Ainda ontem passou por entre todos, circulando com exatidão aleatória, uma simples bolha de sabão. Suave e multicolorida, ela percorreu todo o ambiente e ninguém a percebeu. Vagava com destino certo, a bolha de sabão que guardava a noite, refletia em sua espelhada superfície toda a vida noturna daquela cidade.
Percebia-se em reflexo mundano todas as conversas, pessoas, lugares, sorrisos, pensamentos, sonhos, tudo fagulhado em esférica improbabilidade brilhante. Flutuou lentamente perante as mesas, como se procurasse o escolhido para estourar-se em inspiração, atravessou o vento forte como se enfrentasse uma multidão enfurecida, subiu para os montes claros do vale de casas que estavam se preparando para a noite de sono. A bolha de sabão deveria estar procurando um sonhador, alguém que a encontrasse e mostrasse que o mundo era possível, um mundo sem tanto mau.
Ela fora procurar seu destino, entre vias escuras, mas ainda assim dava para se ver ao longe o fugaz translúcido universo de simplicidade que trouxe aquela bolha de sabão que não ousou em estourar.
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