terça-feira, 30 de abril de 2013

Python


É sempre a agonia de não poder agir que consome toda a minha essência. Quando as coisas estão além do meu alcance, quando as ações são estritamente de outrem, quando as chances são jogadas e alguém as pega de forma que desdenha a oportunidade, quando eu tenho que apenas observar.
A constrição do meu ar vem das tuas ações. Estas que eu apenas acato com o olhar, seguindo exatamente a consequência do mesmo modo que previ. Sufoca.
É o carinho, é a falta, é o importar-se. Fingir que nada acontece é desconcerto momentâneo, porém o menos sofrido a se fazer. Ignorar é arte destas que sou vítima, agora é arma para que meu eu se atente ao que importa, a quem me dá atenção e afeto, ignorar é respirar fundo enquanto este sentimento envereda a superfície do meu querer, essa sensação de esguio subindo pela espinha, se espalhando pelo pescoço sempre que vejo uma foto tua surgir, e quando penso em te ligar, você me estrangula.
Meu ar se vai nos apertos das tuas palavras pesadas, elas caem ao chão com a mesma força que aperta minha garganta. Teu "não" asfixia minha vontade de você, mas eu sou fraco com animais exóticos, confesso. Em vez de esmagar teus olhos que tem brilho de faca, estes que piscam com o brilho de uma estrela quinta do planeta luminar, em vez de apertar tua guela que deglutina minha sorte, em vez de tentar me salvar do teu abraço mortal, eu... eu te acaricio como aceitasse a morte.
Doando-me assim à tua vontade combalida pelo titubear. Teu vai-não-vai é sentido pelos dáctilos ao alisar teu dorso. Torce em contorno da minha nuca, torcicolo de um momento, pressão fixa de ideia, função específica de mero acaso.
Este sentimento que permiti se criar ao meu redor logo cessará. Logo me engolirá por inteiro, mas antes de tudo, me sufocará em próprias expectativas, quebrará todos os meus ossos sem esmero e quando pensar que tenhas acabado, ainda assim mordiscará a pele para ter a convicção que ainda tenho sinal de vida.
Suas presas cerradas e pontiagudas penetrarão carne, esta que te alimentou com afeto e esta que te alimentará a fome. Fome de coragem, de crença, de falsa alegria em ser especial. Amar talvez seja muito forte para um ser exótico, mas o mero sorrir ladrilhado ao luar já é um momento de eternidade.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Tão Jovem, tão eu.



Não quero falar sobre amor, e não foi por isso que eu te pedi pra deitar em meu peito. Pedi que aproximasse teus ouvidos para ouvir o som da minha vida, e entre as ritmadas batidas do coração, tão frio quanto o próprio quarto, abracei tua inocência e beijei tua mão em respeito. Entrelacei meus dedos aos teus, nos conectamos, eu te protegendo de mim mesmo, abracei teu corpo com a contra-parte.
Você em colo, seguro de tudo e de todos, confortável para ser e fazer o que quiser, inclusive apenas adormecer por exaustão do longo dia, mas você ainda ouvia o som do coração. Este pulsava ora depressa, ora quase nem batia. E naquele momento, o momento exato, conversamos.
Um diálogo entre latas. Sem dimensão, sem controle, entre pulsação, explicação e segurança. Foi assim que eu aprendi a conversar, e quero te passar isso. Segurança. 
Um momento que podemos falar tudo, sem críticas destrutivas, sem interesses subjugados, restando o bom e velho diálogo. Duas mentes sem saber para onde ir, ao mesmo tempo não querendo parar, refletindo uma na outra como simbiontes, derivando o passado, presente e futuro em potências e artimanhas. Como facilitador em alguns momentos, tentei te guiar em teus nebulosos pensamentos, um luminar na penumbra. Noutro momento eu era covarde em te dar o silêncio em resposta, mesmo tendo um discurso pré pronto, mas que te magoaria, me machucaria, ficaríamos imersos no ensurdecedor zumbido de outrora. 
As paredes começaram a vibrar. Era o reverberar do meu músculo bombando a tristeza em aceitar a verdade. Meu coração é órgão e apenas isso. Ele não sente, não dói, não machuca. E, não sei se seria certo continuar em algo já visto fracassado por você, acredito que continuar seria mais justo, seguindo meu coração que não é bússola, indo em busca de algo que não existe, a paz, sem perseguir outros motivos.
Espero que você tenha entendido que nossa afinidade ficará, para sempre, mesmo podendo nunca mais nos vermos. Porque depois disso será estranho, pesado e doloroso. Não para o coração, mas para a mente, esta que compartilha da indiferença de ser uma distração, em ser algo melhor que um tanto-faz. 
Indo pra lá, tamborilando o coração para dizer que existe uma vida, é para onde seguirei. Estarei apto para ser teu porto-seguro se você quiser ser um navio. Você é tão perfeito pra mim quanto eu sou teu, ambos  divergentes, congruentes, simples.


-Faça o que achar certo. Você me respondeu.
-E se dessa vez eu quiser errar? Ecoou em minha mente.


Tempo pra mim é precioso, mas o que me consome é ansiedade. Trocaria tempo pelo teu piscar de olho, porque um me faz correr e este último me faz parar, parar tudo. 
São tantas coisas que ficam maquinando em minha cabeça que eu não consigo dormir. Em conversas assim, aliviando a alma, é que me sinto mais humano, mais leve, mais verdadeiro. Um dia você vai entender, e não será tarde demais, ao contrário, será o momento perfeito. Por isso não reclamará.

Zumbido

-Por que você se virou? Perguntou ele.
-Porque eu quero ver o teto. Respondi.
-Você já viu o teto descendo, como se ele viesse pressionando tudo até você? Indagou ele.
-Sim. É normal.

Na verdade, é bem comum. Diferente seria eu te falar que mesmo estando no térreo, quando eu olho o teto, sempre o teto, eu vejo o céu. Naquele momento era puro nublar, mas o rosado da cumulus nimbus era o que me confortava. Deixava minha alma quieta, por mais disposição que meu corpo tivera. Queria poder conseguir te mostrar como é simples separar nuvens do teu teto para apenas ver as estrelas, porém você ainda está na fase de ver o teto e no máximo ele desabando em ti. Como um artifício de sobrevivência eu pousei meu pensamento em outro lugar, pois ali era frio, era comum, era mais uma noite qualquer.
Na rua, os carros não passavam, o som do canta-pneus sob a chuva não era ouvido, não havia canções no player, não havia barulho de ventilador, era apenas a respiração e um zumbido.
O zumbido da minha conturbada mente que não parava de especular. As proporções disso e daquilo foram elevadas até os céus, vi meus balões de sentimentos bons, vi aviões de dúvidas e pássaros buscando ninho. Naquele céu que ameaçava chover em mim, não rogava proteção, não sucumbira ao desconforto. Era o mesmo céu que só lá existe, e por um segundo em conversa eu comecei a sentir os primeiros pingos de chuva.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Não Molha.

A temporada de chuvas torrenciais começou, com ela veio o clima ameno, frio e convidativo a um abraço. Nesse sentido calmo e carente segue o ritmo comum, sem expectativas ou frustrações. Convence o clima ao cinza, ao tom do meu sentimento e este não duvida da tua vontade, mas ele pede mais.
O temporal é mais que o borrar do céu, é mais que as inundações das ruas, é mais que as doenças respiratórias latentes. O temporal que se instala sobre minha cabeça me chove certas convicções, mas não me molha com respostas e outros prantos. Esqueci minha boca no teu corpo, guardei teu afeto no bolso, respondo teu "boa noite" com esperança de um sono tranquilo, mas o ranger de dentes continua. A madrugada trás um arrepio que inquieta a alma, é a tua falta, é tua ausência, não a psicológica, mas a física.
Da tua voz eu ouço isso e aquilo, nada que me dá espaço, nenhum convite e apenas feitos. Isso porque o que eu sou pra você, não é real, você não precisa de mim, sou apenas aquele passatempo de tempos outros.
E aos poucos, tal como a temporada de chuvas, vou me dispersar uma hora ou outra. Tal como o esperar de uma trovoada, as pessoas evitarão sair de casa para não se molharem, agasalharão os queridos e assistirão os amores.
É o chover que molha, é o abraço que esquenta, é o sorriso que colore o cinza diário. Poderia ser você, mas é apenas carência.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Movimento Retilíneo Uniformemente Variado.



"Permita-se" é a expressão jovial do momento, algo em que na minha época se descrevia com um mero "arrisque". Mas esta última dava medo, acarretava muitas coisas que demonstravam responsabilidade, ansiedade, frustrações e risco propriamente dito.
Permitir é aceitar, é acatar a vontade, desenvolvimento e resultado; é ter certeza que fez o possível e continuar.

Arrisque-se.
Permita-se.
Faça alguma coisa!

A inércia é trágica e deixa inúmeras indagações. O "E se..." acaba tomando conta e serpenteia a mente estrangulado a vontade de tentar. Temos que sempre que deixar o corpo e mente em movimento.
Movimento este que há de ser constante, mesmo que mísero, sempre rente, sempre à cima, sempre movimento. Andarilhando entre vielas da vida, bares de emoções e campos experimentais de batalhas empíricas.
Nas exatas sabemos que a origem do nosso movimento não é absolutamente zero, muito pelo contrário, existem vários e dizimais números que acobertam tal origem, são os motivos reais.
Subjuga a razão do movimento pela origem derivada ao exponencial sentido perpendicular em números (ir)reais. O que em vias de cálculo é meio incerto, pois temos as adicionais variantes que podem retrair o movimento de impulso originário, fazendo com que a marcha à felicidade seja dificultada ou diminuta. Exemplificando essa hipótese esquizofrênica matemática, temos:

Móvel A, inicia seu percurso com uma velocidade média e constante até o ponto B. Móvel A é morena, de estatura mediana e estuda administração de empresas, sua velocidade é de poucos metros por segundo mesmo ela atrasada para sua avaliação final em Empreendedorismo, seus passos curtos e firmes projetam uma chegada aproximada em 10 minutos de atraso. Observador B, seu amigo, acenou para móvel A, e esta falou sem expressão. Horas depois Observador B, avistara móvel A e perguntara sobre a avaliação que todos os outros figurantes comentavam. Móvel A se aproximou e disse que tinha sido boa. Móvel A foi reprovada em tal matéria por não ter se apresentado a avaliação.

A pergunta é: Se o trajeto estava predeterminado, a velocidade do móvel era perceptível e constante, o observador garante a completude do percurso, por que o móvel A não fez a prova? Móvel A não assinou a lista de presença, tampouco seus amigos de turma a viram. O resultado foi falho?

sábado, 20 de abril de 2013

Efalante


As linhas sem contorno vão derivando em outras linhas, formando círculos, meia-lua, rugas e patas. Estou desenhado outro elefante, mas este, especialmente este, possui o carinho que eu preciso agora, este aqui quase sorri pra acalentar meu peito que ainda continua atordoado.
Não gosto de sonhar, não quando durmo, porque quase sempre é algo ruim, algo que aconteceu ou irá acontecer, sempre com alguém que conheço ou alguém que só lembrarei na hora do fato. Sublimará uma névoa de deja vu, o arrepio abordará os pêlos da nuca, o borboletar no estômago será sentido. 
Prefiro não sonhar. Não é seguro, e me deixa muito mal. E sempre que estes me sequestram, acabo aqui, sob a luz da madrugada desenhando alguma coisa, rabiscando algo que me faça pensar em outra coisa, sempre um animal com aspecto cartoonesco e cordial, rabisco, desenho, formeio, pinto, colorindo sem noção e com esmero, como um totem que será destruído junto às más lembranças do súbito acordar.
Talvez se existe alguém para conversar a qualquer hora sem ser interrompido, talvez se alguém pudesse ouvir sem questionar, talvez se um sonâmbulo apenas concordasse com o que eu digo ou apenas me mandasse esquecer tudo, talvez se tivesse algo mais que o divertido amigo que acabara de criar... talvez assim eu voltasse a sonhar coisas boas, sonhos malucos de aventuras surreais. Talvez.
Enquanto este sonho não acorda, agradeço por ter sempre a mão papéis, lápis de cores, tintas e uma esperança. Contando meus pesadelos à nova criatura e ouvindo seus conselhos. Dando um sorriso de "bom dia" ao impossível.


sexta-feira, 19 de abril de 2013

Ensaio Sobre Ela


 Sabe, hoje é um daqueles dias em que não sabemos muito o que fazer. Dizem que quando completamos aniversário, devemos sempre agradecer, pedir e agradecer novamente. Não sei ao certo se deveríamos comemorar aniversários ou se somente deveríamos agradecer todos os dias, por tudo e por todos. Hoje eu paro e penso o quanto é significante ter uma comemoração.
 Festas e grandes eventos não são de fato comemorações. Para mim, imortalizar as pessoas, lugares e situações é o grande evento. Eu nunca pensei se ela um dia pisou por aqui, se já leu uma coisa ou outra, mas em verdade vos digo: Isso pouco importa. Sério, não me preocupo com o observar das pessoas, principalmente o dela.
 E falando nela, olha só ela me ligando. Tão cedo e tão logo. Sei que ela deseja ouvir um "bom dia", mas hoje eu não tenho como o fornecer. Estou naqueles dias tristes em que fico querendo sumir só por não saber o que fazer, e mesmo sabendo que ela tem todos os argumentos do mundo para me fazer ficar bem, mesmo sabendo que com o sibilar de seu timbre em meus ouvidos irá me fazer sorrir, mesmo assim eu sei que ela vai perceber que estou triste, por mais que ela não diga, mas suas palavras palpitam entre uma e outra e acabamos naquele clima de "deveríamos nos ver". Ela finge que não se importa, mas ela fica na torcida que tudo dê certo, me dá a distância necessária para que eu enfrente meus problemas e quando é necessário ela chega perto, fala do mundo, conta estrelas, rodopia em malabares as próprias conquistas, me mostra que a vida é complicada e que podemos ser felizes mesmo assim, que a vida é um lutar infinito.
 De brigas e discussões não somos fortes, na verdade nunca vi uma situação assim entre nós. Pra manter nosso vínculo por tanto tempo deve haver uma palavra. É amor. É mais o que as palavras possam dizer, só isso pode definir o quanto foi vivido, de tantas estradas e aventuras, de tantas lágrimas e risadas, e no fim nós. Sempre nós no fim de tudo, um olhando o outro, sentados lado-a-lado maltratando os próprios dedos e resmungando da vida, rimos desejando que tudo se exploda, porém eu te conheço, e você já não veste aquele roupa vermelha e faz surgir mais dois braços, não há carapuças ou outros artifícios, é puramente você.
 Fui criado em uma geração de rua, onde seguir o que todo mundo faz era dito certo a se fazer. Meus heróis dos quadrinhos e da tv, minhas músicas antigas e novas mixagens, minhas coleções que hoje são lixo, tudo isso vou passar aos meus filhos e netos, se eu puder, e principalmente hoje que não há mais glória na imaginação, vou contá-los a maior histórias de todas, a tua história.
 Contarei que um dia conheci alguém que nunca imaginei ver novamente e que anos depois, por um acaso, acabei vinculando corpo e alma. Meu corpo era extensão da tua vontade, fui praticamente um ajudante de super-herói, nem sempre presente, mas sempre pronto pra auxiliar. Talvez seja essa nossa arte, você me vê como poucos conseguem, me vê com os olhos de criança, esses mesmos olhos que brilham ao ver um embrulho que chama teus dedos, você me conversa com essa boca que sorri de forma branda e muitas vezes estrondosa. Conheço teu rubor envergonhado, teu temperamento forte em proteção, conheço tudo aquilo que você tenta não mostrar, do mesmo modo que você sabe quando é necessário apenas sentar próximo à mim para que eu respire fundo.
 Contarei aos meus descendentes que amizade é mais que um valor, muito mais que um favor. Amizade é algo irracional que deriva do amor absoluto. Não há idade, cor, sentido, movimento social nem fase lunar. Eles conhecerão da lenda que fui participante, ora coadjuvante, ora mero figurante. E o mais engraçado é que eles nunca entenderão que a distância foi o que nos aproximou, a vida nos remeteu a caminhos totalmente diferentes, e o mais engraçado é que eu deposito meus sonhos nela, e ela me oferece tanta esperança que me impulsiona de uma forma que eu sinto como se pudesse levar o mundo nas costas, meu peito se enche de um ar que é notável. Meus sonhos são alimentados também por ela.
 Uma das poucas pessoas que acreditam em sonhos, desses de querer ser quando crescer. E se um dia eu crescer, se um dia eu chegar onde ela diz que é o meu lugar, vou doar a história do meu caminho àquela que se tornou norte em meus pensamentos, ela que com simplicidade me arranca sorrisos e murmúrios. É dela a intenção que o mundo mude para melhor, veio dela a minha verdade, a aceitação que as pessoas devem se aceitar como pessoas, com suas manias, com seus desejos e temores. Aprendi tudo isso com ela. Aprendi tanto que quando comento com alguns que ela existe, me dizem que não é possível alguém assim existir, alguém que é tão verdadeira ao ponto de agradar poucos. Poucos, tipo eu. Tipo únicos, tipo nós.
 Se um dia eu me acabar, se um dia eu for dessa pra melhor, eu não me importo, mas a lenda tem que continuar, porque o bom exemplo tem que ser passado adiante. O sonho tem que ser sonhado por algum sonhador, pois vivemos em um mundo de possibilidades. E disto ela foi e é, prova viva.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Céu Vermelho

Meu despertador toca música orgânica, ao som de beijos teus eu acordo com sensação de bem-estar.
O céu é azul, tão mergulhavel... Logo não me bate saudade de outro lugar senão onde estou, envolto ao abraço que protege um universo particular. Ouço um "bom dia" as quatro da tarde, ao lado da cama um vapor conhecido, sublimação de energia e coragem. Na caneca com figuras apaixonadas guarda um amor universal, o preto e forte café.
Ajeito-me em si e fico sem graça. Isso é algo que nunca tive, uma atenção tão potencializada quanto o riscar das nuvens naquele céu rosado. Cairá a noite em breve, mas sinto o dia apenas começar, e desculpa não ouvir tuas palavras, mas tua boca providencia um desejo maior que meus ouvidos podem observar. Você fala e gesticula, não ouço nada e sorrio por teu gracejo meticuloso. Meu café está muito amargo, forte e preto.
Você para e faz cara de petulância, respondo que estou ouvindo, você não acredita, dar de ombros e vai até a janela apontar algo que não consigo imaginar.
O céu é vermelho.
"Ei!" Você clama.
Estou dormindo ainda, mas não fisicamente, talvez um torpor jamais visto, entretanto você não tem raiva de mim, você não ameaça ou briga, você me sorri e senta ao meu lado. Isso é muito estranho, meu café não está descendo como o de costume.
O céu é azul.
Reclamo agradecendo. Você pergunta o que tem de errado, e eu falo sobre o café, você me explica que já vem percebendo isso há algum tempo, que o amargo já não me atrai, que talvez eu esteja querendo algo mais doce, algo mais teu.
O arquear da minha sobrancelha te responde. Você me beija entre um gole e outro, abraça em colo e ficamos a ver o céu, o meu céu vermelho, o teu céu azul, o meu café preto, o teu sorriso branco, o nosso amor azul. Tão mergulhavel.

Percevejos

Aceitei o fato de continuar o carinho, no caminho meio torto, sentindo o relevo da estrada. Entre saltos e buracos eu não tive medo, pois o seu sorriso maroto me dava garantia de um percurso satisfatório, mesmo me deixando envergonhado com seu picar de olho moleque, eu continuei com o conforto de um semblante honesto. Meu olhar é distante, meus afagos são próximos, minha alma é duvida.
Quem garante que o que eu sou é o mesmo quem você consegue ver? Só isso explica os motivos de você chamar meu nome em meio a fumaça. Algo em mim deve garantir uma proteção ao teu aspecto normal, pois você não demonstra medo ou receio, é um automatismo fatídico que me deixa tão grande que me pego mastigando minhas interrogações.
De vez em quando é mais saudável aceitar algumas condições, por mais contraditório que seja meu arquétipo. Não temo o não, não temo o sim, medo tenho apenas de mentiras e inverdades, essas que o povose acostuma por ser mais simples.
Perceba que o melhor é se sentir bem, sem pressa, sem custeio, sem asfixiar o karma.
Veja que tudo é tão simples quanto o teorema de Pitágoras, são fórmulas pré aquecidas de uma vida morna, com temperança em não frigidez.
Perceba e veja, pelo menos como eu percebo e vejo, vários percevejos.

Elogio do Aprendizado


Aprenda o mais simples!
Para aqueles cuja hora chegou
Nunca é tarde demais!
Aprenda o ABC; não basta, mas aprenda!
Não desanime! Comece! É preciso saber tudo!
Você tem que assumir o comando!
Aprenda, homem no asilo!
Aprenda, homem na prisão!
Aprenda, mulher na cozinha!
Aprenda, ancião!
Você tem que assumir o comando!
Freqüente a escola, você que não tem casa!
Adquira conhecimento, você que sente frio!
Você que tem fome, agarre o livro: é uma arma.
Você tem que assumir o comando. 
Não se envergonhe de perguntar, camarada!
Não se deixe convencer!
Veja com seus próprios olhos!
O que não sabe por conta própria, não sabe.
Verifique a conta É você que vai pagar.
Ponha o dedo sobre cada item
Pergunte: o que é isso? 
Você tem que assumir o comando.

Bertold Brecht, "Elogio do Aprendizado",
in: Poemas 1913-1956, São Paulo, Brasiliense, 1986, p.121.


segunda-feira, 15 de abril de 2013

Pour Dor


 Meu corpo é tímido, bem como meu toque ao teu corpo.
 Não há nada de belo ou salutar, é apenas pele, pelo, pêlo, pelas.
 Tudo tem que ser perfeito para que eu tenha uma noite ou um dia verdadeiro em corpo.
 O ambiente tem que ser familiar, confortável e nada de muito exagero.

 Ao contrário que todos pensam, o lugar em que vocês estão para o pecado de nada vai adiantar, pois no fim vão ser dois animais na selva. Não haverão cobertas, travesseiros, cadeiras, mesas ou box. Vão ser os dois, talvez eu e você. Talvez ele e ela, ela e ele, ele e ele, ela e ela ou eles com eles. Vão ser sempre em pares, ímpares ou primos. Números que resultam em um somatório único, apenas um. Um ato, um corpo, um sexo.

Naturalmente as coisas vão crescendo para o pouco:
Quanto mais beijos, menos palavras;
Quanto mais perto o corpo, menos longe a alma;
Quanto mais corpo, menos roupas;
Quanto mais pele, menos pudor;
Quanto mais vontade, menos sentido;
Menos visão, mais tato;
Menos lógica, mais instinto;

 E tudo vai acontecendo naturalmente, conhecendo aquilo que já sabemos. Vamos sentido o arrepio que desce pelo pescoço no mordiscar da orelha, o suspiro de agonia dá uma tensão maior, é o "continua" que sempre se pode ouvir no silêncio dos inocentes. Arquétipos que se desvinculam do corpo, apenas duas almas que se entrelaçam com uma única vontade de serem um do outro, sem precisar construir ou destruir nada. Os dedos caminham na trilha das curvas, lambendo toda a pele que habita um querer.
 Aperta, arranha, morde, afaga, puxa... As mãos fazem uma massagem que desconstitui qualquer santo, elas açoitam com precisão aquilo que deve ser tateado, dão sentido ao entorno de movimentar, são elas que conduzem, junto aos pés, toda a dança que é o sexo. Para os mais habilidosos, as mãos são artifícios tão perspicazes quanto a própria boca, pois são com as mãos que se despem os corpos calmamente, são com as unhas que desenhamos o urro da veemência de prazer, e os pés enveredam os lençóis, abrem caminho, delimitam espaço, servem como facilitadores de uma posição de prestígio. As pernas que servem de colo são as mesmas que seguram a vítima de um beijo avassalador. 

Estes são pequenos atos de um início de noite. Algo que é embalado com um lounge muito bem selecionado e regado ao suor ameno que emana dos corpos. Entre um beijo e outro, um gole de algo gelado para fazer o tentáculo oral entorpecer  e depois guiá-lo rente ao teu ponto erógeno, as orelhas, pescoço, cotovelos, mamilos e por aí o vai. Sem controle, com remotos. Devagar e degustando cada sabor do teu corpo e nesse jogo em que todos ganham, vamos conhecendo aquilo que já sabemos.

7 Demons



 Embora aqui ainda esteja devastado, eles continuam tentando entrar, mas isso só acontece quando eles sentem um pouco mais de calor que o normal. Não são estes os amigáveis monstros que me fazem companhia, são os outros. Abissais. Eles dão medo, são medo, podem destroçar minhas esperanças e afeto com um único rasgar de dentes, presas estas que penetram firmes e rasgam qualquer coisa que toquem. Suas garras abrigam veneno de insensatez, são voluptuosas e traumáticas, tenho tantas cicatrizes que só em ouvir o rosnar lá de longe, já apago qualquer fé que tentei acender aqui dentro. 
 Não tenho janelas para trancar, não há portas para fechar. Eles só não entram porque não há nada além de mim, e isto não os atrai, não faz parte de sua alimentação, eles devoram alegria, bebem paixão e se entranham no amor. Porém, tais demônios não são hostis porque querem, mas para proteção do meu ambiente, criei-os com os melhores sentimentos, mas não tive como mais prover. 
 De coloridos e dóceis, os sete acabaram por evoluir à sobrevivência, se adequaram ao meio para não morrerem. São esguios e negros, tal como as trevas sem luar, não fazem barulho, a furtividade é arma infalível para um bote cruel e certeiro, entretanto eles são traiçoeiros, não dilaceram os sentimentos bons por simples querer. Eles sondam, avistam e estudam a presa e quando acreditam ser realmente fonte de alimento real, eles vão e encurralam-no, definhando a vítima pouco-a-pouco, fazendo o amor desejar a morte, a dor e penúria assola o antigo semblante da alegria.
 Eram meus anjinhos que tanto amava, hoje os temo, mas não por mim. Temo por todos que tentem, de algum modo, colocar meu templo de pé. Que tentem me amar.

domingo, 14 de abril de 2013

Síndrome dos 20 e Poucos



Você começa a se dar conta de que seu círculo de amigos é menor do que há alguns anos. Dá-se conta de que é cada vez mais difícil vê-los e organizar horários por diferentes questões: trabalho, estudo, namorado(a) etc. E cada vez desfruta mais dessa Cervejinha que serve como desculpa para conversar um pouco. As multidões já não são ‘tão divertidas’, às vezes até te incomodam.

Mas começa a se dar conta de que enquanto alguns eram verdadeiros amigos, outros não eram tão especiais depois de tudo. Você começa a perceber que algumas pessoas são egoístas e que, talvez, esses amigos que você acreditava serem próximos não são exatamente as melhores pessoas. Ri com mais vontade, mas chora com menos lágrimas e mais dor. Partem seu coração e você se pergunta como essa pessoa que amou tanto e te achou o maior infantil, pôde lhe fazer tanto mal. Parece que todos que você conhece já estão namorando há anos e alguns começam a se casar, e isso assusta!

Sair três vezes por final de semana lhe deixa esgotado e significa muito dinheiro para seu pequeno salário. Olha para o seu trabalho e, talvez, não esteja nem perto do que pensava que estaria fazendo. Ou, talvez, esteja procurando algum trabalho e pensa que tem que começar de baixo e isso lhe dá um pouco de medo.

Dia a dia, você trata de começar a se entender, sobre o que quer e o que não quer. Suas opiniões se tornam mais fortes. Vê o que os outros estão fazendo e se encontra julgando um pouco mais do que o normal, porque, de repente, você tem certos laços em sua vida e adiciona coisas a sua lista do que é aceitável e do que não é. Às vezes, você se sente genial e invencível, outras… Apenas com medo e confuso.

De repente, você trata de se obstinar ao passado, mas se dá conta de que o passado se distancia mais e que não há outra opção a não ser continuar avançando. Você se preocupa com o futuro, empréstimos, dinheiro… E com construir uma vida para você. E enquanto ganhar a carreira seria grandioso, você não queria estar competindo nela.

O que, talvez, você não se dê conta, é que todos que estamos lendo esse texto nos identificamos com ele. Todos nós que temos ‘vinte e tantos’ e gostaríamos de voltar aos 15-16 algumas vezes. Parece ser um lugar instável, um caminho de passagem, uma bagunça na cabeça, mas TODOS dizem que é a melhor época de nossas vidas e não temos que deixar de aproveitá-la por causa dos nossos medos… Dizem que esses tempos são o cimento do nosso futuro. Parece que foi ontem que tínhamos 16… Então, amanha teremos 30. Assim tão rápido.

Autor Desconhecido

sábado, 13 de abril de 2013

Polarizado (1)

-Bom dia!-
-Ponho a água pra esquentar.
Preparando o achocolatado.-
-Leio o jornal.
Vendo Tv.-
-Tomo banho.
Preparando mochila.-
-Toalha!-
-Coloco o terno.
Tomando banho.-
-Preparo os documentos.
Trocando de roupas.-
-Pego as chaves.
Olhando-se no espelho.-
-Vamos?
Vamos!-
-Te amo.-

Cena do Crime


Não durmo por pensar demais. Mas tem momentos que isso é algo sagrado. Me jogo em mente ao início da noite, com naturalidade tudo acontece e isso é o que mais odeio. Não há controle sobre o natural, sobre as ações contínuas, hábitos e vida. Não sei o que vai acontecer, não conjectura possibilidades.
Vai ver é apenas teu jovem coração atordoando minha mente. Seu temperamento indiferente me deixa em torpor, minha imensa vontade de controle fica temendo uma repreensão, fico com medo de você não mais querer. A avaliação dos teus olhos com brilho de faca estraçalha meus instintos mais sombrios.

-Apago a luz?

Fico envergonhado quando não sei o que fazer. Mas você me diz que sou velho demais pra ficar encabulado, que eu já deveria estar acostumado. E a noite segue como a prática comum do terceiro encontro.
Você me criticou, mas eu fiquei a noite inteira. Como se fosse natural, isso é o que mais odeio. Pois eu sabia que naquela noite algo poderia acontecer de fato, sabia que eu poderia conhecer mais do que as estrelas do céu da tua boca.

-Apago a luz?

E ficamos estáticos, nos olhando como se alguém fosse ser condenado pela morte alheia. A mente corria em números, gigantes probabilísticos. Você se aproximou dominando a ação, me tratou como eu sou, algo que você já conhecia, sem muito espetáculo, com a atenção necessária.

-Apago a luz?

O desencadear de acontecimentos deitaram cansados. Fiquei confuso por não saber se ia ou ficava, se era certo, se foi certo, se talvez seja certo tudo aquilo. Os insetos da dúvida mordiam meu corpo, não havia o que se arrepender ou voltar atrás. Aconteceu. E nós dois sempre com aquele aspecto de crime perfeito, de que tudo é possível.

-Apago a luz?
-Sim, apague.

Sim, tenho vergonha do meu pensamento, do meu corpo, dos meus segredos. Entretanto, isto nada importa. Não serei teu amor, não serei teu amigo íntimo, não serei uma lembrança viva. Fui apenas cúmplice de uma noite, dessas de verão. Sirvo apenas para preencher o teu vazio, preenchendo-o devagar, sem pânico ou dor, completando o vazio dos teu lençóis. Uma companhia perfeita para as cobertas. Uma quebra de hábitos solitários.

-Por favor, apague a luz.
-Você tem vergonha?
-Tenho mais que isso.
-Verdade, você tem a mim.


Sobre o braço dormente.

Cá estou eu, observando o teto. Sempre um teto. Engraçado como minha insônia torna-se amiga com um silente esbravejar.
Cá estou eu, observando as estrelas. Sempre as estrelas. Engraçado como minha realidade se liquefaz tão prontamente com um leve desejar.
Cá estou eu, observando as paredes. Sempre as paredes. Engraçado como meus curiosos olhos caçam algo para ler, tentando sequestrar alguma informação, por menor que ela seja.
Cá estou eu, ouvindo os carros passarem depressa. Sempre os carros cortando o silêncio da noite, tamborilando o coração, o meu e o teu. Sinfonia com teu resmungar noturno, perpendiculando os assobios do teu roncar. Engraçado como não me sinto estranho, é como se fosse mais uma vez e não a primeira.
Cá estou eu, observando você. Sempre sorrindo para qualquer coisa que faça. Ao mesmo tempo me pergunto porquê você faria questão de estar comigo, eu que apenas vejo a si como salvador.
Cá estou eu, observando o teto. Sempre um teto.
Cá estou eu, observando as estrelas. Sempre as estrelas.
Cá estou eu perdido nos meus pensamentos, confuso em mim.
Cá estou eu.
Sempre sorrindo.


quinta-feira, 11 de abril de 2013

Monalisa


Se passaram alguns dias, o tormento dela abalou tudo e todos, era mero corpo sem alma, alma sem reza, reza sem crença, crença sem esperança, esperança sem fé. Já era sabido que aquilo passaria, todos a confortavam, eles diziam coisas dessas em que se fala pra quem está triste, pra quem não pensa, pra corações partidos.
De longe eu observava.
Nunca fui de opinar, julgar, esconder ou favorecer nada que não fosse apenas meu. Evitei ceticamente dar algo à ela além da rotina, no fundo ela sabia que era o melhor a se fazer, continuar vivendo.
Mas, naquela noite, eu vi algo peculiar. Moedas à destra, vi o corpo padecer. Ela trabalhava como o de costume, mas havia algo diferente, ela estava quieta, seus dedos não esticavam, suas pernas tremiam, a lágrima caia como se tivesse vida própria. Esses traços me lembrou da obra de arte, aquela paradoxal. Monalisa ficou famosa por não saber se sorria ou se chorava, seu aspecto é um sorriso sério, um silêncio cantado, um grito inaudível.
Este aspecto é encontrado em pessoas que sofrem por amor.
Vê-la suportar a dor mais antigas de todas me apertou o peito, na garganta fez-se nó, dó. Lembranças daquela dor vieram a tona por breves momentos, mais de um lustro se passou desde o último sintoma, mas qualquer ser conhece a dor do amor.
Dói, machuca, dilacera, mas você não tem nada. Não tem fome, vontade, sono, nada. Toda a sua vida escorre em prantos, estes copiosos e sem controle. É algo inexplicável, algo empírico e evitado.
Olhei para ela com ternura, ela percebeu e pediu desculpas, dei uma brisa de sorriso, acentei com a cabeça e sussurrei um "tudo bem". Se ela soubesse como dói provavelmente estrangularia o próximo sentimento de amor, tal como eu fiz, e também provavelmente ela seria triste para sempre. Ia subsistir um corpo sem alma, mas gélido, seco e andante. Poderia tornar-se uma cética modeladora de comportamentos, uma burocrata exemplar, mas eu não poderia contar para ninguém que o amor faz isso, em verdade a falta dele.
Disse à ela o que nunca falei pra ninguém, falei que também sabia o que era amar.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Neo

A bravura que açoita o marasmo é notória. Ela caçoa de uma experiência conturbada, acreditando que tudo é muito simples e possível. Admiro o ímpeto e os termos contraditórios na busca de satisfação comum, é algo que hoje vincula-se ao querer ou ao conquistar.
Desses dois eu não preciso saber, pois te dou a oportunidade de apenas conhecer, mesmo você tendo um certo potencial de sustentar uma reforma onde cabe três vidas inteiras. Vai saber até onde isso vai, ou se vai, mas sei que aos poucos me sinto tanto quanto mais humano, menos lata.

Isso nunca vai ter fim.

Teu olhar tem um brilho de faca que serpenteia meu corpo. Tuas palavras são tolas, perspicazes, intrincadas ao aparato da gesticulação tímida.
Por alguns momentos eu me vejo projetado fora-corpo com um tipo de vernáculo que só eu me vejo atribuindo ao tempo, uns dizeres que parecem feitiços, umas observações que coçam a curiosidade.
Este é você.
A minha visão de você.
Fora dos parâmetros convencionais, um ser estranho: exótico em mente, esquisito em comportamento.
Eu gosto.
Não precisa ser 8 ou 80. Você sabe que há ponderação no universo, e que a tríade do relacionamento deve ser presente em todo momento. Mas isso eu não te ensinei, e esse é um dos meus medos, não ter nada de novo para te ensinar.
Hoje sou estagnação.
Uma preparação borbulhante, espero só a hora certa.

Abrilhantar

Já te contei que algumas vezes eu recebo presentes? Isso mesmo.
Meus maiores presentes são aventuras, frutas, elementos de criação e outras coisas que ninguém mais se importa, porém eu nomeio como meu tesouro.
Isso torna tudo uma possibilidade de alegrar o dia, o meio e a vida do presenteado, sem muito valor mas com todas as boas vibrações que se possa imaginar.
Como você sabe eu sou a pessoa mais fácil de se ter um sorriso roubado, pois até um bom dia me faz sorrir. São tesouros que ninguém percebe, mas que colocam mais vida nas vidas alheias.

Divagar

Prometi que não ia começar nada que eu não pudesse completar, mas daí acontece um turbilhão de coisas que de tantas poucas, outras tantas me sufocam. Preciso parar de pensar, tenho que tirar da mente e jogar em algum lugar tudo isso que trespassa minhas noites em contento do próprio eu, caio aqui de lá pra cá. E aos poucos vou ficando leve, respirando fundo e devagar, substituindo pensamentos absurdos por um novo e limpo espaço, publicando em qualquer folhetim uma inspiração. Lúcido, cético e cínico.
Dizem os especialistas que o tormento de calar chega ao ponto de explodir um grito, e para evitar isso eu especulo nos cadernos, nas paredes, em guardanapos, escorrendo qualquer ideia para continuar vivo. Se não entenderão isso então...

Apenas o céu

Foto por @sanamaru O amargo remédio se espreme goela abaixo, a saliva seca e o gosto de rancor perdura por horas. Em vez de fazer dormir ele...