segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Um trecho do primeiro livro:


O cheiro de morte era tão forte naquele lugar que a acordara. A dor de seu corpo era tão grande quanto seu desespero. Sem entender ela gritava. Pensava em tudo, desde como ela tinha chegado ali até quem eram aquelas outras pessoas. Clara apenas via a silhueta dos corpos que habitavam aquele lugar e em desespero chorava. Passado algum tempo, Clara voltava a se acalmar, mas não conseguia ignorar sua dor, sentia-se como se algo tivesse a atropelado

-Tenho que sair daqui. Pensou ela.

Ela passou o olhar em tudo e infinitamente desejou não está ali. Aquele cheiro que vinha de outras galerias a deixava tonta, o podre vinha de todos os cantos, das paredes asquerosas, corpos putreficados e da sua própria roupa.

Tentando se erguer, sentiu sua perna doer e através das frestas de luz que vinha de cima daquele esgoto, viu sua roupa ensangüentada. Ela chorava.

- Faz muito tempo que não sinto isso. Sussurrou uma voz aguda no fim da galeria.

- Me ajude. Soluçava Clara.

Não sabia ao certo se era alguém que falara a pouco ou apenas coisa de sua cabeça.

-Um cheiro tão doce, nossa! Exclamou ele.

O sussurro tornava-se cada vez mais alto e deixava a jovem Clara muito mais nervosa.

-Por favor senhor, estou muito machucada, chame uma ambulância. Ela tentara ficar de pé enquanto suplicava ajuda.

-Isso é cheiro de Inocência. Extasiava-se.

A jovem já não acreditava nas palavras daquele que acreditara ser um mendigo. Já não pensava em nada a não ser fugir, mesmo com sua perna aparentemente quebrada, ela se esforçava ao máximo, manter-se viva.

Ouviu-se um barulho de tiros e tudo parou. O silêncio era ensurdecedor. A única coisa que quebrava aquele silêncio era a respiração dos dois seres daquele recinto e o pulsar do coração de Clara.

Clara ouvia seu coração bater e dava a ela mais desespero, a adrenalina pulsava em suas veias, e mais rápido seu coração ficava. Ela observava aquela sombra nas paredes, em forma de animal vindo sorrateiramente em sua direção. A cada passo que ele dava era um passo para morte.

Ela tomou forças e buscou uma saída. Começou a tentar subir a suja escada as suas costas, sua única alternativa. O rato gigante que a caçava passava por todos os outros corpos, ou só pedaço destes. Ele queria aproveitar aquele momento, pois adorava definhar suas vítimas. Clara subia com toda sua vida em jogo, pouco a pouco foi subindo e gritando de dor, ela sentia seu pé se estraçalhar.

-Não adianta. Ninguém pode escutar você aqui. Sorriu este que começava, na penumbra, a tomar forma de humano.

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