domingo, 10 de fevereiro de 2013

Alienígenas


     E foi o ego que rasgou o peito e gritou: Acorde!

Entrei ligeiro naquele lugar, olhei para trás em suspeita, não vi ninguém se bem me lembro. Era ali onde eu guardara, era ali que estivera escondido todo esse tempo. Agi rápido, eles não poderiam saber que eu estava ali, não agora. Com luvas de algodão selênico cor púrpura peguei a caixa que rogava um mistério e, sem pensar duas vezes, abri. Vi uma única e brusca esfera meio ímpar, meio translúcida. Minha memória de você.


    Acorde! Sempre caio em mim com esse dizer, são novamente três e tantos da manhã e, como de costume, tentarei voltar a dormir até às 4:00, pontualmente para ver o sol nascer. Quem sabe dessa vez eu vejo o neon do alvorecer, quem sabe assim ou tanto faz. Acorde! São já umas quatro, a penumbra era convidativa, postei ao sereno com meu velho e amargo café, e assim, lapidei a memória daquela aventura. Lembro vagamente que era carnaval, uma seresta talvez, um nojo de um lado e uma comédia do outro, uma alegria que tomara conta de todos naquele, acho, galpão. Uma simples conversa e sorrisos perdurou no tempo, de um esticada na calçada da vida até uma lasanha cumpliciada. Cortei a noite como uma sutil faca na realidade, conversas, risadas, carinho, refúgio. Faz um longo tempo, um mal entendido, uma tremenda perda de tempo. Creio que por mais simples e marcantes sejam as coisas, como em um iô-iô, mesmo que volte ao normal, nunca será normal.
    Assim como eu já era ligeiramente incomum, hoje sou muito mais. E tantas coisas muito menos. Talvez eu veja o mundo como as girafas, o único animal do planeta que eu nunca vi credibilidade cristã. Laranjas da cor do calor, com "antenas", línguas azuis e longos pescoços. De todos da Savana, o mais caricato. Porém, meu amargurado ornitorrinco  meu animal favorito por ser nem isso e nem aquilo, e tudo ao mesmo tempo, nem ele é capaz de julgar nada ou ninguém, apenas vê o rio passar e quando possível ele age. Conforta, desconforta, encanta e se faz por odiar.
    No fundo, lá no fundo, ninguém é daqui. Somos todos alienígenas do universo de outrem. Mas por várias vezes o ser extraterrestre nos ensina tanto que acaba por habitar nossa realidade. Nosso ser.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Apenas o céu

Foto por @sanamaru O amargo remédio se espreme goela abaixo, a saliva seca e o gosto de rancor perdura por horas. Em vez de fazer dormir ele...