quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Raízes


 Os dias se findam em descontento, acordam em esperança e regam-se por várias vezes contínuas de esmero ou desdém. Assim são os dias de invictos e pérfidos. São maldições e bençãos sistêmicas que deságuam em apenas mais um dia.
 Talvez hoje você não entenda ainda o porquê que as pessoas vão embora. Talvez ainda tente criar o pensamento reacionário que vigora em desculpas e mais desculpas, em culpa, em mágoa, em raiva, em próprio mal/bem-querer.
Assim são algumas pessoas.
Hoje, dia de pão de mel.
Hoje, dia de fome.
Hoje dia de correria, calmaria, pulsação, dilaceração, causa mortis, perdizes, algozes, marimbondos, incompreensão, trauma, estopim, conclusão, vertigem, calos, discórdia, amores ínfimos íntimos quase que tontos e certeiros, capazes de lograrem a maior maravilha de todas as proezas qualitativas de quantidades absurdas de vontade, sensatez, fim.
Todos os dias tudo acontece, morte e vida severina. transcrições de universo, de deus e do diabo.  Todos os dias acontecem todos os dias.
E você onde está?
Crie a perfectivação da indignação.
Questione, considere, irreleve, questione, considere, releve.
Ciclos são paradigmas contemplativos de qualquer cerimonial. Seja na vida ou na morte, seja pelo contraste ou por mero querer. Ciclos são feitos de atitudes e ética, moral e vida.
Hoje é dia de fogla, dia de trabalho, dia de... de... dia de quê?
O que tem o teu dia?
Hoje não é mais um dia. Hoje é exactamente aquele dia. O dia que que você deixou passar tudo, deixou de lado, deixou pra lá, deixou pro depois, deixou pro nem quero mais. Hoje é dia do agora, da vida, da emoção, da exatidão voraz que você é.
Os pés soltaram faíscas quando você lambeu o vento com as palmas dos pés. A velocidade de correr livre é tão libertadora quanto se drogar, porém mais saudável até. Liberdade está dentro da cabeça. Isso não é baseado, não é sintético, isso é uma verdade sinalagmática.
Quando você está no hoje, no agora, na vida incrível e sem tempo para estapafúrdia, quando você perceber que os valores que enraizaram na alma é mais importante que a moeda. Aí, finalmente vai entender a beleza das tuas raízes, da tua história. Todo ser no universo é único, é perfeito pela sua própria natureza e passivo de compaixão. Compaixão. Palavra que quase todos esquecem o que é, de onde vem e pra que serve. É daí que surge a ajuda, o impulsionar e a esperança.
Quando se tem raízes, tem-se junto um sistema próprio de conceitos e percepções que não cabe julgamento. Cada ser tem seu próprio método de caminhar, avaliar e merecer. Não se preocupe em ensinar ao outro como ele deve ser. Dicas e sugestões são bem-vindas quando queridas, não avança etapas, não pule obstáculos. Sempre derrube as barreiras que te prendem, pois sem essa energia é impossível continuar.
Tenho raizes, sou fluida. Este é o contraponto que as pessoas devem viver. Não esquecer sua própria história, não ter vergonha da sua vida, das suas escolhas e sempre aprender com as possíveis mudanças. Mude. Não permita Deus que morra sem que volte para lá, a alma tem palmeiras onde canta o sabiá, o conforto em minh'alma deve ser resoluto. Um involucro único onde capture as certezas e reze em si.
Não tenha medo de fincar raízes nos céus. A crença no melhor também é importante. Nunca esqueça de agradecer aos que merecem, de ignorar os sem coração e de olhar com compaixão os que precisam. Aceite os defeitos que nascem contigo, conosco, comigo. Verás que é bem mais fácil saber onde regar quando se sabe o tamanho de nossas raízes. Alimente o bom, negue o mal, questione sempre o duvidoso.
Hoje é dia de final.
Fim de hoje, fim dos tempos, fim.
Hoje também é o início de um novo tempo.
Tenha raízes, seja fluida.
E quando não souber o que fazer, leia.



sábado, 24 de outubro de 2015

A dor e a beleza da escrita.


Carlos Drummond de Andrade, em uma de suas cartas para sua filha, Maria Julieta, a aconselha:

“Escreva minha filha, escreva. Quando estiver entediada, nostálgica, desocupada, neutra, escreva. Escreva mesmo bobagens, palavras soltas. Experimente fazer versos, artigos, pensamentos soltos. Descreva, como exercício, o degrau da escada do seu edifício (saiu um verso sem querer). Escreva sempre, mesmo para não publicar. E principalmente para não publicar. Não tenha a preocupação de fazer obras primas; que de há muito já perdi, se é que um dia a tive. Mas só e simplesmente escrever, se exprimir, desenvolver um movimento interior que encontre em si próprio sua justificação…”

Belo conselho, que de um carinho ofertado a Maria acalentou tantos corações inquietos. Na ânsia de significado pela vida, muitos afundam, outros tomam um pouco de fôlego na bordinha da piscina, pegando ar, papel e lápis. O ato da escrita, por si só, já é um exorcismo. Quando não, uma tentativa de realocar e elaborar dores, perdas e alegrias. A dúvida surge e lá está o escritor, com um comichão no coração e uma caneta na ponta dos dedos.
"E se eu não souber escrever?" Mesmo assim rabisque. Linhas, frases, palavras desconexas. Que mal tem? Ver os sentimentos exteriorizados, seja na tela ou no papel, no mínimo alivia. Se mesmo assim não houver descanso, vai lá e faça de novo. E de novo. Até acalentar a alma e adoçar os sentidos. Por mais que sangre, remexa lá no fundo o que nem os seus ouvidos conseguem ouvir. Apesar do medo da entrega, é isso que salva muitos da loucura ou de assustadores demônios que insistem em rondar os dias.
O trabalho de criação é um mergulho no inconsciente, a junção dos caminhos percorridos e dos atalhos que ainda sonhamos em trilhar. É a entrega de uma pessoa despida de pudores, manchada pelos dias e remexida por delírios. Se você vasculhar nas tensões, tragédias, rancores, esperanças e nas fantasias incontáveis até mesmo para o analista, está um (ou muitos) texto(s). Angustiado por não conseguir expurgar tudo isso para a folha?
Se acalme. Ler é o alimento para a escrita. Já já as linhas chegam até você. Até lá, pratique. Diariamente. Nem que seja um vômito qualquer. A peneira vem depois, assim como o processo de modelagem. Tome notas e transborde literatura. Um livro ou uma crônica são, por vezes, o momento de tomada de consciência do autor. Ali ele se apropria do que antes somente pulsava em si mesmo. Por mais respeitado, renomado e brilhante que seja um escritor, o próximo verso é sempre uma incógnita. E que lindo é ser aprendiz da própria história. E das entrelinhas em que moram personagens e vidas.
Escreva todo dia (sim, eu me repeti). Começando agora você estará mais perto do que estava no exercício de lapidar a matéria bruta. Esta que sai de ti, alcança a folha e precisa ser esculpida. Se tomou forma, é que foi purificado. E sortudos são os que das feridas alcançam a catarse.

Por HILANE TAWIL

domingo, 18 de outubro de 2015

Quando eu partir.


O tempo está chegando ao fim. Chegará o momento em que nada mais existirá além do infinito, e quando este dia chegar não fique triste. Lembre da felicidade que te fiz presente, lembre daquele dia que rimos sem parar, das noites que apontamos para as estrelas e contamos como elas chegaram ali, quando eu partir não levarei comigo nada além da minha própria esperança de te ver crescer bem, viver uma vida continuada, com tantos ritmos e batuques que só a Terra tem. Não fique triste por pensar que tudo acabou, fique triste para depois ficar calmo, ficar sereno porque tudo valeu à pena. Todas essas nossas andanças, nossos pulos, corridas, todas essas filas, esperas e remarcações, todas as reprises, replays e loopings variados de informação. Nunca esquecerei o dia que nos conhecemos, de toda aquela simples confusão que se dá no segundo encontro, de tentar disfarçar a indiferença, de dar valor às tuas coisas favoritas, de relaxar no meio de um tormento. O bem mais precioso que exite é o próprio tempo e só a gente pode dar o valor que ele realmente merece, viver as nossas vidas de forma humanitária e bem-viver o ambiente, encurtar distrações, alongar jornadas. Abraçar. E mesmo quando eu partir, sempre que fechar os olhos eu vou te sussurrar "vivemos em um mundo de possibilidades".
Perdoe a forma brusca, mas a vida é um grande livro onde uma hora chega ao fim. Epílogos e finais. Daí você se pergunta: como está sendo o seu incrível conto? O meu, posso ousar em dizer, foi inesquecível.

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Alvorada



Era um novo dia, um outro dia, um dia de alvorada. Sol que nascia, sem saber o que viria, o que veria, o que viveria. Outrossim, outro não. Nuvens compostas marchavam em prol da vanguarda de trabalhadores hesitantes. Marcas de sono perpetuavam os primeiros cumprimentos, e todos, todos eles saudavam a alvorada. Morada de colibris. 

terça-feira, 28 de julho de 2015

Ο Λευκος Πυργος


Faz quase um ano desde que proferi o nosso adeus. Lembro como hoje, levantei mais cedo do que de costume pelos motivos de sempre, aproveitar ao máximo cada nova experiência. E, assim como se nada fosse acontecer, fui acordar o dia. Abracei-me do frio daquela manhã de quase pós inverno, via da janela as árvores franzinas e polvilhada de branco. Uma fina neve cobriu a cidade a noite toda, protegendo tudo da escura noite, ela mesmo tinha preguiça de acordar tão cedo. O café suspirava em vapor, quase o mesmo da minha respiração, uma fusão simples que dizia Bom Dia. 
E preguiçosamente o dia foi acontecendo no hemisfério norte. A baía lá longe mostravam os barcos partindo para o novo dia, enquanto os vindos da noite descarregavam o peixado. Era meu ultimo dia nas terras do berço da sociedade e, no fim das contas, eu não aprendi nada sobre Estado ou Poder, mas vi muito de uma sociedade bem parecida com a minha. 
Quando você acordou eu já estava mais que pronto. Já tinha comido, tomado banho, me trocado e arrumado as malas. E foi com o olhar nas malas prontas que você suspirou fundo. É, era meu ultimo dia nas terras de Poseidon. Uma hora ou outra tinha que chegar, não havia mais motivos para eu continuar essas férias tão longas. Eu estava muito ansioso na verdade. Não por deixar tudo novo para trás, ou dar adeus aos 17 primos, 20 tios e tias e mais agregados que uma mini colônia de bactérias. Todos cantavam, abraçavam, riam, e me cuspiam para afastar o mau olhado. Recebido de presente os potes de melhor mel do mundo, coloquei na mochila, amarrei na mala e montei na moto.
Já era a terceira viagem daquela manhã, e praticamente a ultima. Pedi que meu retorno fosse de barco, e que meu voo fosse o ultimo, não queria voltar para a capital de avião ou metrô. Queria ir de barco. Ir para uma cidade litorânea e não navegar seria como ir ao parque de diversões e não comer maçã do amor. 
Desci na outra ponta do píer, dava para ver o grande castelo, eu já tinha passado por ele ao visitar os guarda-chuvas, mas preferi não entrar. Foi aí que eu acabei por esquecer de visitá-lo. Bem, quem sabe numa outra hora? Ventava muito e o mar estava revolto. Era o fim do inverno dizendo que ainda estava ali, e eu também estava, nós estávamos. Sorri ao pegar minha bagagem, você ainda estava com aquela cara triste. Sei que parece difícil, mas eu já tinha falado que isso ia acontecer. 
Nos abraçamos então. Demorado. A ressaca batia violentamente no quebra-mar, fez chover o mar em nós. O frio garoava. E continuava demorado. Pensei em dizer alguma coisa antes de pegar a condução e finalmente meu barco. Mas não consegui pensar em nada. Não era adeus, ou obrigado. Não era um despedida, era algo tão mais que isso, e tão bem menos. 
Nos fintamos e o semblante mudara, sorriu. Timidamente. Um canto e depois o outro. Os dentes não felicitaram, mas a lágrima disse silenciosamente "foi muito bom passar esses dias contigo" e ao enxugar ela com a ponta dos dedo veio aquele olhar dizendo "fica mais um pouco", o abraço dessa vez foi rápido, foi um "okay, pode ir agora".
Respiramos fundo, assenti. Peguei minha bagagem na motocicleta, ajeitei meu casaco e antes de virar para nunca mais voltar, sussurrei: καλημερα.
Não acenei de volta, não olhei para trás, não chorei, não fiz muitas coisas de adeus naquele dia. Minha volta para casa ainda não tinha fechado o ciclo da experimentação, e talvez nunca se feche, pois no fundo a gente sabe que o que é de verdade fica para sempre. πάντοτε.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

E se eu morresse agora?


E se eu morresse agora?
O que eu teria feito para me orgulhar?
Será que eu sairia daqui feliz por tudo aquilo que já fiz, ou sentiria vontade de fazer algo a mais?
Talvez eu quisesse realizar algum sonho...
Talvez eu tivesse algum sonho...
Quem sabe até eu tivesse deixando para amanhã muita coisa...
Eu sentiria saudade de muitas pessoas, mas não sei quem sentiria o mesmo por mim.
Não sei se chorariam pela minha ida, ou se pelo menos eu tinha dado motivos, em vida, para que quisessem chorar com a minha ausência.
Eu lembraria de tudo o que já fiz, de tudo o que já senti ou deixei de sentir.
Lembraria das vezes que sorri por alguém, dos momentos em que chorei, das vezes que odiei, da alegria inquietante das vitórias, das chances que desperdicei pelo medo, da sensação única do erro, da angústia repentina que às vezes surgia...
Lembraria das vezes que quis fazer besteira, e das vezes em que fiz besteira.
Eu lembraria dos meus sonhos.
Lembraria que tinha vontade de não ser como os outros, de fazer a diferença de alguma forma.
Se eu morresse agora, eu ficaria mal por não poder fazer mais nada, por simplesmente me lembrar do meu passado e ter que deixar as minhas vontades para trás.
Talvez eu saísse daqui sem ter sido sincero com as pessoas...
Sem ter dito o quanto eu gostava de algumas e o quanto eu não gostava de outras...
Quem sabe eu me arrependesse por ter perdido tempo com coisas insignificantes, comparada com a grandeza de outras coisas que eu poderia ter aproveitado... 
[E se eu morresse agora?]

Carta ao meu ex.


Querido ex,
Tenho que lhe contar que me apaixonei de novo. Mas por favor não interprete essa frase como se eu tivesse deixado de pensar em você. Apenas saiba que optei por tentar acreditar em meus sonhos outra vez. Sei bem que você irá olhar meu próximo amor e sentir ciúmes, não por eu ser perfeita, justamente pelo contrário, sabe bem dos meus erros, defeitos e imperfeições, mas sei que você olhará para ele e saberá que é o novo dono do meu coração, que terá sorte porque é meu o bom dia que ele recebe todas as manhãs, será das minhas brincadeiras que o sorriso dele virá fácil e rápido em uma tarde qualquer, você saberá muito bem que quando começar a chover forte, é para ele que ligarei por medo que a luz acabe. Você lembra como eu tenho medo do escuro.
Eu te peço, não me incrimine, me julgue ou tão pouco me crucifique por começar a gostar de alguém. Ao contrário do que muitos imaginam, eu sempre faço a opção de viver o presente. Gosto de pensar que ninguém entra em nossa vida por acaso, a verdade é que penso que os acasos são quem nos escolhe. O acaso sabe bem como cuidar da gente, mandou me você quando precisei de um abraço, mandou me outros quando precisei de atenção, quando foi necessário crescer em meio a escuridão. Talvez você não saiba, e eu nunca tenha te contado, mas o amor, querido, é um dom. Amar é para os fortes, para os corajosos.
Lembro me com clareza de cada pessoa que passou pela minha vida. E sabe de uma coisa? Ninguém se foi sem ao menos deixar um sorriso guardado aqui comigo. Por isso eu te digo meu bem, sou a junção da alegria com o amor e a esperança, pois cada um desses itens define a vida de quem acreditou em cada momento na sua devida singularidade, que deu as mãos sem medo do amanhã ou receio do ontem. 
Por isso querido amor, eu te peço novamente, por favor, não me julgue quando eu começar a andar de mãos dados com um estranho na rua, eu apenas me dou a chance não de te esquecer, mas de reviver todos os sorrisos que foram perdidos ou esquecidos em uma esquina qualquer.
Querido, foi por um sopro da vida que o coração do meu avô deixou de bater, mas não será nem por uma ventania toda que o meu deixará de amar e acreditar em verdades utópicas.
Lembra daquela canção que tocou no rádio do seu carro? Pois é, ela é a definição do eco que existe agora no meu coração.
“Amor, meu grande amor, só dure o tempo que mereça E quando me quiser que seja de qualquer maneira Enquanto me tiver, que eu seja o último e o primeiro E quando eu te encontrar, meu grande amor, me reconheça (...)”
Essa carta não significa que deixei de te amar, significa que resolvi aproveitar todas as nossas lembranças e me amar. Me despeço de você, mas saiba que nunca te troquei, apenas fiz o que era do meu direito: Amei outra vez.

-Marina Zotesso

domingo, 26 de julho de 2015

Eu disse corre...


O tédio dominical já fazia parte de mim desde a metade da semana. As cores dos dias e das noites tornaram-se um grande borrão. E mais uma vez, mais um desamor. É inverno no hemisfério sul, e as pessoas continuam se vestindo para o verão. Elas querem ver o calor humano na verdade. Isso é bem simples de perceber, mas porquê as cores também?
A força voltou, acho que ela também tinha ido à praia. Domingos são assim: praia, família, churrasco, shopping, família, fantástico. Meu domingo é assim: nada. Não que me falte coisas para fazer, não não. Há uma pilha de livros não-lidos, músicas não tocadas, papeis ainda em branco. E claro, muita matéria para revisar. Mas, continuo vagando entre o preto e branco. 
Quando a energia voltou, foi aí que decidi levantar, eram umas 15 horas ou algo assim. Só percebi que já era tarde quando o relógio sentenciou, por mim ainda eram 4 da manhã. Para finalizar a tarde com desdém, pensei em visitar as páginas locais e olhar o movimento na rua. E bem, foi aí que tudo começou.
Não que seja uma coisa extraordinária, entretanto, algo mui incomum por sinal. Tudo começou quando eu clamei pelas luzes. Elas mesmas. As luzes de outrora. Tudo começa como um ritual, ainda que pareça por acaso, sempre há fragmentos que sempre se repetem, e dessa vez não foi diferente.
Responder emails, olhar o clima da semana, tendências do mercado, datas de aniversários e por fim, mensagens. E estas ultimas já faziam lista, fui do mais simples ao mais complexo. Atendi aos chamados, até o curioso encontro da música. E como qualquer coisa na minha vida, de início não dei muito valor, apenas respondi. Não conectei o nome à pessoa, a pessoa ao ambiente e o ambiente à minha vida; um fato deveras curioso entre a Letra e a Música onde, claro, não passou de alguns contados minutos de conversa.
Há quem diga que o mundo é feito de amor que se busca e amor que é buscado, entre terminantes e terminados, entre o dar e o receber. Bem, essa dicotomia yin yang não me parece nada interessante em discutir. Me lembra muito religião, e desse tema eu margeio para longe, não pisando em ovos. Sei que parece cético o suficiente para você lograr êxito e rir bastante, porém não vejo mais que necessidade humana nesse tal momento.
Também posso ser fantasioso o bastante e sugar toda a essência de criatividade e cores, cheiros e sons que não vejo faz um bom tempo. Essas coisas chamadas apenas de amor, que evapora ao despertar. 
O ser humano é bicho previsível e dificilmente se surpreende. Mas quando acontece, aquece o peito por um bom tempo. E, embora eu te diga para não se empolgar por tão pouco, também te digo para aproveitar o máximo que puder. Isso mesmo, aproveite todos os momentos antes do fim. Quando esse fim chega, meu caro, é tão triste que deixa um gosto amargo de derrota. Não é possível viver plenamente em um dos lados, como um Yin Yang puro, sempre haverá uns pontos intrínsecos.
E quando você pediu pra ir embora, eu disse corre! Cada um sabe o que é melhor para si, ainda que passe por momentos ruins, dificuldades e dias de monocromática solidão. Deixe seu pensamento fluir, as pessoas agem para que o mundo não pare. A vida acontece, e quando se der conta, estará por um triz. Por um triz. E nada mais vai importar. A vontade de lutar por aquilo que acredita será impetuosa. Você derrubará todas as barreiras, passará por todos os problemas como uma flecha destemida, mas nunca terá plena certeza se o que faz é certo ou errado, porque sempre estará por um triz.

Tamanho médio para dois.


E eu desejo tanto que ele pare, mas via de regra segue em frente. Pergunta em curioso afeto. Não quero falar muito, alimentar uma propensão marginal ao gostar irracional. Não consigo parar de falar, é um clima estranho. Minhas têmporas exprimem joguetes de coesão, meu coração almeja uma alimentação romântica e meu corpo, ah meu corpo... Este já não resiste, fica estático com furioso movimento de criar. Acontecer de fato tudo aquilo que se constrói em mente, uma facilidade remota de esperançar, igual ao respirar. Tácito e profundo. A fonte com certeza é platônica, como eu poderia resistir? 
Não é todo dia que alguém se interessa por você. Não de forma ao parar e se descalçar. O timbre impacta o vento e sibila em contemplação ao infinito minimalista. Um simples "olá" ecoa como oração. Repetida sacramente pelo singelo mecanismo que o corpo tem em perpetuar a bondade. A resposta não demora, mas é carregada de "me traz um café?". Ninguém gosta de ouvir problemas, mas todo mundo gosta de dividir os causos e causas. E é nessa conversa contextualizada que o formalismo vai se fazendo barreira, o informal é saudade, e a linguística é um mero encontro fatídico de acasos. 
Em breve vamos nos ver, compartilhar, multiplicar e viajar. E sempre perguntará: açúcar ou adoçante? 
Respondo: Agosto.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Cerúleo


Fragmentadas nos cantos do céu, elas permaneciam brilhantes. Pequenos pontos azuis. Observei sem me preocupar onde eu estava, quem eu era, aonde eu iria. Fiquei ali. Contemplei os céus e a cor que dele brotava. Todo o ambiente se inundava em calmaria que perturbava. Algo dizia que era mais uma vez, talvez a ultima, que as cores do mar iriam invadir meu eu.
Pode parecer um pouco triste, porém a iluminação combinava com tudo. Decorava bem ao se derramar pelas paredes, riscava calculadamente os armários, fazia as letras dos livros boiarem confortavelmente. E a mim... Bem, eu era só um corpo. Enrijecido pela vontade de não ser nada nem ninguém, e era exatamente isso que eu eu ali. Nada além de um ponto azul, em imensidão profunda e azul. 
O gelado chão que aquecia minhas costas foi ficando distante, era hora de seguir em frente. Pouco salutar é o desejo de mudança, mas alguém tem que fazer alguma coisa. Não adianta ficar na zona de uma só verdade e esquecer por um momento que nada existe. Porque tudo continua a acontecer. E eu preciso acontecer. Foi então que, ainda sentado em lótus, abri os olhos e capturei toda a luz para dentro do ego. Pereceu a carne, firmou-se a perspicácia por outra vez.
Não importando quantas vezes mais eu volte aqui, sob a cor da perpétua da certeza, eu estarei livre para lutar por aquilo que ainda não teve vez. A coroa não vai cair, ela será derrubada. Será violentamente jogada ao chão, toda a mediocridade cairá junto, por terra. Rápido e vorpal. O ataque com a inteligência nunca deixa transparecer, meio ironia, meio destino. Ninguém nunca saberá o que aconteceu, apenas verão a ascensão do justo.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Na manhã do primeiro dia.


Acordando como um animal, cacei com os olhos por algo irregular. As janelas recebiam o calor do sol, as cortinas dançavam ao convite do vento e eu... bem, eu começava a entender que a dor de cabeça era apenas parte de tudo, não só consequência de vinho barato. Levanto com o gosto amargo na boca, gosto de ferro. A cama revirada não seria a melhor descrição para o furacão que deve ter passado por aqui ontem, os lençóis parte no chão, parte na cama, tem livro jogado, papel de parede rasgado, e a minha cabeça apenas dói, pulsando para que eu não tente lembrar de ontem. Aspirina, é isso que ela quer que eu lembre. O pisar no chão é modesto, sinto um calor diferente, como se o carpete abraçasse meus pés, tão macio que dá vontade de se esfregar todo nele.
O pijama já era, só tento vestir alguma coisa porque me sinto vulnerável quando estou pelado. Esse gosto já está me dando enjoo. Acho uma calça de moleton debruçada na cadeira da escrivaninha. Sigo ao banheiro em busca de aspirira, não sei bem onde guardo remédio, se é que tem algum aqui em casa. Bom, pelo menos no banheiro o furacão não passou, está tudo limpo e em ordem, as toalhas nos devidos lugares, o espelho limpo, a pia também, o vaso nem se fala, aproveito ele pra não deixar tudo tão limpo, afinal de contas urinar é quase que ritual sagrado depois de levantar da cama. Esse cheiro... Não é minha urina que está cheirando a perfume, e também não sou eu. Aqui não, esse lado também não, minha calça também não é, cheirei ela antes de vestir só para saber se estava limpa. Abro o box do chuveiro farejando. A porta tem cheiro de nada, as paredes também, levanto o pescoço para tentar cheirar o chuveiro, mas não é dali. Me ajoelho para checar o ralo. Esse cheiro... 
Terra. Cheiro de terra, não de perfume. Não existe perfume de terra, não é? Estranho demais isso. O chão está seco, não úmido ou molhado. Seco. O chuveiro está frio, não lembro de ter tomado banho quando cheguei, se é que essa dor me deixa lembrar alguma coisa. Tiro as calças ali mesmo, jogo para fora e ligo o chuveiro para acabar com a sensação de sujo. 
A água é morna, achei que seria gelada. Esfrego meu corpo todo só com as mãos mesmo, deixando a camada de suor escorrer pelo ralo. Sinto como se o mundo escorresse pelas minhas costas, o peso todo vai sendo levado, e o cansaço vai dando lugar ao novo fôlego. Me apoio para molhar apenas a cabeça, em um enxágue demorado, massageando minha cabeça parece que a dor também está indo embora. O que foi isso?
Desligo o chuveiro bruscamente ao ouvi alguém falando. Fico quieto para tentar ouvir novamente. Será que foi lá fora? Será que eu ouvi alguém me chamando? Os pingos do corpo não perturbam minha concentração, e demoradamente abro o box, atento, pego a toalha ali posta, e enrolo no em mim. Continuo com a sensação de que tem um perfume no ar, é doce mas não muito irritante, como se já tivesse ali faz muito tempo, apenas uma marca deixada para fazer presença, seria alguma mulher que eu acabei trazendo para casa? Volto em passos contados ao quarto, procuro algum indício de mulher. Nada. O perfume deve ter impregnado o meu nariz, isso sim.
"Acorde!", ouço novamente, giro para ver mas não tem nada. Acho que estou ficando louco, só pode. Quero a dor de cabeça de volta, ponho a mão nela procurando algum galo, corte, ou sei lá. Muito cedo para ouvir coisas. Meu coração acelera, sinto o sangue correndo pelas veias com violência, algo está acontecendo. Está acontecendo! Começo a ficar ofegante, confuso, tento me segurar em alguma coisa. Não consigo me mexer direito! Não sinto minhas pernas. Essa... essa sensação... mas o quê? 
 

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Quem pode fazer literatura, afinal?

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É muito comum, ao se falar de literatura, pensar em um campo de liberdade, lugar frequentado por qualquer um que tenha algo a expressar sobre o mundo e sua experiência nele. Das teorias que afirmam a literatura como um espaço aberto à diversidade àquelas que a prescrevem como remédio para todas as mazelas sociais (da desinformação à ausência de cidadania), podemos acompanhar o processo de idealização de um meio expressivo que é tão contaminado ideologicamente quanto qualquer outro, pelo simples fato de ser construído, avaliado e legitimado em meio a disputas por reconhecimento e poder. Ao contrário do que apregoam os defensores da arte como algo acima e além de suas circunstâncias, o discurso literário não está livre das injunções de seu tempo e tampouco pode prescindir dele – o que não o faz pior nem melhor do que o resto.
Mas é preciso reconhecer que o campo literário brasileiro ainda é extremamente homogêneo. Houve, é claro, uma ampliação de espaços de publicação, seja nas grandes editoras comerciais, seja a partir de pequenas casas editoriais, em edições pagas, blogs, sites etc. Isso não quer dizer que esses espaços sejam valorados da mesma forma. Afinal, publicar um livro – um conjunto de páginas impressas e encadernadas – não transforma ninguém em escritor, ou seja, alguém que está nas livrarias, nas resenhas de jornais e revistas, nas listas dos premiados dos concursos literários, nos programas das disciplinas das universidades e escolas, nas prateleiras das bibliotecas. Basta observar quem são os autores contemplados em vários dos itens citados acima, como são parecidos entre si, como pertencem a uma mesma classe social, quando não têm as mesmas profissões, vivem nas mesmas cidades, tem a mesma cor e, em geral, o mesmo sexo…
Números não esgotam a situação, mas ajudam a indicar algumas de suas características. Em todos os principais prêmios literários brasileiros (Portugal Telecom, Jabuti, Machado de Assis, São Paulo de Literatura, Passo Fundo Zaffari & Bourbon), entre os anos de 2000 e 2014, foram premiados 39 autores homens e apenas três mulheres. Outra pesquisa, mais extensa, mostra que de todos os romances publicados pelas principais editoras brasileiras, em um período de 25 anos (de 1990 a 2014), 71% dos escritores são homens e 96% são brancos. As personagens não são diferentes: 60% são homens, 79% são brancas, 80% pertencem às camadas economicamente privilegiadas – e os percentuais sobem significativamente quando são isolados narradores e protagonistas. É significativo, também, que mais de 60% dos autores vivam no Rio de Janeiro e em São Paulo e que quase todos estejam em profissões que abarcam espaços já privilegiados de produção de discurso: os meios jornalístico e acadêmico.
Por isso, a entrada em cena de autores, ou autoras, que destoam desse perfil causa desconforto quase imediato. A taxista da esquina, o senhor que conserta geladeiras, o cabelereiro do shopping, a faxineira do prédio – são pessoas que certamente têm muitas histórias para contar. No entanto, quem visualizaria seus retratos na orelha de um livro, quem pensaria neles como escritores? A imagem não combina, simplesmente porque não é esse o retrato que estamos acostumados a ver, não é esse o retrato que eles estão acostumados a ver, não é esse o retrato que muitos defensores da Língua e da Literatura (tudo com L maiúsculo, é claro) querem ver. Afinal, nos dizem eles, essas pessoas têm pouca educação formal, pouco domínio da língua portuguesa, pouca experiência de leitura, pouco tempo para se dedicar à escrita.
E, ainda assim, alguns deles escrevem e publicam e tanto insistem que acabam atraindo nossa atenção, porque, como diz o rapper Emicida,uma frase bonita escrita com a grafia errada continua bonita”. O que não significa que a ideia seja plenamente aceita. Afinal, o domínio da norma culta serve como fator primário de exclusão e há, é claro, quem se beneficie com isso. Aqueles que valorizam a si próprios por saberem usar a norma culta da língua não têm interesse em desvalorizar essa vantagem, conquistada, às vezes, com muito esforço. Não é raro ouvir, em sala de aula ou em eventos acadêmicos, alguém se referindo a Carolina Maria de Jesus, por exemplo, como “escritora semianalfabeta”, como se uma autora capaz de escrever livros com a força e a beleza de Quarto de despejo ou Diário de Bitita fosse ser analfabeta só por escapar, vez ou outra, daquilo que é determinado pelo Vocabulário ortográfico da Academia Brasileira de Letras.

Dá para imaginar o quanto é grande o desejo de escrever para que essas pessoas se submetam a isso – a fazer o que “não lhes cabe”, aquilo para o que “não foram talhadas”. Vivem, assim, o constante desconforto de se querer escritor, ou escritora, em um meio que lhe diz o tempo inteiro que isso é “muita pretensão”. Daí as suas obras serem marcadas, desde que surgem, por uma espécie de tensão, que se evidencia, especialmente, pela necessidade de se contrapor a representações já fixadas na tradição literária e, ao mesmo tempo, de reafirmar a legitimidade de sua própria construção. E isso aparece de diferentes modos. Às vezes, está no interior da própria narrativa: “É preciso conhecer a fome para descrevê-la”, dizia Carolina Maria de Jesus. Às vezes está em prefácios, como os de Ferréz, que defende a importância de deixar de ser um retrato feito pelos outros e assumir de vez a construção da própria imagem. Ou então em manifestos, como o de Sérgio Vaz, que diz que “a arte que liberta não pode vir da mão que escraviza”. E há ainda as apresentações dos livros, as orelhas e os textos da quarta de capa que reforçam isso, ressaltando a legitimidade do lugar de fala do escritor.

Por isso é tão importante a presença de autores e autoras provenientes de diferentes espaços sociais, com diferentes cores, interesses, profissões, desejos, conhecimentos, razões. Autores e autoras que façam barulho, causem dissonâncias, firam as belas letras, desmontem as regras do jogo. Eles, e elas, estão por aí, publicando por conta própria, criando coletivos, apostando na internet e no boca-a-boca para vender seus livros. Alguns até conseguem se projetar em editoras de maior fôlego, a maioria batalha junto de pequenas (algumas já históricas) casas editoriais, mas com circulação muito restrita. Há ainda aqueles que se dão por satisfeitos ao recitar seus poemas em um dos vários saraus literários que se espalham e se fortalecem nas periferias das grandes cidades brasileiras, só “curtindo o barato”. Há até os que já começaram a produzir uma reflexão própria sobre literatura, e certamente têm muito o que dizer. Mas nós, enquanto críticos e enquanto leitores, precisamos ter como alcançá-los, e isso ainda depende, em grande medida, de seu acesso ao campo literário – às editoras e livrarias, às páginas dos jornais e bibliotecas, aos prêmios literários e às traduções, aos programas de disciplinas e aos eventos acadêmicos. Deixá-los falar sozinhos é perder a oportunidade de ampliar nossas referências sobre o mundo.

Por Regina Dalcastagnè, blog do Demodê.

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Querido Amigo Gay.



Querido amigo gay branco de classe média,

Sei que a sua luta por respeito ainda não está completa, mas ultimamente tenho notado que os pequenos avanços conquistados tem feito você se esquecer de outros problemas que ainda precisam ser enfrentados, como a transfobia, o machismo, o racismo e a marginalização de pessoas pobres. Talvez você esteja sendo colocado em uma lógica de mercado, na qual as boates, músicas pop, sites de notícias, blogs de humor e páginas de fofoca, tem feito você reproduzir alguns valores meio chatos. Desta forma esta carta tem o intuito de fazer alguns pedidos, para que você repense algumas ideias suas.

1- Pare imediatamente de dizer "ah! não sou racista, só acho que pessoas negras não são bonitas, tenho culpa de não me sentir atraído por negros?" Você está sendo racista sim! os padrões de beleza norte americanos e eurocentristas são originados de lógicas extremamente racistas e preconceituosas. Por muito tempo a mídia e as revistas só mostravam pessoas brancas, e agora, justamente quando os negros começaram a conseguir mais representatividade você vem com uma frase desta? faça-me o favor né!

2- Pare de dizer ao seu coleguinha Bi que ele está passando por uma fase e que logo logo vai se assumir gay. Só porque você é gay não quer dizer que todo mundo seja também, a tentativa de uniformizar pessoas somente piora a nossa luta que é por DIVERSIDADE, se flexibilize pra entender que existem sexualidades não-monosexistas, e abra sua mente para essas novas opções.

3- Pare de dizer que "não gosta de afeminados", e por favor pare de chamar seu coleguinha de "passiva, vadia, biscate, bicha, louca, descarada, etc." como forma de desmerecer o adjetivo feminino. As mulheres são incríveis, e as feministas (inclusive héteros) têm ajudado muito na luta LGBT, não queremos perdê-las como parceiras de movimento. Experimente usar elogios femininos para seus amigos, como "ahazadora, maravilhosa, incrível, fantástica, etc.". As mulheres já sofrem muito com o machismo de homens hétero, parem de ser machistas também. Parem de ter medo da figura feminina, se você conhecer caras afeminados, não considere isso como algo ruim, mas sim como algo revolucionário.

4- Pare de dizer que "eca! tenho nojo de vagina". As lésbicas não ficam constantemente dizendo que tem nojo de pênis, essa necessidade de rebaixar a genitália feminina é muito machista, e ficar repetindo isso o tempo todo vai começar a oprimir as mulheres. Ninguém tem nojo de genitália nenhuma ok? somos todas e todos lindos e maravilhosos.

5- Nunca mais diga que "ser gay tudo bem, mas querer ser mulher já é demais" isso é transfobia amigo! existem pessoas trans que foram designadas como gênero masculino mas se sentem mulheres por dentro, e a libertação dessas pessoas por meio dos seus corpos se modificando ao feminino é algo revolucionário e libertador, temos que apoiar isto! as trans permaneceram no ativismo LGBT mesmo quando ele respondia somente pelo nome de "ativismo gay", nada mais justo e democrático que ajudarmos elas a levantar as suas pautas e ganhar voz. (usei as trans, mas os trans também devem ser apoiados)

6- Pare de dizer que "A Madonna está velha, a Demi Lovato está gorda, a Taylor Swift é uma rodada, etc." As mulheres vivem sendo pressionadas pra serem perfeitas, e quando você fica impondo padrões de beleza está sendo machista e mega capitalista. A Madonna está feliz, a Demi está no peso que ela deveria estar, e a Taylor Swift não deve ser julgada independente do número de caras que ela namorar ok?

7- Não repita mais que "não vou na balada tal porque só tem gente com cara de pobre" Não existe e NUNCA existiu uma "cara de pobre", não existem "coisas de pobre, hábitos de pobre, e etc.", nós não fomos feitos unicamente para consumir, muito menos para sermos submetidos à sistemas de classe. Ninguém é melhor que ninguém pelo dinheiro que possui, e a nossa militância deve ser primeiramente por liberdade e igualdade.

Por fim, a todos os membros do grupo LGBT, vamos sempre pensar no próximo, defender o direito de TODOS e a liberdade de DIVERSIDADE.

Vamos todos fazer revolução JUNTOS, se não ninguém vai fazer revolução coisa nenhuma rsrsrsrsrsrsrs brincs.
Beijas! fiquem com a Deusa 
 
(Fonte: G-20)

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Impacto


A contagem é deprimente, mas necessária. Lá se vai outro dia, menos um, mais um.
Dias desperdiçados pela insatisfação de viver, em busca de um propósito, uma razão que faça sentido. Onde ficaram os dias luta, os dias de glória?
Onde está o brilho dos meus olhos?
Onde ficaram os sorrisos mais sinceros que almejavam a mudança, o novo, o incrível?
Fácil culpar alguém, algum lugar, algum fator propulsor de decadência, entretanto o que torna tudo isso difícil é encontrar um mero motivo ao qual se agarrar e não desistir. Tão mais fácil absorver a culpa de todos os dias, dos desastre da vida, da falta de sorte, das consequências tão temidas. Dizem os especialistas que a depressão é, em resumo, uma sensação de luto por alguma perda. Um momento que deveria ser passageiro e tornou-se constante. A depressão é perda, a introspecção é busca.
Buscar algo dentro de si que faça sentido em luta ao mundo que tenta te derrubar. E, caído, busco uma maneira de não namorar o arrepio. Sabe porquê eles colocam grades em parapeito? Não para que uma pessoa desavisada caia por um acaso, mas porque o corpo pode ser sequestrado pelo ímpeto da gravidade. Alguns chamam de vertigem, outros de desespero. Eu prefiro chamar de arrepio.
Cada pessoa possui seu próprio sentimento que delimita o corpo da água e margeia a sensação de trespassar a realidade. Pode ser um pouco abstrato, mas cada um de nós já teve o frio na barriga de ver um desastre prestes ao acontecimento, só que ao contrário de sentir os órgãos se revirando ao caos, você sentirá uma sensação diferente, curiosa, e apaixonante.
Alguns fazem disso um trabalho, essas tais coisas radicais, dizem que viciam. Chamam de adrenalina. Chamam de desafiar a morte. Eu chamo de arrepio. E o meu momento mais interessante disso não é apenas namorar a avenida e imaginar os carros em alta velocidade, indo cada vez mais veloz, mais veloz, mais e mais veloz, tão veloz que apenas os luminosos faróis costuram o caminho, fico no estrangular da sensação, em meio-fio, sentido a velocidade dos carros percorrerem meu corpo, me convidando a participar. Minha mente corrói os céus num mantra de libertação a cada passada de caminhão, ônibus ou carro qualquer.
O impulso é sempre o mesmo, e quanto mais os dias passam, quanto mais sufocante são os dias, quanto mais diálogos de ódio e mal-querer é proferido em sentença fustigante, quanto mais salubre e ermo é o sonho que se desconstrói, tudo isso perfura os sentidos da sanidade cruel, deixando apenas na rodovia a única forma de prazer quase que em microsegundo, um breve e singular momento em que os gritos de socorro serão ouvidos, tornar-se-ão pedidos de desculpas, o gutural se fará presente em forma de conforto.
Água deve vir, diz a previsão.
Será quase que um susto, mas passará tão rápida quanto a vida nos olhos quando, finalmente, chegar o momento que minha alma ficará liberta. Quando amanhã será apenas mais um dia, será o último dia, não mais outro dia qualquer. Eu farei tudo do mesmo jeito, ouvirei as mesmas culpas não minhas, tomarei pra si toda dor que nunca tive oportunidade em ter, serei tão amável que ousarão questionar quem sou, de onde vim, pra onde vou. Será um dia como outro qualquer, o dia de são ninguém. Mas amanhã, quando eu for embora, não levarei meus livros, meus jogos, minhas cartas, nem mesmo minhas roupas. Estarei finalmente livre. Estarei finalmente indo embora.
Enquanto namoro os sonhos de liberdade no trespassar dos carros em vento cortante, vejo as luzes da cidade se ascender, vejo em minha mão a estrela da ordem e do caos cerrarem a vida e no próximo passo, como de súbito, eu finalmente estarei livre. E por um breve momento eu serei completo, serei eterno. Eu finalmente sorrirei para você e sussurrarei te desejando o teu maior sonho em concreto.
Serei livre.

sexta-feira, 10 de abril de 2015

A minha fazenda é melhor que a sua vida.


       O facebook é ainda pior que o orkut porque está na palma da mão. Antes a informação social era cultuada apenas para quem tinha o acesso periódico à internet, mas hoje qualquer pessoa pode fazê-lo, e tudo isso de modo opcional de anonimato. 
       Quanto mais o tempo passa, mais acredito que a finalidade social de uma tal rede social chegou ao fim, ficou escancarado que as pessoas não têm limites, tampouco bom senso para o que fazem no mundo virtual. A cretinização jogada ao léu é tamanha que avacalha qualquer informação, e de logo as mesmas pessoas disseminam sem ter o mínimo de interesse em saber se aquilo é real ou apenas boato, mito.
       Por esse e outros motivos, me reservo ao acompanhamento de contáveis pessoas que, elas sim, espalham informações úteis e até as bobagens são de cunho socialmente significante. Uma diversão é para divertir e não humilhar, uma piada é para rir e não apenas criticar, um jogo é para entreter e não irritar e o seu comentário sobre tudo é para engolir ou vomitar. Sinceramente eu prefiro engolir calado do que questionar certos vazios intelectuais.
       Sou bem feliz utilizando minha ferramente social para poucos fins e até mesmo desinteressantes para a massa, já que filmes, músicas e livros é modinha, do contrário ao mundo político e vigoroso debate entre homossexuais e heterossexuais e suas vidas privadas. Chega a ser engraçado conhecer essas pessoas no mundo real, é praticamente um abismo entre o que elas vivem (como agem, o que comem e onde moram) e o mundo virtual como o Facebook. É notoriamente um Second Life.
       Me pergunto ainda porque as pessoas dizem que o homem não evolui, já que tudo o que ocorreu de 10 anos pra cá foi uma mega transformação, uma das maiores catalizações sociais da era pós moderna, e tudo isso se joga fora ao ver o que se é transmitido ao mundo. É crime, é falso testemunho, é teoria da conspiração das mais bizarras linhas de pensamento, são cruzadas virtuais, perseguições machistas/feministas/transgênero, politicagem sem fundamentações históricas, sensacionalismo exagerado tomado como verdade absoluta... tantas coisas que fogem do caráter normal da humanidade que chega a ser caótico seguir uma linha de tempo positiva.
       O Brasil e o mundo tem os seus problemas, as cidades, bairros e famílias, e o que torna tudo isso mínimo é a sua capacidade de alterar o humor da coisa. Em vez de imagens de catástrofes e mortes, tenta exibir captação de recursos e ajuda, entre discurso de ódio e "gênerofobia", discurse sobre a igualdade-fraternidade-liberdade, seja você a luz dessa escuridão em que o mundo se deixa engolir. Se você compartilha a imagenzinha de Jesus pra provar que tem fé, então tenha, seja cristão e ajude sem querer nada em troca, faça algo real e não virtual. Acabe com o pragmatismo de que tudo é um curtir, porque se você não for trabalhar o salário não será compartilhado pra sua conta, e é justamente aí que você sabe onde o mundo virtual acaba. Quando o bolso dói. E o dinheiro e que o produz continuam se instruindo nas maiores e mais intensificadas formas de se obter mais lucros, mais e mais, sem parar, enquanto isso você fica na miudez de vida serena e interiorana de se preocupar com a vida dos outros e não com a sua.
       FarmVille2 é o que mantem na onda da rede social, se não fosse isso eu teria apenas um holograma que as pessoas iriam interagir e não obter resposta. Sinto falta do MSN por isso, porque era apenas quem nós realmente queríamos que estivessem lá, e não essa polidez social de ter a figurinha do vizinho, do professor, do superior, ou daquele que pode me fazer um favor um dia. Ninguém é obrigado a ser amigo de ninguém, ao mesmo que as pessoas são melindrosas e hipócritas ao ponto de sempre se fazerem de vítimas de si em vez de encarar as próprias escolhas. Uma bipolaridade crítica mais rápida que miojo.
       Então, daí surge uma tag para combater algumas dessas barbaridades diárias. E aqui vai a primeira dica de como não ser um babaca virtual, como não ter uma Second Life: Leia!

Leia bastante.
Leia direto da fonte.
Leia várias fontes, autores e críticas.
Leia sua própria crítica e seus fundamentos.
Leia o seu próprio exemplo.
Leia o seu meio, leia a sua vida.
Leia os termos da lei, do regulamento, da circular.

Ler é encontrar nos símbolos alguma forma de aprendizado. 

Aprenda, se eduque, se transforme.

Quando isso não for mais suficiente, aí você estará pronto para começar a falar.
       
      Mas ainda assim não será mais um debate, porque você vai aprender que não há apenas um lado correto, não há um mero ponto de vista, porque existe um emaranhado de situações, pessoas e sociabilidade ética envolvida que chega a ser sufocante ao mero olhar, mas que dá pra saber exatamente onde existe falha, onde existe êxito. Serão conversas sadias, ideologias mescladas que começaram a emergir do âmago do teu ser. Você evoluirá como pessoa, se tornando então um ser humano e não será mais a massa.
       A minha fazenda é melhor que a sua vida, apenas por não me interessar o que você come, onde você vai todos os fins de semana, ou o quanto de álcool você aguenta tomar. Não me interessa sua ladainhas piegas quando você transa mais que uma profissional do sexo, ou quando você vai tomar soro na veia para não ir trabalhar... São tantos exemplos de desnecessidades postadas a cada segundo que me pergunto se a vida privada é algo que alguém compra, ou se alguém faz questão de comprar. Não sei ao certo. Entretanto, sei que tem retorno, e terá retorno, pelo menos de algumas das discussões, porque alguém tem que ser o guia, alguém tem que mostrar a luz. Enquanto isso, ficarei cuidando da minha fazenda, crescendo e aprendendo, me divertindo com esta tal rede social.


sábado, 28 de fevereiro de 2015

É preciso ir embora.






Ano passado, na festa de despedida de uma amiga, ouvia calada e com atenção seu dolorido discurso sobre o quanto ela se preocupava com a decisão de ir embora. Dizia se preocupar com a saudade antecipada da família, com a tristeza em deixar um amor pra trás e com a dor de se afastar dos amigos. Ela iria embora para Londres com tantas incertezas sobre cá e lá, que o intercambio mais parecia uma sentença ao exílio.
Dentre dicas e conselhos reconfortantes de outras amigas, lembro-me de interromper a discussão de forma mais fria e prática do que gostaria:
“Quando você estiver dentro daquele avião, olhar pra baixo e ver todas estas dúvidas e desculpas do tamanho de formigas, voltamos a falar. E você vai entrar naquele avião, nem que eu mesma te coloque nele.”
Ela engoliu seco e balançou a cabeça afirmativa.

Penso que na época poderia ter adoçado o conselho. Mas fato é que a minha certeza era irredutível, tudo que ela precisava era perspectiva. Olhar a situação de outro ângulo, de cima, e ver seus dilemas e problemas como quem olha o mundo de um avião. Óbvio, eu não tirei essa experiência da cartola. Eu, como ela, já havia sido a garota atormentada pelas dúvidas de partir, deixando tudo pra trás rumo ao desconhecido. Hoje sei que o medo nada mais era do que fruto da minha (nossa) obsessão em medir ações e ser assertiva. E foi só com o tempo e com as chances que me dei que descobri que não há nada mais libertador e esclarecedor do que o bom e velho tiro no escuro.

Hoje a minha amiga não tem mais dúvida. Celebra a vida que ela criou pra ela mesma lá na terra da rainha, onde eu mesma descobri tanto sobre minha própria realeza. Ironicamente – e também assim como eu – ela aprendeu que é preciso (e vai querer) muitas vezes uma certa distancia do ninho. Aprendeu que nem todo amor arrebatador é amor pra vida inteira. Que os amigos, aqueles de verdade, podem até estar longe, mas nunca distantes. Hoje ela chama o antigo exílio de lar, e adora pegar um avião rumo ao desconhecido. Outras, como eu, e como ela, fizeram o mesmo. Todas entenderam que era preciso ir embora.

É preciso ir embora.

Ir embora é importante para que você entenda que você não é tão importante assim,  que a vida segue, com ou sem você por perto. Pessoas nascem, morrem, casam, separam e resolvem os problemas que antes você acreditava só você resolver. É chocante e libertador – ninguém precisa de você pra seguir vivendo. Nem sua mãe, nem seu pai, nem seu ex-patrão, nem sua pegada, nem ninguém. Parece besteira, mas a maioria de nós tem uma noção bem distorcida da importância do próprio umbigo – novidade para quem sofre deste mal: ninguém é insubstituível ou imprescindível. Lide com isso.

É preciso ir embora.

Ir embora é importante para que você veja que você é muito importante sim! Seja por 2 minutos, seja por 2 anos, quem sente sua falta não sente menos ou mais porque você foi embora – apenas sente por mais tempo! O sentimento não muda. Algumas pessoas nunca vão esquecer do seu aniversario, você estando aqui ou na Austrália. Esse papo de “que saudades de você, vamos nos ver uma hora” é politicagem. Quem sente sua falta vai sempre sentir e agir. E não se preocupe, pois o filtro é natural. Vai ter sempre aquele seleto e especial grupo  que vai terminar a frase “Que saudade de você…” com  “por isso tô te mandando esse áudio”;  ou “porque tá tocando a nossa música” ou “então comprei uma passagem” ou ainda “desce agora que tô passando aí”.

Então vá embora. Vá embora do trabalho que te atormenta. Daquela relação que você sabe não vai dar certo. Vá embora “da galera” que está presente quando convém.  Vá embora da casa dos teus pais. Do teu país. Da sala. Vá embora. Por minutos, por anos ou pra vida. Se ausente, nem que seja pra encontrar com você mesmo. Quanto voltar – e se voltar – vai ver as coisas de outra perspectiva, lá de cima do avião.

As desculpas e preocupações sempre vão existir.  Basta você decidir encarar as mesmas como elas realmente são – do tamanho de formigas.

Fonte: antonianodiva.com.br

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Maria Clara Araújo



MEU MANIFESTO PELA IGUALDADE: SOBRE SER TRAVESTI E TER SIDO APROVADA EM UMA UNIVERSIDADE FEDERAL.

Hoje, eu tive minha sobrancelha raspada por minha mãe, emocionada por eu ter sido a primeira pessoa de minha família a ser aprovada na Universidade Federal de Pernambuco. O que pra ela é uma realização pessoal de mãe que, diga-se de passagem, sempre me incentivou a estudar, para mim, uma travesti negra, é uma conquista com imenso valor simbólico.
Desde muito cedo, o âmbito educacional deixou o mais explicito possível suas dificuldades em compreender as particularidades de minha vida: aos 6 anos, desejando ser a Power Range Rosa , aos 13 usando lenços na cabeça, aos 18 implorando pelo meu nome social e, logo, o reconhecimento de minha identidade de gênero. Nenhuma foi atendida. Nenhuma foi levado a sério como algo que eu, enquanto um ser humano, preciso daquilo para me construir e ter minha subjetividade.
Se ontem a professora tirou a boneca de minha mão, hoje o Reitor diz não ter demanda para meu nome social. 

Eu existo! Nós existimos! 

As violências por conta de minha identidade sempre trouxeram retaliações em salas, corredores e banheiros durante toda minha permanência na escola. Lembro-me de, inúmeras vezes, minhas amigas entrando em rodas feitas por rapazes para me bater e tentarem me salvar. ‘’Para com isso! Deixa ela!’’
Não era só comigo, mas fui a única que aguentei. Vi, de pouco em pouco, outras possíveis travestis e transexuais desaparecendo daquele ambiente, porque ele nunca simbolizou um espaço de acolhimento, educação e aprendizagem. Mas sim de opressão, dor e rejeição.
Uma vez encontrei na rua com uma das que estudou comigo. Eu voltava do curso, ela ia se prostituir. ‘’Mulher, o que tu ainda faz em lugares desse?’’, ela me perguntou. Indignada, aliás. Ela me questionava com a testa franzida porque eu insistia em permanecer em um lugar que, cada vez mais, desmarcava que eu não era bem-vinda. Quando fui?
Os banheiros femininos estão com as portas fechadas, o nome nas cadernetas não pode ser alterado e os olhares de escárnio estão por todas as partes. De corredor à sala, de banheiro à secretaria.
‘’O que ela faz aqui?’’, se perguntam diariamente ao me ver andando na luz do dia. Afinal, eu, enquanto travesti, devo ser uma figura noturna. Assim, sedimentando a posição que a sociedade me atribuiu: de sub-humana. E quando falo isso, meus queridos, estou sendo o mais honesta que posso.
Olhe ao seu redor! Quantas travestis e mulheres trans você se depara no seu dia a dia? Quantas estão na sua sala de aula? Quantas te atendem no supermercado? Quantas são suas médicas?
Espere até as 23hrs. Procure a avenida mais próxima. As encontrará. Porque lá, embaixo do poste clareando a rua escura, é onde nós fomos condicionadas a estar por uma sociedade internalizadamente transfóbica.
Quando vi minha aprovação, foi uma alegria por eu ter tido uma conquista, mas para além disso, eu tive a consciência de forma imediata, que dentro de minhas perspectivas de vida, ver uma pessoa como eu em um espaço acadêmico é algo utópico. Até quando será? Até quando minhas irmãs irão ter que ser submetidas a essas condições de vida?
Sem moradia, sem estudo, sem trabalho. Se prostituindo por 20 reais.
Onde está a dignidade?
Não somos iguais. Eu, travesti, não sou igual a você. Eu, travesti, além de ter batalhado por minha entrada, a partir de agora irei batalhar por minha permanência.
Optei por Pedagogia com a esperança de poder ser um diferencial. De finalmente pautar a busca por uma educação que nos liberta e não mais nos acorrente.
A escolha é apenas uma: lutar ou lutar. E eu, Maria Clara Araújo, escolhi ser um símbolo de força.
A revolução será travesti!

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

A Melhor Escolha.


Talvez você nunca tenha parado para pensar, de forma precisa e quieta, os motivos que te leva ao acerto. Se em vez de acertar você errar, e pensar em tentar outra vez, ou outra coisa, ou nem tentar mais. Talvez você nunca tenha parado para pensar.
Sabe, esses dias eu pensei em parar, de forma precisa e quieta, todos os motivos tinham me levado ao erro. Se em vez de errar eu acertar, e parar de tentar outra vez, ou outra coisa, ou nem parar mais. Sabe, esses dias eu pensei em parar.
E os dias são assim, repetidamente diferentes, deixam-nos confusos se é mais um dia ou menos um dia, como se nossa razão de viver fosse ditado por epifania, ou que nosso destino fosse questionado apenas em momentos de deja-vù. Pergunto qual o nosso problema em aceitar nossas próprias escolhas, sem ter medo de ter coragem, de levantar a cabeça e seguir em frente, de recuar e ouvir os conselhos advindos de outrem. Qual seria a razão de tudo isso?
Dizem os especialistas que a filosofia foi criada para o nosso próprio consolo e o trabalho íntimo de reflexão é o que nos motiva para uma real melhora. Bem, não sei você, mas eu mesmo sou péssimo nessa real melhora. Em contrapartida, não posso teimar em dizer que sou ótimo em mostrar as pessoas um caminho para essas reais melhoras. Se fosse usar de analogia para o ser que vos escreve, eu seria o típico e caricato palhaço das histórias, aqueles que fazem todos rirem e possuem uma mágoa tão aguda que se tirar a maquiagem o que sobra é mero borrão; um mímico que tem discursos diretos e indiretos tão perspicazes que poderia ganhar um Nobel de perfeição linguística; tantas analogias paradoxais que relevam a existência do ser/estar.Seria essa a súplica maior e automática? Torcer e guiar as pessoas como um socorro aos próprios sonhos, um mentor alheio que reprime os desejos, um sacrifício perpétuo. 
Inspirar as pessoas é dar-lhes um apoio. Apoiar as pessoas é dar-lhes suporte. Daí vos pergunto, quantas pessoas já conseguiu apoiar, ajudar, guiar, escutar, compartilhar, instigar e assistir? Porque estar ao lado, ainda que de longe, de alguém é ter plena e total convicção da responsabilidade que é ser suporte. Ser parente ou amigo, conhecido ou não, mas crer sobre as consequências das escolhas, melhores e piores, e estar disposto ao conforto ainda que mínimo daquele que trilha o caminho.
Pode parecer piegas, contudo o ser humano busca, em sua essência, ao parceiro. Seja homem ou mulher. E ali depositará os medos, esperanças, crenças, conquistas e derrotas, numa prerrogativa que não será humilhado, ignorado ou confrontado. Nesta confiança de que há um alguém que nos ampare, que nos ratifique, retifique e fique conosco, sem cobrança, sem discussão. Está apenas ali, ainda que de longe, ainda que suma hora e outra, ainda que já tenha partido desta para melhor, ainda que tenha errado o próprio caminho, ainda assim está apenas ali. Em memória ou em quilômetros de distância, buscamos o conforto para não desistir daquilo que acreditamos, tentamos continuar a enfrentar as consequências de nossas escolhas, na família, no dinheiro, no amor, na vida. Queremos encontrar alguém que seja fiel ao nosso jeito de ser.
Talvez eu esteja errado, não podemos então viver sozinhos. Eu não posso viver sozinho, sincero sou a ser o primeiro a desistir daquilo que tanto quero pelos motivos que a vida impõe e sobressaem ao meu sorriso, lágrima brota, tristeza impera, e logo sou vítima de si. Da confiança em Deus não resulta elevar a auto estima, há quem consiga pôr na fé toda sua aflição, toda a sua ira, angústia e pudor, para que ela, a fé, despida de senso, seja a segurança que dias melhores virão, onde a tormenta passará, e por fim a calmaria perdure em corpo, alma e coração.
Não confunda descrença com valores sociais, vestir uma seita e rituais é fuga do mesmo que os vícios mundanos, o que me sobra então?
Talvez eu não deva desistir tão fácil dessa busca em ser alguém para alguém. Quem sabe uma dia eu ouça palavras de conforto, tenha abraço fraterno, silêncio que brande a mente... e enquanto não desisto tentarei criar coragem para mais um dia. Eu me inventei, e talvez você acredite em mim. Quem sabe eu não te invente, e talvez eu acredite em ti.
Sabe, esses dias eu pensei em parar... mas ainda assim, você é a minha escolha. A melhor.



quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Chandelier


Talvez o pesadelo tenha sido apenas isso, um pesadelo. Talvez o karma tenha sido apenas pressionado contra carne vertiginosamente. Talvez eu nunca tenha certeza.
É dia novo, ano novo, mundo novo, de novo. Tudo parece exatamente igual, mas sinto que não é. Tem alguma coisa no âmago que me transpira inovação, reação, uma satisfação em dizer-te que estou vivo. Passei apenas a observar e tentar não fazer aquilo que todos dizem que é perda de tempo. Robotizando a inspiração. Entretanto, isto é mais forte que eu. E assim, cá estou.
Esquartejo o silêncio com o riscar em folha, o áspero grafite transcende o branco, as linhas, o contorno do infinito. Vejo uma confusão de cores no branco, como se fosse dar um bloqueio, mas é apenas tudo. Tudo está ali, o conjunto de todas as coisas do universo. As possibilidades surgem no branco. Na folha de papel, no envelope, nas paredes, em todo lugar. Olho o quadro e vejo as coisas se mexerem, já teve essa sensação? De alguma coisa fora do lugar? De algo a mais?
Não perca tempo com o que as pessoas dizem só porque elas não conseguem enxergar o mundo do mesmo modo que você, mas dê um tempo para si e veja o mundo igual aos outros. Saber se transpor aos pensamentos do todo é tarefa que, hora e outra, faz bem. Dirimir a inquietude ao balanço dos braços ao vento conforta a saudade dos pés descalços sob a areia da praia. Quase que totalmente sem fôlego tem que ser a sua vontade incessante de querer ser melhor naquilo que você faz sorrindo sem perceber. É nesse momento de intensidade trabalhada que surge, então, a sua própria perspectiva da vida.
É dia novo, ano novo, mundo novo, de novo.
E meu lustre é o céu que vejo todos os dias, sempre igual, sempre diferente a cada segundo. Paradoxo. Reagindo aos rótulos que a juventude acredita que descobriu naquilo que os antigos já chamavam de outra coisa. Não ache que o novo morreu, que tudo já foi inventado, conquistado, criado ou até imaginado. Não acredite que o homem foi a lua porque alguém te falou, não acredite que Deus existe porque é o que diz um panfleto de rua, não acredite que  não pode ser feliz sozinho só porque todo mundo procura um alguém. Esqueça tudo e qualquer coisa que te faz mal. Comece do zero, do básico. Quando as coisas começarem a dificultar, tome os conceitos certeiros, os caminhos já sabidos do correto, mas não esqueça que burlar o sistema destrói o convencional. Admire alguém, pare por um breve segundo e veja que as pessoas vivem.
Parece desastroso imaginar os vizinhos vivendo em suas casas? Agora imagina o mundo sem você. O que seriam das pessoas se você apenas não existisse, será que daria em alguma mudança radical? Seja marcante para alguém ainda que você não exista para ela. Ouse, crie, pinte, dance, discuta, torça, torça muito  por aquele que precisa de apoio. A destruição é mais rápida que a construção. De um lado a parte do pôr-abaixo, algumas marteladas e a gravidade faz o restante; do outro lado tem o esforço, o planejamento, o suor de erguer uma conquista.
Agora me diz o que é mais fácil: reclamar ou agir?
Em vez de cair no hábito de negar ou negativar, elogie. Diga sim ao mundo. Use das cores do verbo para deixar o ambiente melhor, e na ausência de inspiração para tal silencie. Faça uma prece.
Estou aqui, estava aqui.
Das coisas boas não abra mão, no máximo se distancie, mas cuide daquilo que sempre corroborará com a tua felicidade.
Aqui jaz um desejo de felicidade à tua vida nova, ano novo, trabalho, amor, estudo... Qualquer coisa nova, quando com dedicação, é bem-vinda. E se achar que sua vida está parada, apenas observe. Pode ser que enxergue o mundo rotacionar.
Aproveite.

Apenas o céu

Foto por @sanamaru O amargo remédio se espreme goela abaixo, a saliva seca e o gosto de rancor perdura por horas. Em vez de fazer dormir ele...