quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Escritos Sobre a Ausência.

Lembrar de algo que nos faz falta é algo inerente ao ser humano. Vejo meus amigos, os amigos dos amigos, os familiares, os estranhos…todos estão sentindo falta de algo, esvaziado de sentido sem os sentidos do outro, de um outro.

Lembrar de você é praticamente me ver oco, esvaziado de porquês. De tão forte que foi a sua presença dentro de mim, refazer meus quereres, me parece impossível. Difícil não coloca-los nos planos. Você ainda faz parte das minhas expectativas.

Reviver uma pessoa, uma lembrança, um ocasião é o pior tormento. Sempre tive medo de doenças como Alzheimer, onde a pessoa perde todo seu HD e fica assim, zumbi por ai. Mas não será uma benção? Que dúvida cruel.

Reviver você é trabalhar com a possibilidade da sua pessoa, ainda. Revivendo refaço meus traços e quero saber aonde errei, e se errei. Se a culpa fosse minha seria mais fácil, mas não é, você é tão egoísta e mandão, que até os motivos que me culparia você roubou para ti. Nem isso eu tenho.

Resistimos diariamente. No trabalho, no ônibus, no Facebook, na boca do outro. Resistimos ao comentário maledicente, à descrença do familiar, da conta bancária, da solidão que nos cobre todas as noites.

Resisto a olhar suas fotos, nossas conversas gravadas em folha A4, o blog que eu fiz para falar de ti. Resisto conversar com as amigas sobre você. Elas esperam sua volta tanto quanto eu. Uma vez te falei: haverá uma festa quando você chegar. Acredite, elas ainda esperam esse momento.

Resisto pensar nisso, é enlouquecedor. Resisto pensar que não voltará, é desesperador. Resisto a você e tento me distrair. Não me sinto feliz. Não existe essa possibilidade hoje. Re-existo. Talvez o terreno baldio em que me encontre tenha lá sua finalidade.

Ir embora, todos foram, vão, irão. Quando morrem e deixam seus pertences/restos/lembranças por ai. Quando desaparecem e esquecem nosso telefone, e-mail, endereço. Quando resolvem nos deletar da vida delas. Grande covardia ser posto de lado, sem o direito de defesa, de ter direito a um tempo de preparo. Sem poder se precaver das dores que virão com a ausência.

Te compreender não ajudou a entender sua partida. Muito pelo contrário aumentou a aflição. Te sei tanto quanto você e sei das suas lágrimas, me doe não estar ao seu lado para não deixa-las cair. Ou para vê-las cair e segurar na sua mão.

‘Acordando e repondo a esperança’ (Carpinejar), e assim permaneço.

Eu queria poder ir embora de mim mesmo, dar as costas as minhas lembranças. Deixar de lado tudo que me falta e me atormenta. Mas não dá, preciso estar aqui para quando você voltar

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