sexta-feira, 16 de maio de 2014

Onde Começa o Amor?


Corro os dedos na parede sem olhar, como se meu tato estivesse no automático. Também pudera, quase setenta e duas horas sem dormir. Meus pés estão cansados, não há posição boa para ficar, sinto meu pescoço querer pender novamente, um arroubo do corpo ao descanso. Não posso dormir, ainda não. Olho para aquele quarto tão branco que não sei porque continuo ali, de pé, como se nada no mundo pudesse me tirar as forças, agora que das tripas faço o coração. O meu e o teu. Inclino calmamente para ver se vem alguém no corredor, mas não vem, não virá. Só tem eu e você. As luzes brancas gelam o corredor, pisco profundamente como uma breve soneca. A imagem fica turva... Não posso dormir! Não agora.
 Troco o peso do corpo entre uma perna e outra. Reveso o cansaço. Encostado no portal corro os dedos para apagar a luz, pode ser que ela incomode teu sono. Os remédios têm que fazer efeito, ao menos um pouco, só um pouquinho, só para que você possa olhar sem essa dor nos olhos, sem ter que correr lágrimas e gritos silenciosos de socorro. Minha cabeça dói, meu corpo já nem reclama. Escorrego no portal quando minhas pernas falham. Sem querer, choro.
 Não queria chorar, mas não há nada que eu possa fazer agora. Desculpe. 
 Então rezo. Peço a Deus que dê-lhe descanso ao menos essa noite. Quero zelar pelo sono de uma melhora.  Choro.
 Choro e sem fazer muito barulho, tudo o que prende meu peito já não aguenta, meu corpo cai, minha mente esvazia, minha alma por fim desarma. 
 Estou um trapo, a mesma roupa, um cheiro meio azedo, meus olhos já sombreiam marcas, e continuo sem conseguir dormir, preocupado contigo. Se alguém vier me substituir apenas será uma companhia, não te deixarei só. Não enquanto eu puder enfrentar o mundo contigo, ao lado, querendo sempre ver tua felicidade. Não quero perder nenhum momento e... Desculpe. Sei que não era para eu chorar mas é como se eu sentisse a presença de Donna. Como se ela estivesse abraçada, aqui comigo, no chão do quarto. O arrepio me beija, as lágrimas descem. 
 O relógio agora ilumina 4:12, logo o dia nascerá e você não reclamou, não gritou, não chorou.
 Conto os minutos como uma oração para que tudo fique bem. Tudo vai ficar bem.
 Logo você vai acordar e dirá: papá. E então poderei sorrir. Descansar.

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