quinta-feira, 8 de junho de 2017

O dia histórico.



[Texto perdido, pedaços encontrados]
 Hoje, sete de junho, o dia histórico deste ano. Bem, ao menos, até agora. O dia de férias, aquele dia perfeito, mesmo que pensando que não seria tão bom assim quando saí de casa, o dia que ficará nas nossas mentes e fotos para sempre. Um dia inesquecível. Muito sol, areia quente, risadas motivadas, praia convidativa, bebidas e cigarro, brisa. E claro, ao lado de pessoas que gosto infinitamente, e a cada dia agradeço por tê-las ao meu lado. Um dia que eles lembrarão como história, como marco de que após tanta chuva, problemas, a tempestade uma hora finda e estaremos juntos, para compartilhar nossas desaventuranças. Você lendo assim, me diz se não dá uma ponta de inveja, dá sim que eu sei. O dia histórica, com alegria e festividade foi para outra pessoa, não para mim.
Eu não sou esse tipo de cara que tem esse tal dia histórico que clareou teu dia. Não, não. Meu dia histórico não teve nada a ver com isso. Na verdade, esse marco crucial de sete de junho poderia ser deflagrado como dia de luto. Quando a criança interior foi brutalmente assassinada, um infanticídio esperado pela vida adulta, mesmo que pensando que não seria tão bom assim quando saí de casa, e olha, não foi nada bom. O pesar matinal que esfria o peito logo ao acordar é tão conhecido quanto a angústia que repousa no travesseiro. É aquela conhecida sensação que carrego desde o começo do ano, uma frieza ao acordar, dores pausadas e vontade de ser ninguém. Arrastando pelo dia de mudanças significativas, percorro os corredores nublados, o transporte demora como costume, o céu de amianto me acompanha, o nevoeiro na laguna me precede, o torrencial marasmo da vanguarda se torna presente e aos poucos o dia vai se passando. Um dia que ficará na memória, do mesmo modo que o caminho de volta às práticas de solidão. As ruas de casas pobres e pessoas sujas me atraem, ando por vielas e terrenos baldios, esbarro em coisas e pessoas, me lembrando do caminhos que passei a pegar em setembro do ano passado. O vento gelado continua tentando me aquecer de maneira truculenta, averiguando se estou mesmo certo de que não esquecerei do dia de hoje. Moribundo como minha vontade de continuar, vejo pessoas que poderiam ser meus vizinhos. Cumprimento um e outro como uma pessoa cordial, forçando sorriso complacente. 
Desistindo de maneira sensata, volto ao trilhar caminho para a problemática. Vejo que a insistencia em continuar vem de pessoas que fecham a porta na minha cara. 

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