quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Hoje é meu dia de sol.


 Hoje eu senti o sol pela primeira vez em anos. Parece que os sabores do raiar foram perdidos nessa pesada época de chuva. A coceira que branda a pele me traz uma sensação de plenitude saudosista. Eu não sei se vou te ver mais tarde, mas eu vou ao teu encontro, enquanto o dia estiver claro, te acostumando numa vida mais comum. Você quer que tudo aconteça? Meu braços quentes serão teu descanso da turbulência, minhas pernas mornas abriram a imensidão do teu desejo e a brisa perdurará por inquietas infinitudes. Hoje será meu dia de sol. Vou clarear as nossas tristezas, um raio ao estilo power rangers ultra, que obliterará toda a mágoa, tristeza e solidão. O raio do sol será o meu farol resplandecente, captando e jorrando a magnitude do calor que é acreditar que tudo vai dar certo. Um dia de cada vez. A escuridão acontece para sabermos dar valor ao dia, e um rege o outro em idêntica contrapartida, feito elementos chineses de equilíbrio. Preciso que você entenda essa parte da vida, de que tudo não é um mar de rosas, que coisas acontecem e que tudo voltará a ficar bem se houver o entendimento correto. O calor chegou e já percorreu o meu corpo, sinto a vida emergir, sinto a alegria de dançar ao som do vento, da rua, de tua risada nua, despida de qualquer intenção cicatrizada. Sinta minha pele, cheire o meu sabor salgado que se projeta no embalo da emoção, pularemos ondas de contraditório, faremos trilhas sinuosas até chegar nas cachoeiras da calmaria. O Risco me diz que as cicatrizes estão latentes, e não colocarei sal em tuas feridas, nem te empurrarei para o mar, nada disso. O Risco que me guia hoje não tem nenhum sentimento além do acreditar, da confiança e do querer. O lampejo da dúvida acontece hora ou outra, surge um medo particular das criaturas que se espreitam por entre nós, ouço rugidos, ranger de dentes e tambores. E sem você eu não irei conseguir seguir adiante. O magma pode ser o chão a qualquer momento, e estarei pronto para te dar a mão se houver desiquilíbrio, se houver tontura, e se eu quiser pular, encantado pelas cores da morte certa, por favor não me largue. Me traga pra junto de ti de maneira verdadeira e forte. Forte. Assim é como o sol que se explode lá no alto, nos convidando a travessia deste momento de mudança. E para mudar, algo deve morrer e algo deve nascer. Não necessariamente em contraponto, o bem morre para que nasça o mal, ou o ruim morre para que nasça o bom. Não é assim que a vida nos mostra ao passar do tempo. Algo morre, para que algo novo e único nasça de uma maneira inteiramente nova, para ser cultivada com as premissas passadas, mas com a glória de uma nova perfeição. Não criamos os filhos para que sejam nossa cópia fiel, nós criamos os novos seres para serem a melhor versão da nós. É estranho e até mesmo injusto quando somos indagados para sermos melhores. Se eu já acho que sou a minha melhor versão, como ousa dizer que tenho que ser melhor que isso? Bem, todos dias temos a oportunidade única de sermos melhores, mais amáveis, mais pacientes, mais ativos, mais úteis, mais e mais... e muitos menos também surgem, menos egoístas, menos opressivos, menos desatentos... Todo dia que nasce é um novo dia para começar algo novo dentro de algo que já começou. Dia de abraçar mais, beijar mais, querer mais, suar mais, rir mais e ser feliz por mais um dia. Hoje é o meu dia de sol, e disse isso quando acordei, como um mantra sagrado da Indonésia, disse que tentaria ser uma pessoa mais justa, mas amável, mais fiel ao meus valores. Caminhando aos poucos, talvez eu consiga uma nova permissão para entrar em teu castelo, lugar que eu deixei por ter medo de amar. 


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