sexta-feira, 15 de março de 2013

Sou Viciado.



Olha, vou dizer:

Desculpa se eu não tenho esse aspecto saudável que você vê em todo mundo. É que eu sou um viciado. Isso mesmo, sou viciado. Mas calma, eu sou um tipo de doente, desses tantos curáveis se quiser tratamento. Eh, eu tenho que querer me tratar... mas por agora eu não quero, a qualquer hora eu paro com meu vício. Te juro! Paro agora se quiser... apenas não quero.
Tenho os olhos fundos de noites em claro, meu nariz escorre às vezes, fico trêmulo quando muito demoro a voltar ao vício, meu humor muda, meu estômago constipar-se. Este sou eu, tentando controlar o incontrolável vicio nisso que chamam de Tristeza.
Acordo com ressaca, pois embebedo meus travesseiros com uma saudade que transborda as cercas dos olhos. A noite é um infinito espaço que pede teu corpo do meu lado, um abraço que só tu podeis oferecer, meu coração chora a falta de você, ele aperta, ele arranha a garganta, seca a boca só de lembrar de sussurrar nossas imagináveis aventuras em teus rebuliçados ouvidos.
Eu nunca tive nada para te dar, afinal de contas. Nunca te dei flores, bombons, festas, discos, roupas... Dei-te apenas a mim e todos os mundos possíveis que pude criar. Te dei aventuras fantásticas, noites intermináveis, espetáculos de acordar-cortinas, instrumentos feitos pelas minhas mãos, instruções coladas em geladeiras.
Meu nariz sempre volta a escorrer depois de tanto soluçar, é como se todos os meus sentidos tivessem chorando. Minha visão molha, meu olfato molha, minha audição seca. meu paladar seca, meu tato se vai no vácuo que você me atirou. São meus secos e molhados. Ouço um bipe que diz teu nome, me perfura o tímpano a música que tento ignorar na rua, a nossa música, minhas mãos ficam sem controle, perdem tato, meus pés se desdobram em praxe, descaminho sem saber para onde ir, a angústica fluxiona para cima e para baixo, um suco ácido e gelado no estômago querendo uma solução morna e básica que só você saliva.
Acordar depois de ter sonhado contigo é algo surreal, pássaros cantam, crianças bricam, não existe trânsito, o céu é azul e o mundo é belo. Porém, a bipolaridade emocional neste meu caso é interminável, ora te amo, ora te odeio, maldito és meu anjo! E nessa contrução de dias, cada tijolo é uma lembrança futura, uma palavra não dita e muitas músicas sentimentais de momentos só nossos.
Sou viciado. Um dia posso chegar a me tratar, e quem sabe até ser feliz. Minha doença não tem cura, apenas paliativos, são doses de amigos e famílias, de trabalhos e hobbies, de bons filmes e leituras fantasiosas. Medicação diária que pode ajudar no controle desse mal, entretanto o que realmente poderá me curar ainda está em fabricação. Sim, o destino, o karma, a sorte e qualquer provável aceita ao acaso, me trará minha medicação. Me mostrará onde você está, vou te conhecer, vou te consumir, vou te guardar e vou ser feliz.

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