segunda-feira, 20 de maio de 2013

Embriagado.

O sabor da ressaca foi pior do que o esperado.
Primeiro por não ter bebido o suficiente para ficar levemente alcoolizado e passar pela angústia de sentir o mundo rodar, segundo por ter a boca amargada pelos próprios pensamentos jogados de um lado para o outro. As últimas estrelas foram a platéia que eu tive para me engolir em um só golpe, mas não consegui ser tão prático como o de costume, eu estava lento, moroso, demente. Britavam as mãos como uma crônica doença e as mesmas mãos não tinham forma de punhos, não tinham forças de soco, não se apertavam, não se tocavam, não eram nada a não ser uma extensão adormecida que desesperadamente buscavam um calor. Sentado ao alvorecer eu percebi que eu era o único naquela madrugada que não estava bem por estar bem, eu era feliz mas não me sentia assim, contraditório vazio que se preenchia com um sentimento confuso demais para ser rotulado com tristeza, arrependimento, raiva ou qualquer coisa similar. Vi uma retrospectiva projetar nos primeiros raios do sol. Chorava copiosamente sem nenhuma razão, tentei construir um fluxo, um organograma, um gráfico, um nexo qualquer, mas era muito confuso, elíptico, randômico e esporádico. O que me fazia perder o tato mais ainda, a audição era mero zumbido, o olfato era afago das próprias lágrimas e assim nasceu o dia. Seguiu a morte em vida, um fantasma apático desenvolveu as atribuições cotidianas na manhã dominical. Sem sorrir, sem chorar, sem pensar. O leitoso mar era mental, e sempre que alguma memória tentava surgir, ela era violentamente bloqueada per o Síndrome, o que fazia o nervo do super cílio palpitar. Foi a pior ressaca da minha vida. Uma no qual eu não estava preparado, bebi muita felicidade esses dias e esqueci de me precaver com os antissonhos, me joguei completamente ao acaso programado e abaixei a guarda para o comum, para o ser ignorado e comentado posteriormente, esqueci como era ser funcional em uma casual conversa, não lembrei que eu era o ultimo que precisava de afeto. Lutei contra isso que ainda não sei o nome, mas flanqueava minhas certezas de hora em hora, como algo que merecia ser tencionado  entretanto me machucava, não tive coragem em aceitar aquilo. Seria isso uma crise existencial propriamente dita? Poderia ser apenas um choque de realidade, uma saudade de momentos infinitos que nunca tive, um medo de seguir em frente neste ciclo que me surpreende a cada dia, poderia ser tantas coisas que no fim não sei o que poderia ser.
Não prever é pior do que prever o ruim, pois não há preparação, tudo será abruptamente posto, testado e avaliado. Uma das coisas que me deixou sem chão, fazendo-me agarrar em qualquer coisa para não me entregar ao precipício que rachou no âmago, com as mãos sem forças, a mente entorpecida e os pés em descaminho, provavelmente cairei logo, uma queda lenta, serena e silenciosa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Apenas o céu

Foto por @sanamaru O amargo remédio se espreme goela abaixo, a saliva seca e o gosto de rancor perdura por horas. Em vez de fazer dormir ele...