sexta-feira, 24 de maio de 2013

Porta-chaves


Respirei fundo não querendo administrar a culpa, mas a verdade ainda que vulgar tem que ser dita. E é sempre assim que acabo chamando atenção para o não necessário, para o lado escuro da lua, onde ninguém quer ir, onde ninguém volta de lá. E, mesmo, sem qualquer intenção modeladora, você vem cheio de floreios para os meus borrões. Por isso queria uma cópia tua. Um pedaço minimalista do teu ser, disto que projeto teu todos os dias. Algo que alimenta minha fome de conquista, cuida dos males tradicionais, entrelaça os cordões de afeto, e vai seguindo, assim como der, de qualquer jeito. Mas tão natural como o dia que nasce, o sorriso que brota face, natural como um devaneio contemplado com curiosidade, uma gargalhada compartilhada sem julgamentos. Isso é você.
Carregaria você para todos os lados, acenaria com teus costurados bracinhos esbranquiçados e riscados para pelugem, andaria saltitando as perninhas que se esticam com o brisar, apertaria sua barriga bem como eu faço sempre que possível, imaginando então teu gargalhar e o rubor de saúde encharcando teu sorriso, também brincaria de mudar eu rosto, para cada situação uma expressão diferente, todas belas de fotografia, todas elas fixas e bem lembradas, mas dos acessórios não carregaria muitos, apenas um ou outro, tipo um bonezinho para quando o cabelinho feito de lã escura tiver grande, os oclinhos de hipster neo-londrino, mesmo com os olhos costurados com tanto esmero tem aquele brilho, um olhar com brilho de faca que ainda perfura toda minha amargura. Te penduraria no retrovisor, nas chaves agudas, no guarda-roupas, pousaria na estante, na mesa de centro, dormiria abraçado pra sentir teu cheiro que marca minha roupa feito mancha. 
E se apertar você carinhosamente, qual seria o som que emitiria?

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