quarta-feira, 18 de outubro de 2017

O ângulo era perfeito, mas nós não.


E a foto foi tirada diversas vezes, sempre ficávamos bonito nelas, mas a gente nunca ficava com nenhuma. Tinha algo maior que nos montava e nos arrancava da mesma maneira. Até que desistimos e paramos de tentar. O vento passa por entre a gente afirmando que já é hora de parar. Nossos corpos fixam estátuas esparramadas pelo concreto, ficamos ali deitados, olhando as nuvens de sempre, indo e vindo, como pessoas, como nós dois ontem e amanhã. Parece que não há mais mágica entre nossas conversas, não há sabor no nosso gosto. E principalmente, nossos hobbies ficaram ultrapassados. Fotos, vídeos e rabiscos. Tudo apagado da memória dos apetrechos. Você diz que não vale a pena guardar aquilo se já nem se importa com mais nada. Eu observo, fico me perguntando se a tentativa de poses minutos antes era para você afirmar para si de que algo estava errado ou se era só uma tentativa. Estamos no shopping, olhando vitrines e valores, passeamos por entre monumentos gigantes de proporções cinematográficas, você não me espera, só vai pegando as peças da vitrine e colocando nas costas. Tudo se gruda e faz te parecer caracol. Você ri, você fotografa, você fala nomes de todas as pessoas que você ama. Meu nome não é emitido, ninguém ousa nem olhar. Chamo por ti e tudo desaba. É noite e a areia coça meus pés, faz frio mas estou bem, sinto o meu corpo dormente, pois estou morto. Estou morto e vejo as estrelas no céu negro de outubro, as ondas me embalam para que o sono eterno seja tranquilo. Sei que você da areia me vê, mas continua a fumar para ficar brisado, o acampamento será por todo o fim de semana, tem bebidas, maconha e muitas histórias de praia e cidade. Você se encaixa perfeito nessa ilusão marota de que a vida é apenas isso. 
Acordo. Outro pesadelo depois de uma sensação noturna de invasão. Sei que foi um sonho ruim por acordar ofegante, me vejo sentado, ensaiando como voltar a dormir sem pensar no que sonhei. Não consigo esquecer, então picoto papéis até cair no sono novamente, a cada rasgar de papel digo algo sobre mim, desabafo sobre meu pedaço de chão esmeril. 


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