terça-feira, 15 de novembro de 2016

Quando bate aquela saudade.



 E aconteceu de novo.
 É uma droga quando a gente não quer lembrar de alguém e acaba fazendo, assim, tão naturalmente.
 Se eu disser que lembrei só de você eu estarei em exagero, na verdade lembrei de nós dois. Lembrei deles também. De tudo ao nosso redor. Acho que você nem lembra de mim, então não perguntarei se tu lembras do que eu vestia naquele dia, do que comemos naquela noite, ou se comemos. Não quero saber nada disso.
 Não sei nem porquê lembrei disso.
 Já esqueci.
 Eu tenho uma vontade grande de te ligar e perguntar se tu lembras de mim ainda. Lembras?
 Maldita seja essa saudade de coisas tão pequenas. Como se atreve a tirar isso de mim? Eu via aquele programa sozinho antes de você, agora eu só lembro de você comentando o quanto é fútil assisti-lo. E que, muito provavelmente, você ainda seja viciado nele.
 O que será que acontece às pessoas que não vemos mais? Será que elas estão bem? Tipo, agora mesmo, será que aquela raiva passou? Será que a tristeza foi embora? Será que os beijos roubados de um sábado à noite continuam? Vai ver nem existem mais.
 A primeira coisa que muda quando a gente termina é o futuro. Parece que tudo se torna parte prolixa de um amontanhado de memórias. A digital de muitos acontecimentos se projetam, se protegem, se vão e voltam como se nada tivesse acontecido.
 Ao ouvir uma música a gente se arrepia porque uma memória é ativada. Você se arrepia ouvindo o quê?
 Quando o arrepio escorre pelo braço, algum momento nosso também vem? Aquela sensação de prazer ao suspirar fundo ouvindo um clássico ainda conforta as noites ruins? Esquecer o que não importa é tão grande quanto maltratar batatas fritas no potinho de ketchup?
 Ah, aconteceu de novo.
 Sempre nessa parte da música.
 É fácil identificar que isso me traz algo, mas o quê? Ou melhor, quem?
 Fico com uma saudade apertada sem saber o que dizer.
 Melhor nem falar nada, só sentir mesmo.
 Ouvindo aqui, um passado tão meu.

Um comentário:

  1. ""Quando um poeta se encontra sozinho
    num canto qualquer do seu mundo
    Vibram acordes
    surgem imagens
    soam palavras
    formam-se frases
    Mágoas: tudo passa com o tempo
    Lágrimas são as pedras preciosas da ilusão
    Quando surge a luz da criação no pensamento
    Ele trata com ternura o sofrimento
    E afasta a solidão""
    (trecho de Quando bate uma - ou aquela?- saudade, Paulinho da Viola)

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