Eles riram e ficaram disputando que também eram outras melhores ainda. As risadas e histórias cômicas seguiram noite a dentro. Um círculo de pessoas meio sem sentido, meio se vergonha, meio possíveis. Foi ali que começou um novo plano para o infinito. Correu ali uma nova vida em mim. 
Um brinde.

 



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