quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Com a Ponta dos Dedos



 Suavemente eles escorrem por tuas costas, parte branca, macia, suave. Atrito sublime. Os dactilos desenham formas, perpendiculam as costelas, dedilham a cintura e logo as fissuras das pontas elevam os pelos poucos que ali habitam. O riscar das pontas dos dedos continuam, o arrepio serpenteia da cintura até achar teu pescoço e logo os dedos levemente acompanham, a pele eriçada de vontade logo se acalma de prazer e assim vai os breves momentos de nós dois.
 Contorno várias vezes teu umbigo querendo pular naquele poço com fundo que gera as risadas mais graciosas de uma noite qualquer. As minhas mãos, ao teu lado, são sempre inquietas, querem te tocar, te desenhar, dedilhar tuas linhas, contornas tuas voltas, percorrer, escorrer, e tentar acreditar que aquilo é real. 
 Aperta firme, belisca, atiça os nervos, marca a pele. A mão é instrumento de um movimento que diz deixa eu ficar mais um pouco em você, ela mesmo longe conjura um tato que só sacia ao tocar em teu corpo, seja nas mãos, seja em qualquer parte do teu corpo. Ela repousa em ti, como um animal que precisa de descanso após a tormenta, e ela acorda em ti como se precisasse te proteger de todo o mal que possa existir. 
 Essas são as artes do meus extremos que um dia fiquei intrigado a observar. Seria normal? Queria ter o controle sobre elas, bem como sobre a minha respiração quando estamos abraçados, respiramos na mesma velocidade. Simbiose. Auscultar teu coração com a palma da mão mais serena, cobrir-te corpo por conta do frio e afagar teus cabelos para ter um sono mais tranquilo, aquecer tuas mãos e teus pés na horas mais gélidas, tentar enxugar teu suor nos momentos mais quentes, ajudar com livros ou sacolas, abrir tampas e fechar portas... Descobri que as minhas mãos fazem tanto por mim e por nós só pra conseguir, por fim, suavemente escorrer por tuas costas, parte branca, macia, suave.

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