domingo, 18 de junho de 2017

Peguei estrada ao amanhecer.


 O dia ameaçava acordar enquanto nos preparávamos para partir. Era quase cinco da manhã quando olhamos para a vida fora de nós. Tudo aqui se repetia de uma maneira não-natural. A mesma noite em forma de comemoração que se prolongou, arrastando-se para laços eternos. Talvez você nem lembre disso por agora, mas eu não me escuso de nada. Os passos foram dados bem conforme o mesmo contexto. O ambiente, as pessoas, a iluminação composta, os livros moldados, as cores do céu e a inexplicável maneira destrutiva de dizer adeus. Sempre me vejo padronizando os acontecimentos, como forma de autoproteção. E, como sempre, comparei tudo o que houve conosco, e os motivos pragmáticos para te dizer, caso eu tenha chance, que dessa vez não farei diferente. O fim já é tão esperando quanto um clichê de Hollywood.
Aí você deve se perguntar: será que vale a pena passar pela mesma coisa? Será mesmo que é a mesma coisa? Quais os riscos, perdas e ganhos?
Bem, eu sei que eu me perguntei muito. Me perguntei até ir dormir novamente, passando-se quase 40 horas desde o último sono e, devo te ser sincero, ainda não sei o que devo responder a si. Ontem, infelizmente, me vi olhando fotos antigas, memórias que gosto de esquecer, mas não completamente. Vi umas gravuras de um tempo que acreditei que poderia me apaixonar, amar, sentir saudades e tudo o que um coração normal faz. Vi umas imagens do teu reflexo, vi teu sorriso, tuas cores, teus apetrechos e me vi junto. Vi uma vida que refletia a tua perfeita ordem, logo depois vi a destruição de um reflexo mágico. Me vi jogado de volta a vida sozinha e sem cor que é a minha vida de fato, e isso é o mais normal de mim, uma imagem que não reflete nada além do próprio vazio. E, assim como as ruas daquele dia, vazias e preguiçosas, foram as ruas desta ultima noite acordado contigo. Vi que não buscava mais o teu jeito de olhar, o teu toque grosso, nem tua cantoria rubricada. 
 Eu poderia te dizer tantas coisas, coisas sobre mim, coisas sobre ti, coisas sobre nós, o mundo, tudo, o passado rasgado, o futuro pendurado, eu poderia te dizer tantas coisas. Seria mesmo justo, revelar tanta bagunça em troca de duas horas de conversas infinitas e olhos que mudam de cor?  


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