segunda-feira, 24 de junho de 2013

Singularis


 De tempos em tempos a mente projeta uma expectativa única em relação ao universo que nos circunda. Neste ponto, começamos de logo a análise fatídica do antes e depois, vendo pontos e contra-pesos, memórias, fotos antigas, diálogos expostos, tudo calculando uma performance quase instável do futuro, ou o que esperar dele. Vem junto com todo esse pensamento aquilo que chamo de Singularidade. Isto significa que as coisas estão tomando um outro rumo, o que pode ser muito bom ou muito ruim.
 Geralmente a Singularidade me draga novamente ao início, pois ao perceber tudo que já foi vivido e posto em experiencias, a maioria das coisas do agora não valem a pena serem enfrentadas, sendo mais fácil apostar em coisas mais valiosas, mais oportunas, ou simplesmente aguardar um tempo melhor. Socialmente falando este aspecto valoriza as coisas mais belas e mais trágicas, pontuando o atual até que se equipare ou supere o antecessor. Até agora não supera, porém a tentativa se perdurará no tempo necessário.
 Saber o que é melhor pra si não é mesmo que aceitar o melhor de outrem, tais razões são intrínsecas ao portador e casualmente faz sentido, pelo menos um revoltante. Do mesmo modo que temos mil razões para fazer, temos outras tantas para o não-fazer. A escolha é simples, corroborando os inúmeros "e se..." subjugando os "porquês" e vendo o dia passar monocromático.

 Acreditar que tudo será diferente amanhã é não querer viver o hoje, mesmo sendo o presente uma metáfora  fusiforme de uma variação momentânea, pois pra mim só existe antes e depois, cronologicamente falando. Sem aprofundar em metafísica.

domingo, 23 de junho de 2013

Extremos


 Protelar te ajuda com o tempo, mas não com as situações. E estas podem aumentar de tamanho e tomar uma proporção nunca vista. Deixar de lado periódicos afazeres ou pensamentos importantes dependerá, unicamente, de sua escolha e seu tomar de consequências.
 É assim que os dias vão passando, através de escolhas de potencializam meu protelar. Seria bem mais fácil se isto fosse algo de cunho biológico, um distúrbio ou transtorno, pelo menos assim eu saberia que a euforia uma hora chegaria e assim acabaria com o brisar da minha vida. Se bem que esta é mais tranquila que os mares que me cercam, acredito que não faria grande diferença, porém teria um resposta.


 Enquanto o tempo transcorre, tenho que escolher entre o claro e o escuro. Não que a proporção de luz seja algo delimitador de bondade/maldade, apenas é uma sublime alusão ao referido preceito. De um lado tenho a lucidez, pequena empolgação, sono e estabilidade; Do outro eu tenho a distorção, inércia, insônia e instabilidade.
 Vendo por esse lado seria até idiotice não julgar o melhor para si, todavia o que era comum tornou-se uma armadilha. Pois a lucidez ofusca a imaginação e seus conduzentes, não há inspiração, apenas repetição ou assimilação burocrática do sistema posto. A pequena empolgação faz com que o trabalho continue, ao mesmo que aparecem outros projetos e acabam dispersando-se no ar. O sono, que ataca logo cedo, vem com eles os inesquecíveis pesadelos que acabam fixando a mente pelo longo do dia, já a estabilidade, acredito que a única coisa boa nisso tudo, ela é a única que não faz tanta diferença, a não ser pelo fato da peregrinação do Espírito Aventureiro para o Neofóbico. Apenas.
 No lado já conhecido por anos temos, a distorção figurativa e conotativa e tudo, que ora é viável, ora é confundível. A inércia, algo que me lembram grilhões de preguiça, na verdade é algo que tormenta até um sair de casa, um mero prazer torna-se dificultoso desse lado, sendo mais prático não fazê-lo. Insônia sem café é algo tão deprimente que prefiro nem comentar. Da instabilidade sobra o estável senso que tudo uma hora vai ficar muito mal e depois muito bem, quase um clímax de um bom filme, algo que sobra ao tentar algo, perpendiculando as chances e disparidades.
 Escolher um lado é muito fácil, bastam dois miligramas. Em poucas horas se vão os tiques com a perna, o volume de pensamentos, a respiração e fala ficam organizadas, a libido quase não existe, robótico e centrado fico. E salteando entre um lado e outro é o que me vem fazendo fazer ou não-fazer, esperando apenas o tempo passar.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Vulgar


adj.m e adj.f. Que se refere ou pertence ao povo, à plebe; comum ou popular: língua vulgar.
Que respeita as regras comuns, que não se distingue dos demais; usual: tem um conhecimento vulgar.
De procedência ruim; de natureza baixa; grosseiro, rude: fez uso de linguagem vulgar.
Conhecido por muitas pessoas; sabido: é vulgar a paciência dos monges.
s.m. Aquilo que é vulgar, banal.
A língua nativa ou vernácula de um país: escrever um texto em vulgar.
(Etm. do latim: vulgaris.e)

 Da noite não contei horas, do dia não vi os carros, e assim seguiu a semana. Da felicidade marota uma peculiar inquietude, baixei a guarda e postei a pensar. Eu que sempre sou sincero, tão vulgar quanto se pode ser, me pego roendo unhas, meu anestésico para um não-colapso. Nunca acreditei que deixar um vício seria tão irritante, tão violentamente avassalador ao ponto do sublime vapor secar as lágrimas de adoração. Também nunca acreditei que colocar em prática o que sei em teoria, isso seria tão amargamente triste.
 Ouvir todos os dias que você é incrível ou especial deixa um sentimento de enormidade dentro de si, como se nossas forças pudessem mover montanhas e abrir mares, porém na prática, somos mais um na multidão de gente, num mar de cabeças monocromáticas, e você "tal ser especial" é tão especial quanto seu arquinimigo ou parentesco distante.
 Acabo detestando as melhores coisas do mundo, por serem apenas palavras ao vento, algo efêmero, volátil, talvez até volúvel e vazio. São coisas do dia, da noite, que me trazem de bom grado, meio escondido ou estampado, que fazem cada vez mais um certo bem-estar, mesmo que declinando ao pior. Recuei na penumbra vendo a sombra da noite trespassar o reluzente, e assim tive certeza que dos passos largos não precisarei por agora, apenas aproveito a calmaria de um sereno ameno.
 Sou vulgar, mereço ter vulgaridades. É saudável, aceitável e amável. 
Do que adianta tantos floreios em meus borrões? Alimentar um animal ferido para depois abandoná-lo em um baldio terreno é tão vil quanto arquitetar um crime hediondo. Além do que é um tempo gasto em demasia e pode não trazer tanta satisfação. Por isso e tantas outras coisas, prefiro a minha vida comum, de gente comum, que tem seus horários certos e uma vida não projetada aos holofotes, uma medíocre vida satisfatória com até, eu disse até, uma certa felicidade. Contudo, todo o sentimento é cru, é honesto, é mundano. Vulgar. 


quarta-feira, 5 de junho de 2013

Do Francês.


E te encontrei lá em cima. No lugar mais alto do mundo, te encontrei nas nuvens que atravessam o limiar do real e do inimaginável. Você ia lá uma hora ou outra, refugiando de si, de nós, deles, de tudo aquilo que não tivesse aspecto real de felicidade. Te encontrei lá no superior, por um acaso, enquanto eu vagava em busca de alguns, digamos, raios. Sabia que conhecia aquelas pegadas graciosas de pequenas criaturas, dessas que são maiores que todo mundo pelo intrínseco potencial, esses mini-seres são encantadores e raros, por isso se aventuram sozinhos em busca de proteção, mas quem diria que eu seria o tal para encontrar tua alma espreguiçada numa flutuante, bem pertinho do meu Alma Voraz, aquela embarcação que passeava pelos céus e te fazia olhar o infinito. Quem diria? Sabendo que você se escondia entre as paralelas prateadas e fofas, observei do meu telescópio o que você queria, estudei teus movimentos e pouco-a-pouco me aproximei, mas não com o gigante Alma Voraz, muito pelo contrário, fui nadando lentamente até chegar no subidouro que tanto tu escondias. E foi assim que você me contou sobre um lugar secreto, um lugar onde você era feliz, mesmo com a tristeza nos olhos, olhos que englobavam tanta coisa que fiquei maravilhado quando ele encostou em mim, teu olhar jabuticabal que exala um carinho explendorável, sim, explendorável, a palavra que você me disse uma vez em um momento de embriagues, e que até hoje eu tento usar em algum lugar, mas não existe lugar palpável para algo assim, tão incrível. É tão comum isso que chega a ser batido, repetido, essas coisas que só existem em um só lugar, ou com determinada pessoa, isso me parece um pouco francês, um tanto clichê. Um dia você vai entender o porquê das pessoas terem inveja do teu ser, quando um dia você conseguir enxergar a si como todo mundo o faz, e então avistar, mesmo que em um lugar que só você pode criar, você vai se ver completa. Morena, se você tivesse noção do teu poder, não ficaria por aí remoendo os próprios anseios, não devoraria o próprio coração, mas qualquer hora você fará a travessia. Eu acredito. E enquanto isso não acontecer, enquanto você estiver por aqui, eu estarei voando com minha imensa embarcação de sonhos, te dando carona pelo infinito sempre que quiser.
P.S.: Para subir a bordo terá que estampar o sorriso mais explendorável que eu já conheci, aquele que brilha os jabuticabais olhos e que faz o tempo passar mais leve.



Apenas o céu

Foto por @sanamaru O amargo remédio se espreme goela abaixo, a saliva seca e o gosto de rancor perdura por horas. Em vez de fazer dormir ele...