sábado, 8 de março de 2014

Caminho.


 A alegria fulminante invadiu todos os cantos daquele lugar. Tudo vibrava em felicidade e alegria, muitas felicitações, ligações, mensagens, pensamentos tão confortantes que poderiam encher um quadro negro de plenos adjetivos retumbantes, dignos de um dicionário de coisas boas. Talvez seu título fosse apenas Parabéns, sim, acredito que soaria perfeito.
 Lá fora eram tantas informações que quando fui ao mundo eu me vi em cinzentos logradouros. O mundo continuava do mesmo jeito, bem como o templo silente. Os ladrilhos pisados por descalços pés, o esgoto serpenteava as margens das muretas, a fumaça dos cigarros sopravam ao acaso, os sons do turbilhão de motores atravessavam as vias... Tudo estava do mesmo jeito. 
 Me lembrei de um ensinamento antigo, antes de sair de casa eu amarrava a ponta do barbante de lã na maçaneta do meu lar, pois se caso eu me perdesse eu ia refazendo o novelo e pouco-a-pouco estaria ao eixo da vida.
 Esperando pelo transporte, fiquei pensando na vida. Só para variar. Fiquei pensando seriamente sobre essas coisas de alegrias alheias e como era contagiante, efêmero. Eu era como o mundo, do mesmo jeito, sem importar com o muito ou com o pouco, o meio-dia cheio já não era lá um fato preponderantemente casuístico de trocadilhos metafóricos, era apenas um meio-dia cheio, entende? Era, apenas.
 Atravessei as ruas como um suspiro apaixonado, onde agasalha o coração de quem ama e inveja os desafortunados. E no fim não sabendo o que está acontecendo apenas vai se apaixonando cada vez mais, cada vez menos, mais uma vez. Esse era eu, não entendendo nada e ao mesmo tempo sabendo exatamente todos os motivos do mundo.
 O quebradiço refletia a própria face, me chamando para o encarar, não quis fugir ali para uma discussão consigo. Deixei para tê-la ao chegar, enquanto estive lá fora, não pensei muito, apenas segui com eles, sorri com eles, tentei preservar o rasgo na linha do tempo que se firmou naquele momento. 
 O ultimo suspiro me lembrou alguém. O pai de uma amiga que sempre respeitou a minha escolha, hora e outra impulsionava em sua própria maneira o meu futuro incerto. Essa minha vitória não era minha, era puramente dele. A escolha que fiz, os caminhos que percorri, nada faz sentido se não tiver com quem compartilhar, com quem mostrar satisfação, e através do frio da noite olhei para o céu revendo aquele dia.
 "É uma grande profissão." ele me dizia, e eu tão pequeno, tão inocente para vida apenas balançava a cabeça em concordância. Hoje eu não posso agradecê-lo por ser um dos poucos que me viram crescer, não posso receber um aperto de mão e um meio abraço por ter conseguido dar este passo. Hoje ele é apenas lembrança. Acredito que, acredito que se houvesse alguém que realmente faria grande diferença no meu dia seria ele. O pai da minha amiga, aquele que me viu um um grande homem enquanto eu era apenas um menino. Agora sigo a vida com esta lembrança, por um caminho que Jurei-me ir.


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