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Mayra finalmente se decompôs e fiquei segurando meu coração. Chorei. Chorei não só por estar sozinho verdadeiramente, chorei porque eu sabia que Mayra era eu mesma. Sozinha na infância, sozinha na vida adulta, seguindo o caminho que tem que ser seguido. Mayra me deixou saudade de uma risada boba com ingenuidade.
Depois de tanto chorar abri o olhos e respirei fundo. Parecia que acordava de um sonho pesado. Senti leveza e conforto. Estava na sombra de uma árvore, uma grande árvore, ela posada na beira de um precipício. Bem, sabemos o que acontece quando eu encontro um desses, mesmo que em sonho. A sensação de ter chorado tanto e já não estava tão cheio assim, me deixou observando a grande família que subia na árvore para gravar um vídeo. Eles deveria ser uns quarenta ou cinquenta, o chefe bem declarado era um sessentão com aspectos padronizados, óculos da moda, sorriso de quem venceu na vida. A família toda parecia ter sido saída dele, inclusive as mulheres. Todos brancos, cabelos pretos, olhos claros, ar de gente rica. O chão da árvore era grama seca, tudo amarelinho, a árvore também não era tão verde assim. Com suas folhas largas e grosso tronco, parecia que todo mundo atravessava o inverno.
A família ria e se tocavam com carinho. Abraçavam, se empurravam, se curtiam. Gravando o vídeo para momentos posteriores, a grande família não-consegui-ouvir estava em festa. A árvore tinha apoio firme para subir e descer, quase uma casa na árvore, mas alguns ainda se penduravam nos galhos fazendo pose. Depois de gravar o vídeo, com direito a drone, eles foram descendo, ajudando uns aos outros. Em sincronia, eles desceram sorrindo e conversando e seguiram para os carros estacionados do outro lado da rodovia.
Em nenhum momento alguém olhou para mim, falou comigo ou qualquer coisa. Eles chegaram, fizeram o que tinham o que fazer e foram embora. Depois desses minutos observando-os, voltei a contemplar o abismo. Não tinha forças para levantar ou só não queria. Parecia que estava tudo no seu devido lugar.
Finalmente.