domingo, 7 de setembro de 2014

Parabéns!



Era apenas outro dia, um desses nublados com temperatura desarmônica. Nada aguardava entre as linhas das quais já visionava em previsível... até aquela metade da manhã. Sim, era o meu aniversário, e eu não sou desses de ficar vibrando em comemoração, ou demasiado deprimido em expectativas, em verdade não é nada demais. Vai ver seja por não gostar de comemorações forçadas, vai ver seja por não ter emoções a serem refletidas, vai ver eu nunca vi razão.
O atendimento fora feito como o padrão, mas tinha algo diferente nela, tinha algo de genial. A negra com cabelos rastafári entrou na loja, com camisa azul já-usei-bastante e um emblema bordado na altura do peito, fora bem designada aos comandos da tradição, e no micro espaço da conversa casual, ela me deu o melhor presente que alguém pode receber no dia de seu aniversário. A surpresa foi imediata, não por ser um esteriótipo distante do previsto, mas foi porque a atitude surgiu surreal, não consegui calcular aquelas palavras, aquilo tudo que ela me entregou assim, como quando alguém te dá um abraço ao te ver chorar, como quando alguém sorri enquanto se aproxima de você, você não ver bem a pessoa, ela é um simples borrão, mas algo dentro de você se liberta em sorriso recíproco e seu coração palpita aceleradamente contente.
E, aquilo era pesado, foi pesado, é pesado. Não sei como consegui segurar tão firmemente, eu apoiei no peito e fixou.
Marcou.
Enraizou.
Não sei bem como foi, mas é, e espero sinceramente que será.
Você consegue imaginar o que foi o que ela me deu? 
Não?
Algo mais caro que tudo aquilo que possa imaginar. Não foi um abraço, um aperto de mão, uma jóia, um cartão, um carro ou uma viagem para o Egito antigo com direito a trilha de camelo no desértico abandoando ou margeando civilização antiga, não não. O que ela me deu não veio de palavras, símbolos, nada disso.

O meu presente foi inspiração.
Foi no brilho jabuticabal de seus olhos em que senti renovado. Me senti fortalecido por tudo aquilo que acredito, por tudo aquilo que rogo em maldição benéfica para todos os seres da Terra. 

E, você só vai conseguir entender o que eu senti, só vai tentar sentir os paradigmas marejando os olhos quando você souber o que você quer. Qual a sua aspiração na vida? E, foi aquela professora de ensino fundamental, isso mesmo, uma simples pro-fes-so-ra, que me deu algo de mais raro e intrigante em que ouso tentar assimilar. 
Conversamos por pouco. Conseguia perpetuar a minha vida em cada balbuciar dela, seus lábios delineados diziam apenas verdades, suas mãos gesticulavam entre força e fé, seus olhos fincaram os meus, estes que não ousaram correr em desconforto, meu olhar não fintou a ponte entre os olhos dela, meus olhos mergulharam no mesmo sonho, uma fusão maciça do que seja felicidade.
"Eu sempre quis ser professora", disse ela com os dedos em diapasão, "venci tudo o que havia contra mim, inclusive, e principalmente a mim. Minha pior inimiga." 
Não há como descrever o brilho do olhar de alguém que se faz completude. Você apenas sente, não sei, é como... é como... é tipo... você se arrepia. Quando alguém é puramente satisfeito no sonho da sua vida, não importa o que aconteça, você sempre, eu disse sempre, vai sentir a felicidade latente em ser aquilo que conquistou.

Embarga minha voz quando falo sobre a conversa de dois minutos e meio ao perceber o quanto eu sou pequeno em relação aquilo que creio, daquilo que percorro em busca da satisfação plena em ter o conhecimento necessário para transmiti-lo e, mais estritamente voraz, trespassar as minhas incapacidades como aspie.
Guardo toda aquele bombardeio de inspiração aqui dentro. Injetado e pronto para fluir luminosamente, quando eu extremar minhas próprias razões. E me pergunto se um dia eu conseguirei inspirar alguém de uma forma tão devastadoramente funcional ao ponto de levantar a estima, a fé, a vontade, a razão e a vida de alguém, como ela fez naquele dia. No dia do meu aniversário, quando eu apenas disse "Eu também quero ser professor, ou melhor, inspirador."



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