segunda-feira, 19 de maio de 2014

E você sabe voar?


 Você não vai acreditar. Não, não vai. Mas, tenho que tentar ao menos te falar, pode ser? Que bom.
 Naquele dia que me perdi por acaso ao esquecer onde iria, me peguei próximo a tua casa, aquela de quina ao cubo de vidro, caminhei uns passos apressados e me dei conta que havia algo na minha mão. Uma carta. Não havia remetente, mas estava endereçada à você. Tudo bem, não tinha teu nome nela, mas eu sabia que era para você. Não sei bem explicar essas coisas que sei, eu apenas sei que sei. Sabe?
 Olhei para um lado, não tinha ninguém, olhei então para o outro, também ninguém. Daí, tentei chegar perto, me aproximar, minhas mãos tremiam, minha testa suava, meus pés doíam. Era um aviso de que aquilo estava errado, ou então era apenas o início de uma crise de ansiedade, vai saber. 
 O que importa é que não coloquei a carta na caixa metálica convidativa. Sei que pode parecer estranho, mas logo depois você veio com uma conversa muito estranha. Não estranha do tipo bizarra, mas estranha do tipo comum. Estranha para alguém como você, caindo no marasmo de ser apenas um e esquecendo de quem você realmente é, esquecendo de quem você quer ser. Parece estranho mas guardei a carta para, quem sabe, um outro momento.
 Você feliz por alimentar o corpo com pássaros cheios de vida, querendo ultrapassar esse momento meio confuso de expectativas tão inúteis que acabamos por perecer no nada. Depois veremos que foi só uma besteira do cotidiano, do senso comum que faz com que nos vendamos aos sonhos posteriores. Sei que nada que digo ou faço tem sentido, mas, na verdade tem. 
 Eu não quero que você corroa sua insônia com curiosidade, no envelope tinha um bilhete tracejado com uma frase, uma pergunta. Eu fiquei com tanto medo de não saber explicar que acabei não te entregando. Por medo de não saber corresponder, por não saber como fazer, então prefiro não fazer, porque pra mim é natural ir devagar, esperar um momento melhor, para alguns não. Nosotros podemos até ver algumas singularidades perpendicularizando no azul daquelas risadas, mas minha vida é meio agri, meio doce, e continuo correndo para ganhar impulso.   



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