quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Absurdo

Não invada o espaço de outra pessoa. Isso se chama violação de privacidade, é irritante, é mal educado, é devastador.
Todo ser que se prese tem um momento íntimo. Este momento são aqueles segundos ou minutos onde o indivíduo necessita ficar sozinho, onde este torna-se vulnerável. O meu espaço íntimo é o banho, momento o qual não divido com ninguém, sinto-me altamente violado quando sou obrigado a compartilhar de tal momento, é uma sensação de impotência, de vicissitudes dilacerantes. Há quem não escove os dentes em frente a estranhos, use o mictório, coma, fale ao telefone ou até mesmo dormir. A intimidade não é necessariamente ficar semi nu ou nu, como no ato de tomate banho, pois imagina quem se sente violado só falar ao telefone perto de estranhos e estes ficam observando? Cada um tem seus absurdos consideráveis, isso é característico e metódico. Respeite.

Cobalto

Sou teimoso de dar dó! Você bem o sabe, então por que confia em minhas palavras?
Não sei onde isso vai dar, mas estou indo em passos naturais. Esperando apenas a sincera e resmungante conversa ao luar. Nada de muito especial, além de tudo que possamos passar, sem expectativas, sem floreios, sem nada além de bom senso e consideração.
Eu queria ter um sentimento maior do que o coleguismo, mas não tenho. Não posso ter algo que não é meu, embora eu vá olhar-te com ternura. Em algum lugar sombrio reside meu temperamento amável, combalido e desgrenhado pelo tempo, balbuciando resmungos e maldições.
Eu sempre darei bom dia, sempre perguntarei como foi o teu dia, o que teremos pro fim de semana, sempre terei interesse em tua vida. Eu não prometo cuidar, mas estarei por perto quando plausível, quando eu estiver bem consigo, quando eu puder te olhar sem me questionar onde estou.
Eu não sei falar de amor. Sei falar do que sinto, se fosse pra falar com esmero de algo que desconheço eu seria leviano, seria relator de saudades. Mas não peço amor, nem duvido que ela seja utópico, só acredito que o verdadeiro e perecível acontece em anos tipo bissextos. Dessas épocas quer criamos coragem em vinte segundos, que entregamos margaridas em uma sexta-feira, que tiramos fotos no trânsito da avenida do Futuro... Momentos do cotidiano que são únicos por serem ao lado teu. Dias de cores que o teu olhar sabe apontar.

57 Minutos

 
Sem floreios, apenas o seco e áspero arquétipo. Este sou eu.
Ao telefone eu comentei sobre você, porém não tive algo bom em troca. "Saia dessa, é problema demais." Demais isso para mim? Demais por ser além do que já vivi? Demais... de mais.
Estrangulou as ideias e o estopim foi um advérbio. O logaritmo das possibilidades resumiu em convexo reflexo meio pontilineo, e se fosse eu?
Meu umbigo não é diferente. Eu posso ser o "é problema demais" de outras pessoas, ou melhor, eu sou um acumulado de problemáticas que não tem fim, tampouco luz no fim do túnel. Isso me fez tão mal, ver o outro sendo eu é muito covarde, sim ele pode ser uma pessoa boa, pode ter um sucesso e futuro brilhante, já eu... Ah, eu tenho minhas próprias convicções, realizo o cromo perdurado em dicotomia assistida. Honesto contigo e consigo ao ponto de dizer-te "sou problema" sem tirar vantagem do sorriso sincero, ser como sou, como vivo e as pessoas que me cercam é o quer eu chamo carinhosamente de "minha vida". E nesta, apenas eu posso comentar, por isso respeito os outros e suas vivências, sem excluí-los da lista só por serem, talvez, iguais a mim.


Entre Eles

Na verdade eu não me incomodo com os descontroles que vejo saltar aos olhos. As vias de acesso social sao cada vez menos filtradas, daí fica uma centelha de idiotices, desencantos, propagandas, animais perdidos, lugares inventados e lavagem de roupa.
Não há reciprocidade se houver bom senso. Acho que é assim que se desenvolvem certos tipos laços, ou então somos ignorantes ou tolerantes, ou até ambos apenas pela "pessoa". Porque tem horas que as redes sociais são alvejadas de socialismo medíocre, esse que usa Holister. Tem comentários de intelectuais que nunca leram mais que um resumo qualquer. Citações com trespassagem de autor, pelo menos acertem os autores, ou então coloca "não lembro" ou então vão ao Google!
É tanta coisa que acontece que me pergunto se as pessoas me vêem assim, com ar de pseudo intelectual, de humorista virtualizado ou até comentarista de status alheio.
Entre eles todos vestem a mesma roupa, não há distinção de cor, raça, sexo, classe econômica, nada. Somos todos usuário coligados ao sistema de comunicao. Somos todos reflexo de um embaçado espelho.


segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Beta


 Lembro que a inovação começou aos vinte anos, como se eu tivesse acordado para a vida, mas hoje eu sinto como se fosse um Beta, uma forma humana melhor condicionada aos problemas e vivências que a vida pode oferecer. Antes, eu caminhava com a mente aberta e os lábios cerrados, hoje todos se acompanham, seguidos de ações inesperadas e cálculos utópicos de avaliações automáticas. O que isso quer dizer? Bem, eu posso apenas resumir que, além de ver as possibilidades que se possam surgir com o "caminho não tomado", vibra em centelha mental as variantes e pre conclusões das situações de fato, como se vivesse em eternos micros déjà vus.
 Ser um Beta, uma versão teste de tudo o que você se imaginou no passado é muito intrigante. Faz a gente roer as unhas e se perguntar "e depois?", porém tomamos uma decisão e vamos em frente. Isso é crescer, é tomar as variantes conjugáveis e motivar as consequências, o medo que acompanha o risco é tão excitante que, às vezes, nos testamos só pelo "talvez", o fim já nem era assim tão interessante.
 Atualize-se, inove, busque o que te falta. A acomodação mata nossos somos por simples não-desenvolver. Querer alguma coisa é muito mais do que o simples pensar, daí surgem as experiências no correr atrás, podendo bater em muros ou cair em buracos, entretanto dar o primeiro passo é fundamental. Deixe a versão antiga lá atrás, as definições de você foram atualizadas, seja um Beta. Arrisque!


Paisagem


 Eu fiquei ali, ouvindo tudo o que não deveria ter ouvido, numa posição de bode expiatório. Eu sabia que o ataque não veio para mim de forma direta, mas qualquer pessoa que vê seu nome lançado na fogueira se revolta, mesmo que tenha culpa e muito mais quando não possui qualquer ligação.
 A paisagem se fez onde eu estava, uma estátua de mim continua a fingir muito bem que não estava ali, não era de mim que estavam a falar, mas fui objetivo de violência e forte indagação. O alvo da discussão se magoou da forma mais devastadora possível, ele tocou no assunto mais polêmico que se poderia imaginar, ele falou do orgulho. Mas de um orgulho como algo praxis, este orgulho é tipo uma desculpa de esperança para guiar os distraídos, algo que se possa bater no peito e dizer "não foi em vão", algo para apontar e dizer "olha lá, faz como ele."
 Embora o ataque não tenha sido direcionado para mim, e eu não o tenha contestado ou sequer dado atenção física, eu não consegui ignorar a mortal ameaça daquele que eu apoiei  Eu, única pessoa que respeita o espaço físico e mental, eu que sempre apoiei e orientei sempre que cabível, eu que nunca levantara o dedo indicador para humilhá-lo... Eu fui o único que agi de bom senso e compreensão. Não tenho raiva, ódio, chateação, apenas depois daquele acontecimento, aquela pessoa tornou-se apenas uma pessoa.
 Nunca fora meu amigo, nunca me ajudou em nada, sempre subtraiu do meu ser, dos que me circulam, e eu sempre ponderei. Sempre o vi como pessoa que merecesse minha atenção suplicada. Pena que o Buda que existe em mim está cada vez mais humanizado, atrevidamente mortal. E tal como uma bomba que explode e tudo ao redor é devastado e não volta ao normal, tal como um avião que cai e não mais volta a voar, bem como uma bala que atravessa o cano da pistola e nunca mais verá aquela passagem, eu hoje imortalizei a imagem dele como alguém. Um qualquer na multidão. Aquele por quem você passa e mal percebe sua vestimenta.
 Esse familiar para mim é um estranho. Ele matou o sentimento de humanidade perante a ele, tenho medo que isso não seja uma fase e que ele nunca volte a ser uma pessoa de verdade, continue um detalhe borrado no canto da página de minha família. Aos meus olhos não vejo nada, os outros continuam como se nada tivesse acontecido, mas sei que eu deveria ignorar tal feito, como tudo o que acontece de ruim em minha vida, porém não me vejo com minha testa escrita com palavras de chacota, eu vejo em meu peito o orgulho de ser eu.




Na Ponta


 Sinto as palavras saltarem da ponta da língua pra fora, como um deslise entre rochedos que antes trancavam as portas da prisão, hoje estão em compatíveis sistemas de auto ataque. Chegando a esmurrar as pessoas com as ideias que antes perduravam nas madeixas, hoje são rajadas inquietas de realismo, já que rude sempre fui, hoje estou mais insuportável, hoje eu faço quando necessário, falo quando quero.
 O que pode ser um temporada de riscos para as pessoas que se dizem meus amigos, pois se antes a acidez era maleável, hoje ela pode ser uma bela cuspida de lhama, seja por arrogância, seja por falta de paciência  Entro em teste com minha própria rotina, tentando não ser tão áspero quanto são meus pensamentos, tentando assim, dosar os arquétipos que se apresentam, que me testam.
 De fato, e muito notório, a ação do inerte é algo que choca. Combalido pelo próprio sistema de autopreservação, este ficava apenas a observar, o que sem um mero controle rente ao abismo das possibilidades, aguarda na ponta do penhasco, sentindo o momento certo para lançar-se sem medo para a hora de agir.


quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Aconchego


     A vida amorosa é como as estações do ano. Sabemos o que pode acontecer, do jeito certo, do jeito errado, encontramos as variantes, nos preparamos, as enfrentamos, sorrimos e choramos, corremos sem roupas, nos agasalhamos bem muito... E sempre em ciclos e ligeiramente sutis, as estações vão passando. Ficam apenas as memórias de tempos bons e ruins, apenas memórias.
      E quanto mais as estações passam, eu me pego com alguns conceitos determinados para não fazer feio e estragar tudo. Fico no meu lugar, sem mais apelar para a atenção de ninguém, correndo as próprias lembranças, lançando-as na lareira da esperança, lentamente apagando, quase uma leve chama tentando me aquecer, me confortando que ainda não morri de frio, que ainda não congelou meu coração. 
     Sem raiva, sem sorte, sem nada além de mim e algumas poucas folhas de memórias vividas intensamente, de um jeito nunca visto antes. E tentado vivê-lo, transcrevê-lo em novas anotações, mas essas são sempre de poucas páginas, quase um folhetim de puro use-e-jogue. Mas eu não posso reclamar, afinal de um guichê rápido, apenas coisas superficiais. 
     Aqui dentro continua abandonado. A minha inquilina, a solidão, se foi sem dizer se voltava. Sobrou eu e alguns poucos móveis, desabando em minha cabeça todo aquele sentimento de agir. Não sei por onde começar, não sei como agir, atropelo-me com os mais variados argumentos tentando me convencer em te chamar pra sair, em te chamar pra conversar. Dizer-te "bom dia" consome tanto minhas chamas que a cada dia é como um chamado para a morte lenta e frívola que aguarda meu interesse por ser teu.
     Vai ver seja esse o problema, minha presença. Que dilacera em não ter comunicação direta, que atormenta os dias e noites em horas de inercia, acredito que se afastar seria o mais saudável para mim, tentar cicatrizar uma ferida inexistente para que depois de um tempo eu possa olhar uma foto tua sem acelerar meu peito, sem tremer meus dedos e gaguejar asneiras. Sou imaturo, sou infantil, sou tudo isso que não merece nada além de olhares de pena, quem sabe depois disso eu consiga um pouco mais de coragem, de iniciativa, de auto-estima. Quem sabe assim eu te diga que eu existo e você possa saber meu nome.
     A imagem continua, alegre, diferente, olhos sonhadores e sorriso bobo, mas dentro, lá no peito, uma agonia borbulhante que chama teu nome, que chama um abraço de saudade. Mesmo sabendo que possa até não sair disso, de uma amizade distante, mas já imaginei tudo perfeitamente, desde os presentes em datas comemorativas, até os lugares que você gostaria de conhecer. São tantas coisas que eu já conheço teu só de inventar que, ouso até dizer, poderíamos ser felizes para sempre. Sempre que quiser ficar do meu lado.

Varal


     De todas as minhas manias, a melhor é de inventar situações com certas pessoas, viver diálogos, momentos, aventuras, brigas e reviravoltas. E quando acontece algo do tipo, na vida real, eu fico repetindo aquilo que imaginei.
     Vivi um momento de desabafo, em um ônibus qualquer voltando para casa. Estava tão bem consigo que não observei as pessoas ao redor, nem sequer percebi a música que ameaçava romper minha projeção. Dilatei minha pupila, olhei para minha frente, e turvo irreal dissolveu em imagens. 
     Olá sumido. Foi a frase de efeito, logo fiquei chateado com o termo e antes que pudesse dizer alguma coisa, mandei logo uma tijolada:

Então, espero que você estejas bem. Eu estou ótimo apesar de umas coisas, mas nada que a vida pare por isso, ou melhor, ela anda rapidamente por conta desses tais acontecimentos. Desculpa se eu sumi, é que eu comecei a te tratar do jeito que me tratava, apenas comecei a só te responder. Por isso não houve mais nenhuma ligação, mais nenhuma mensagem, mais nenhum comentário em fotos ou emails, não houve nada além de silêncio. Mas a vida continuou, e muito ligeira depois de tudo, lembro que um dia você estava aqui e no outro não, sem intenção de voltar, por mais que eu tivesse investido em algo, mesmo que pouco. Eu te dei de presente a coisa mais preciosa que pude dar, atenção. Mas não se preocupe, não tenho raiva, rancor, nada disso, sei bem como é ser enganado por si, eu que tive uma certa esperança que alguma coisa poderia se fixar no raiar do dia, mas fora apenas uma noite de diversão. Sou adulto, aceito as consequências das minhas decisões, sem por culpa em nada ou ninguém. A vida segue, é o corre-corre que me faz não ter tempo para conversar, mas tenho tempo de ir as festas da região, tenho tempo de ir para outras cidades e pegar um sol, tenho tempo de planejar tudo sem você. Aprendi isso contigo, e que a vida é uma vadia ingrata que nos consome atenção. Agradeço a ele por não ter deixado lembrar do teu rosto, seria bem pior ter passado por isso achando que um dia poderia começar a dar certo. Eu nem deveria falar nada, sabe? Porque soa como frustração, recalque ou chateação, e não é verdade. Sempre te respondo o que me perguntas, coisas profissionais, óbvio. Respondo aqui e lá por uma coisa que eu tenho e que você não tem, nunca teve para comigo, algo chamado consideração. Sei que não és uma pessoa ruim, é o viver de cada um, é distância, é temperamento, são planos para o futuro, e em tudo isso eu te dou um bônus, minha compreensão. Mas por favor, não diga que eu sumi. Eu estava aqui o tempo todo, só você não viu.


    O fato acontece, no mesmo dia por ironia do destino e todo aquele desabafo ficou abafado, no peito triste de alguém que lê palavras de promessas frias. Mas hoje nem faz efeito, é algo digno de pena, pois acreditar em coisas assim só se for por carência, pois todos dizem palavras bonitas e fingem se importar, mas demonstrar que quer te ter do lado... ninguém o faz. Então, antes de qualquer esperança brotar, jogue as palavras no varal e espere secar todo o floreio, espere o sol queimar as estampas de interesses e você verá o que importa, se a roupa realmente vale o uso, o passar de roupas em carinho e atenção, o guardá-las para proteção e consideração. Jogas no varal e espere.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

I Am Am I Who I Am?


     Eu fiquei ali parado por vários minutos, esperando, na esperança de uma voz. Senti o calor se aproximar, era ele, mas não dei importância, não era meu objetivo naquele momento. Nada aconteceu. Seus olhos curiosos beliscavam meu pescoço e logo iniciamos um diálogo de uma pessoa só.

-Será que ele morreu? Perguntei.
-Ele já está morto.
-Eu sei, mas...
-Não sei, pode ser que ele esteja em mobilidade. Faz tempo que ele não se mexe?
-Fará um semestre na próxima quinta. Devo me preocupar?
-Talvez não, lembra que eu fiquei imerso durante quase dois anos?
-Lembro. Mas foi necessário.
-Eu sei, mas você também se perguntou se eu tinha te deixado.
-Verdade. Talvez seja mesmo mobilidade, mas não sei, não queria que fosse.
-Ele não vai deixar de existir, foi você quem deu vida ao pobre ser. Deu até uma inteligência que você mesmo duvida.
-Hahaha, isso é verdade. Sempre me surpreendo com o Mr. Edmond, mas ele sempre foi minha única companhia.
-Oi?
-Desculpa, mas ele não sou eu, tipo eu mesmo.
-E eu sou?
-Tecnicamente...
-Tecnicamente somos todos frutos da sua cabeça, até mesmo você.
-Hum... E você veio aqui para quê?
-Para te mostrar umas coisas.
-Seja breve.
-Como uma faísca.

Lírico Tormento


     O problema de dormir não é o fato, mas a consequência. 

Ter pesadelos é tão pior quanto passar a noite acordado, mas nem sempre tenho pesadelos, na maioria são apenas sonhos ruins. O que seriam tais sonhos? Conversas com pessoas que gosto muito, mesmo sabendo que nunca aquilo aconteceria, são lugares para visitar, propostas a fazer, soluções de problemas... Coisas que normalmente não aconteceria, de todo o horror só a consciência do que estou a fazer, de saber o que é certo e errado, de lembrar do antes e depois, de saber como cheguei ali e pra onde vou. 
O pior de um sonho ruim é quando você cai, não acorda e fica agonizando ao chão.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Tempos de Narcisos


     E hoje eu acordei ótimo. Fazia um certo tempo que os psicotrópicos não surtiam efeito, mas hoje foi diferente. Consegui manter a constância de oito horas de sono sem acordar, sem sustos, medos, receios, ou lembranças ruins de sonhos catastróficos. 
     O dia começou maravilhosamente lindo para um sábado qualquer. Dia de ir à praia, de ficar em casa, de ler um livro, de dançar em um clube, de ir ver os amigos antigos, de marcar um encontro com os novos. É tempo de dizer "estou ótimo!". Começando uma dieta, indo marcar presença no rodízio mais próximo, vestir aquela roupa que nunca usei, ou até mesmo doar as que já uso faz dez anos. É tempo de inventar, de renovar, ou melhor de inovar.

     Aprendi que ser, estar e fazer, são verbos que não custam aprovação de terceiros bajuladores ou causadores de hipocrisia gratuita. Digo isso por padrões pessoais de aceitação notória, meus pais são os únicos que atribuem um certo valor específico em questões de avaliação, e eles não interferem. Por isso e tudo mais, eu apoio a nova leva de sentimentos. Permita-se!
     Faça uma tatuagem, aprenda a dirigir, solte balões coloridos no meio do centro da cidade. Sorria. Ser feliz custa pouco, ser original é tão simples. Quando foi a última vez que você fez algo pela primeira vez? Imagine algo que gostaria de fazer e veja se está a tua disponibilidade, invente algo extraordinário. Diga para alguém que ela é a pessoa mais linda do mundo, dê flores, adote um cão. Seja uma dessas pessoas utópicas. Se a vida te der um limão, faça uma lasanha. E deixe a vida se perguntando "como você conseguiu isso?"


Poisoned


     Talvez ela tenha razão. Talvez o céu seja mesmo azul.

Vai ver seja por ser melhor ficar distante que acabara de acontecer o fim. Dissipou com esmeril degradè aquela composição de interesse, como uma ventania que sustenta a poeira em redemoinho, como um trincar de vidros repentinos, como um desgosto pelo comum. Findou-se em si, uma autodestruição invisível que só acontece no infinito particular que eu crio. Acabou.

Manter uma distancia proximamente longínqua é o que me deixa confortável para ir e vir sem ter que muito explicar. Não voltarei com margaridas na mão, nem sei se conseguirei seguir calçado, tenho tanto para enfrentar que o que possuo não importa muito, contanto que eu continue sentindo o sol sobre os ombros esguios, o luar entre o bater de dentes e os climas mutáveis desta dimensão, sempre seguindo em frente. Rente só o coração.
Me sinto como um metódico desorganizado que, em busca de prazer celibato, costura ácidas nuvens de querer. Na verdade algo tóxico, sim muito tóxico. Usando fios de randamônio para deixar fluorecente os ideais conquistáveis, atraindo outros eventos, acumulando desejos ríspidos de crias agudas. Esse sou eu. Por ser um pouco distante, peço aproximação, nada além de uma esfera amistosa de vínculo vibrante. Me ter como potencial amante é como engarrafar cicuta, vende-se bem pelo rótulo, um pouco de gás e agito e o som é explosivamente dançante, com gosto tipo agridoce (meio agri, meio doce), mas por fim a morte.
Não é ácido, é veneno. Pensei que fosse venenoso por sentir dores, as dores que sentia eram de coisas que me maltratavam, então era só sarar que eu seria novamente saudável, não seria mais venenoso. Pequei. Pois o tempo passou e eu me afastei, evadi de um mundo cruel e monocromático, criei então um mundo seguro de tudo que faz mal, criei vários universos para meu próprio contento, mas isso não foi o suficiente. Eu me adaptei ao ir e vir dos universos, ora os meus, ora o teu. Entretanto, continuei venenoso. Todos que chegam a conhecer o toque do meu sentimento morrem, subitamente envenenados. Cicuta. Fui chamando pelo Id de  Mamba Negra, e isso me marcou. Meus poros em tempos incontroláveis expelem veneno. Ácido. E eu hoje, entendi o porquê.
A dor que eu senti foi tão grande, tão marcante, cruel, destrutiva e implosiva que aniquilou minh'alma. Tão profunda que invadiu meu espírito, pingou ódio no receptáculo da esperança, contaminando o eu. Amargou-lhe o espírito e envenenou a minha vida.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Ricochete


     Uma indireta pode ser tão mortal quanto um tiro na cabeça. Atente para o alvo em potencial e se for em meio ao campo aberto, não tire o colete que te protege, às vezes uma bala perdida te faz de certeiro por mero efeito. Efeito ricochete.
     Quando você veste a carapuça mesmo conjecturando mil hipóteses de que aquela indireta não foi para ti, você especula possíveis motivos para ouvir ou ver aquilo que não fora direcionado com dolo. Isso em tese pura que somos vítimas alheias, pois buscamos desculpas para suprir uma indagação, talvez, inexistente. "O que será que ele quis dizer com isso?" Nos perguntamos. Daí surgem milhares de centenas de respostas, o que pode nos fazer sangrar é a simples especulação.
     Quando nos jogamos à frente de uma ricocheteada indireta, provamos que tudo é uma questão de foro íntimo. É como jogar uma granada dentro de uma quarto com pessoas dentro, uns vão se machucar mais que os outros, mas todos serão lesionados. Bem assim é com uma indireta em meios sociais, sejam eles virtuais ou não, todos vão sentir o impacto, uns vão sentir o efeito rasgar o ego e sangrarão, outros vão sentir os estilhaços que se ricocheteiam nas paredes das dúvidas próprias.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Cansei de Ser Sexy



    Aprendi que a vida deve ser entoada como uma canção de ninar. Simples, breve, com sustenidos e autênticos guturais. Bem assim é a hora do grande final. Não me leve a mal, mas eu cansei, então: Que se foda tudo! 
    As diretrizes dos resultados sobre os porquês que me clausuram o peito é sempre a mesma correlação, mesmo impacto e força motriz. Se eu sou tão bom quanto todos dizem que sou, então porquê estou sozinho? É muito bom elogiar por achar gratificante, mas torna-se vazio se não perpetuar uma ação de firmação. Dizer que alguém é bonito e depois citar salteados defeitos é meio que contradicto e infantil.
    Se foda! Não invisto em mais nada e ninguém além de mim. Espelho serei ao teu processo de sustento amistoso e ambíguo, sua projeção não será mais concretizada, não por mim. É tempo de narcisos no jardim das ostentação, o ego vai inflamar como numa explosão digna de parapeitos flamejantes, estilhaços vorazes e barulho ensurdecedor. 
    Vai doer, vai sangrar, mas será assim. Filas e filas de puro desdém, até sem merecer, só por prática nunca usada por esmero do comum. Fodam-se! Corra atrás com todo fôlego possível, rasteje por quem gostas mesmo sendo desnecessário, salpique coragem nos atos de validade, seja brusco nos movimentos de alusão. Faça acontecer, faça merecer! Se você é colocado no patamar de culto intrigante, faça por merecer, não duvide da prática abusiva de si, observe se vai magoar, caso não, continue. Se você não for o que ele quer, você será de alguém. Respeite e deixe chover.
     Para as decepções um FODA-SE bem grande. Vamos continuar a nadar, deixando para trás tudo que nos faz mal, querendo sempre colher os bons e tradicionais frutos que plantamos com esperança. Não precisamos nos provar para ninguém, nos mostrar capazes de ser ou ter algumas coisa. Se você acha que me merece, demonstre, seja fiel aos seus ideais e verdadeiro nas palavras, não adianta pomposidade, pois hoje nada, NADA, me impressiona. É mero perder tempo se vier com joguetes clássicos de outros planetas, conheço todos os tipos de tripulações e, desde Apollo 13, meu planeta tornou-se hostil.
     Tenha calma, respire fundo. Mantenha foco, fé e força naquilo que você é, no que você quer. Companheiro, colega, amigo, ficante, namorado, noivo, marido e amante são substantivos simples, eles derivam apenas de você, é você que adjetiva-os com o que quiser, desgrace-os, congratule-os, esses adjuntos advitais são meros percentuais de vida, sua vida. Não vincule alguém ao teu crescer. Pessoas são para os conjuntos básicos da matemática. Somam as vidas, costumes, valores, problemas, experiencias... subtraem as dores, as contas, os passados e tribulações, multiplicam a felicidade, as aventuras, as histórias infinitas, os amores... Dividem tudo, um corpo, uma mente, uma escova de dentes... eles se fundem em um só. Isso é relacionamento, agregados de valores que se moldam e entrelaçam no cotidiano.
     
Se não for assim, passar bem. Apenas respeite.




Ornithorhynchus Anatinus


 Se em uma entrevista me perguntassem que animal eu seria, responderia sem pestanejar:  Ornitorrinco.

Tigres, leões, cães, gatos, pássaros, jacarés, tubarões... nada disso seria realmente eu. Teria que ser um animal único, de característica quase impossível por mais natural que fosse visto em seu próprio habitat. Além de ser personagem de aparência agradável, são fiéis e dóceis, sobrevivem arduamente nos climas australianos e tasmânios. É um mamífero semiaquático, possuindo diversas adaptações para a vida em rios e lagoas, entre elas as membranas interdigitais, mais proeminentes nas patas dianteiras. É um animal ovíparo, cuja fêmea põe cerca de dois ovos, que incuba por aproximadamente dez dias num ninho especialmente construído. A fêmea não possui mamas, e o leite é diretamente lambido dos poros e sulcos abdominais. E os machos possuem esporões venenosos nas patas, que são utilizados principalmente para defesa territorial e contra predadores. Possui uma cauda similar a de um castor, possui também hábito crepuscular e/ou noturno. Carnívoro.


  Preciso dizer mais alguma coisa? Mas por que você se vê como um ser tão bizarro, quase uma fusão de bichos aleatórios? Bem, eu sou uma fusão de entendimentos e creio em possibilidades. Porquê não? A justificativa não é lá tão reconfortante do mesmo modo que vejo uma pessoa que tem uma hiena como totem e ela se vê como o leão da savana. Alguém vai mostrar que ele está errado, mas se ele não aceitar, nada mudará, para ele sempre será o próprio leão; Ou até mesmo aquele que se vê como um furão pode ser na verdade um lobo guará, ou apenas uma serpente mais ardilosa. Não importa, a metáfora de Totem como decifrador de personalidade e comportamento vai além de uma simples visão em entrevista. 
   Uma hora o animal interior encaixa tão perfeitamente quanto o vestir de uma roupa antiga, outrora pode ser um nada a ver muito grande, tal como os resumos de personalidade dos signos. Quem dirá seu animal é você mesmo, em uma transcendente viagem a procura de si, e ainda assim não terás a certeza do motivo daquilo, não saberá as razões para acreditar, mas se um dia isso acontecer, se se deparar com uma translucida indagação que apenas uma imagem responderá, aí você entenderá o ciclo, os sentimentos, as resistências e tudo mais. Como um mergulho profundo no lago para esfriar o corpo que esguia entre a correnteza, abrindo as patas membranosas e vivendo as possibilidades de ser único.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Cerquilha


     Não importa o efeito que se torna necessário fazer, você não é obrigado a fazê-lo, sabia disso? Não é porque você está em uma rede social que tem a função automática de curtir, ou compartilhar tudo e qualquer coisa. Seja ela de amigos ou não, peneire tudo o que você faz. Ninguém vai se chatear porque você se omitiu, não viu ou até não gostou de algo que lera, a não ser que seja uma namorada, marido e coisas do tipo. (Ciúmes podem gerar conflitos extras)
     Vamos supor que eu goste de uma foto tua, você não precisa gostar de uma minha. É sério. Faça apenas o que o teu dolo, tua vontade, teu querer "quiser". Redundante do mesmo modo que suplico-te, se não gosta das coisas que faço é só se retirar. Parece fácil falando não é? Mas, fazendo é mais simples ainda. Acredite.

     Quem tem uma amizade reflectiva em redes sociais e trás isso para o cunho da valoração, não é pessoa de personalidade compreensível ou adulta. É o famoso dono da bola, só deixa brincar se brincar também e vice-versa, no mundo digital. É confuso ver isso em tempos modernos, pois é diminuta a solução pra isso, um singelo bom senso. Se eu for fazer uma festa que só toca pagode, se apenas irão amigos pagodeiros, num local totalmente odioso por você, será que eu nunca mais olharei na tua cara penas porque sei que você não curte essas coisas e você é "obrigado" à ir pois é meu amigo? Cara, se você é realmente meu amigo deve entender que eu compreendo todas as possibilidades e espero o mesmo de sincero coração.

#Cresça



Em Tempo


Contei meus anos e descobri
Que terei menos tempo para viver do que já tive até agora....
Tenho muito mais passado do que futuro...
Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de jabuticabas...
As primeiras, ele chupou displicentemente...
Mas, percebendo que faltam poucas, rói o caroço...

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades...
Inquieto-me com os invejosos tentando destruir quem eles admiram.
Cobiçando seus lugares, talento e sorte...
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas
As pessoas não debatem conteúdo, apenas rótulos...
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos...
Quero a essência... Minha alma tem pressa....
Sem muitas jabuticabas na bacia
Quero viver ao lado de gente humana... muito humana...
Que não foge de sua mortalidade.
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade....

(Rubem Alves)


Relva


     Tudo é uma questão de tempo, e o teu ainda está por acabar. 

Não serei lembrado, isso eu sei, não tenho citações memoráveis, feitos gloriosos ou ações inglórias, momentos marcantes ou derivações sociais. Sou invisível. Alma comum entre as demais, vigora em corpo um espectro de projeção latente, inerte em questões psicológicas e doentias oriundas da timidez. Sempre uma questão de interação adjacente aos costumes e virtudes comportamentais. Além da ideia, nada mais. O virtual cultiva as possibilidades e vomitá-las para um ataque de razão se faz desnecessário e ambíguo. A memória daquele que um dia foi destaque será eterna, no oculto e longiniano espaço mental. Não me entenda mal, a vida acontece. Pessoas aparecem, ficam, se vão, reaparecem... É assim todos os dias. Acontece comigo, acontece contigo, apenas acontece. Isso não quer dizer que terá menor ou maior significância já que até nos mais bem cuidados monumentos cresce relva ao redor. É inevitável.
É o tempo criando vida, fazendo correr o mundo. Girar mundo cão.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Momento


     Seus olhos encheram-se de saudade. E ao contar sem detalhes sobre o ocorrido, ela viveu por um breve momento todo aquele amor. Apenas dois meses, disse ela falando sobre duração, mas seu peito contava mais do que aqueles dias, eram vários anos de paixão, de carinho, de problemas e promessas. Por fim, saudades.
     Não é questão de saber lidar com a realidade, mas ter em mente o que pode-se fazer quando o coração aperta na calada da noite, quando o silêncio é ensurdecedor, quando o frio percorrer o corpo sussurrando arrepio. Como pode você gostar tanto de alguém e você não poder estar perto dele? Isso corrói qualquer pessoa, mesmo entre brigas e discussões só a gente sabe como é gostar de alguém. Não é cegueira, é conforto. De algum modo, nem que seja miraculoso, esse alguém nos fornece uma paz, um refúgio, um amor.
     Espero que ela, figura simpática que recebe estranhos todos os dias como se fosse a primeira vez, esperançosamente aguardo receber daqueles lábios as boas novas, seja desse ou qualquer outro relacionamento, quero ouvir histórias confortáveis de felicidade. Ouço a tristeza com tanta naturalidade que um simples sorriso é destacável, principalmente vindo de alguém que você gosta, assim de graça, como se já  conhecesse por tempos antigos, um nexo amistoso que pode nunca se desenvolver, mas que naquele momento, só o conversar, desabafo d'alma triste, fora necessário para recomeçar.
    Talvez ela nunca supere a perda, talvez ela ainda sofra todos os dias ao acordar e não encontrá-lo ao lado sorrindo para ela com tom de bom dia, talvez ela encontre um novo amor, talvez ele volte para ela, talvez eles nunca mais se vejam na vida, talvez ele morra, talvez ela morra, talvez o sentimento morra naquele momento. 

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Alienígenas


     E foi o ego que rasgou o peito e gritou: Acorde!

Entrei ligeiro naquele lugar, olhei para trás em suspeita, não vi ninguém se bem me lembro. Era ali onde eu guardara, era ali que estivera escondido todo esse tempo. Agi rápido, eles não poderiam saber que eu estava ali, não agora. Com luvas de algodão selênico cor púrpura peguei a caixa que rogava um mistério e, sem pensar duas vezes, abri. Vi uma única e brusca esfera meio ímpar, meio translúcida. Minha memória de você.


    Acorde! Sempre caio em mim com esse dizer, são novamente três e tantos da manhã e, como de costume, tentarei voltar a dormir até às 4:00, pontualmente para ver o sol nascer. Quem sabe dessa vez eu vejo o neon do alvorecer, quem sabe assim ou tanto faz. Acorde! São já umas quatro, a penumbra era convidativa, postei ao sereno com meu velho e amargo café, e assim, lapidei a memória daquela aventura. Lembro vagamente que era carnaval, uma seresta talvez, um nojo de um lado e uma comédia do outro, uma alegria que tomara conta de todos naquele, acho, galpão. Uma simples conversa e sorrisos perdurou no tempo, de um esticada na calçada da vida até uma lasanha cumpliciada. Cortei a noite como uma sutil faca na realidade, conversas, risadas, carinho, refúgio. Faz um longo tempo, um mal entendido, uma tremenda perda de tempo. Creio que por mais simples e marcantes sejam as coisas, como em um iô-iô, mesmo que volte ao normal, nunca será normal.
    Assim como eu já era ligeiramente incomum, hoje sou muito mais. E tantas coisas muito menos. Talvez eu veja o mundo como as girafas, o único animal do planeta que eu nunca vi credibilidade cristã. Laranjas da cor do calor, com "antenas", línguas azuis e longos pescoços. De todos da Savana, o mais caricato. Porém, meu amargurado ornitorrinco  meu animal favorito por ser nem isso e nem aquilo, e tudo ao mesmo tempo, nem ele é capaz de julgar nada ou ninguém, apenas vê o rio passar e quando possível ele age. Conforta, desconforta, encanta e se faz por odiar.
    No fundo, lá no fundo, ninguém é daqui. Somos todos alienígenas do universo de outrem. Mas por várias vezes o ser extraterrestre nos ensina tanto que acaba por habitar nossa realidade. Nosso ser.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Quarto de Dormir



     E rolando de um lado ao outro da cama abracei o travesseiro em descontento. Era um abraço. Meu abraço. Aquele ao qual recuso receber por não confiar nas pessoas, por achar ato voluntário de intimidade relevante, mas um abraço de um objeto é como um abraço ao meu eu. E foi naquele abraço ao morto macio que percebi que tinha que levantar.
     Levantei os olhos ao infinito e regressei aos passos que deu para lembrar, sem mágoas, cobranças ou qualquer tipo de sentimento. Fui expectador de uma série de acontecimentos até chegar de volta ao meu corpo, ao meu abraço. Percebi que muito cobrei de mim, analisei todas as possibilidades, descobri que posso ser uma pessoa com melhores atitudes. De certo uma retrospectiva para engasgar o peito. Quanto tempo já desperdicei aguardando o momento certo, quanta gente já partiu para nunca mais voltar... Tantas coisas que já vivi que me pego abraçado em mim.
     Mas de nada mudaria, por nada mudarei. Ser quem sou é o que tenho que ser. Não tenho que esperar outras atitudes senão a própria, seja ela bondosa ou rude, atenciosa ou um mero desdém, isso é personalidade, isso é resquícios da vida, umas cicatrizes e um bolso cheio de sonhos. O que me dói não é mais que perguntas mortais, são os porquês da vida, atitudes e situações onde não controlo, não opto e sou coadjuvante.
      E de todos os atos do mundo, um abraço no meio da noite pode ser o que busco nos reboliços entre lençóis, no apalpar travesseiros em busca de afagos, no cruzar pernas em busca de outras pernas, poderia ser a falta de alguém para chamar de meu. A carência cotidiana surge com a insônia, parceiras de um coração falido em desgosto, são por elas que busco as fotos para lembrar do teu rosto, já que meu cérebro bloqueou todas as lembranças... Não lembro da tua voz, do teu sorriso, não sinto mais teu toque ou enlouqueço com teu cheiro... Nada.
     Todas as palavras são guardadas nos arcabouços da mente. Não desejo-te nada além de felicidade, esta que nunca virá de mim, pois meus sentimentos são meus, sem compartilhar, sem expor, sem dizer um A sequer. Apenas observo e sorrio vendo você seguir em frente, esse sou eu, apesar de tudo continuo a ser aquele cuja felicidade de outrem é sempre maior que a própria, mas isso é segredo. Sentimentos são secretos, nos torna vulneráveis e frágeis e neste mundo, no mundo fora do meu quarto de dormir, todo sentimento não é nada além de meros joguetes.
     Estar triste é abraçar o travesseiro e chorar ouvindo uma música que diz exatamente aquilo que você está sentindo. Já ser triste, é deixar de acreditar no amanhã, é ignorar as possibilidades e não mais se permitir. Tal como a madrugada que consola um sonhador em busca de respostas já sabidas, o dia também trará outras convicções, estas mais vívidas e cheias de esperanças e enquanto o sol riscar os céus com os alaranjados tons cor de âmbar, ou o neon translucido do alvorecer, enquanto houver outras cores para se viver, deixarei meus segredos nos travesseiros e meus problemas afundados. 
     

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Ao Crepúsculo


Não...
Depois de te amar eu não posso amar mais ninguém.
De que me importa se as ruas estão cheias de homens esbanjando beleza e promessas ao alcance das mãos;
Se tu já não me queres, é funda e sem remédio a minha solidão.
Era tão fácil ser feliz quando estavas comigo.
Quantas vezes vezes sem motivo nenhum, ouvi teu riso, rindo feliz, como um guizo em tua boca.
E a todo momento, mesmo sem te beijar, eu estava te beijando...
Com as mãos, com os olhos, com o pensamento, numa ansiedade louca.
Nosso olhos, ah meu deus, os nossos olhos...
Eram os meus nos teus e os teus nos meus como olhos que dizem adeus.
Não era adeus no entanto, o que estava vivendo nos meus olhos e nos teus,
Era extase, ternura, infinito langor.
Era uma estranha, uma esquisita mistura de ternura com ternura, em um mesmo olhar de amor.
Ainda ontem, cada instante uma nova espera,
Deslumbramento, alegria exuberante e sem limite.
E de repente... de repente eu me sinto como um velho muro.
Cheio de eras, embora a luz do sol num delírio palpite.
Não, depois de te amar assim,
Como um deus, como um louco,
nada me bastará e se tudo tão pouco,
Eu deveria morrer.

(Pablo Neruda)


Why?


     Sabe aquele momento em que o ego desinflama e você se pergunta, de várias formas, os porquês de tudo? Então, estou nesta fase.
     Em uma conversa casual com alguém especial, eu obtive a seguinte resposta: Namorar é umas da metas para 2013! - Automaticamente eu sorri para ela por simples ingenuidade. 
     Nunca pensei em por na lista uma coisa tão volátil quanto um relacionamento. Principalmente, exigente do jeito que sou, não desmereço a busca do compartilhar momentos, ao contrário, admiro quem usa de perspicácia para a construção da vida conjunta.

     Faz-se mister, a diferença entre querer e precisar. Há casos onde a busca é sumariamente para excluir a solidão, podemos então observar os namoricos de pouca duração (os famosos "de galho-em-galho) ou os místicos (os quais ninguém sabe explicar o motivo daquela relação). Alguns desses namoros dito místicos (sem explicação plausível) advém de duas fontes: A primeira e mais comum é o apego ao mais prático; o combate à solidão vai sendo asperamente executado, mesmo que a relação seja contraditória ou tensa. O segundo, e bem visto popularmente, é o "empurrar com a barriga". É tipicamente carregado de atos reflectivos, possuidores de desdém e frases específicas como "... enquanto não aparece nada melhor..."

     Querer namorar requer o seguimento de protocolos sociais, já que o título é algo a ser respeitado nada melhor que não abusar deste. Abrir as seletivas para o posto de companheiro é algo que pode ser divertido ou penoso. Humano comum: uma parte do ser tem comportamento distrativo, viajado, relaxado, sua mente procura algo que reforço a endorfina socio-emocional; Outro comportamento tem a construção, criatividade e formação como aspectos primários, a mente deste é consolidada, uma primazia de objetividade.
Essas duas partes separadas são respectivamente o infantil e o maduro. Juntas elas formas a personalidade comum. É onde origina-se as brincadeiras irresponsáveis e as grandes decisões. Saber dosar entre uma e outra é o que nos faz driblar ou fincar-se nas coisas boas e ruins.

Visto isso, o temperamento emocional fixa-se, e a vivência em dupla torna-se por demasiado querida.

     Ter alguém que se importa contigo, que te cuida, e até mesmo te irrita é muito bom. Nos sentimos especiais. É como se no meio de tantos bichinhos, estes mais belos e macios, alguém nos escolheu. Apostou a ficha em nós.

Ninguém é obrigado a estar com alguém por mais que o sentimento de escravidão amorosa exista. Ainda assim, temos a opção de enfrentar ou acovardar-se.

     O início de uma relação pode acontecer de duas formas: a primeira é o preenchimento de algumas lacunas que temos como requisitos  Buscamos a similaridade em aspectos econômicos  sociais e personalísticos. (Aceite ou não, mas só o fato de você buscar alguém em um local qualquer, já é similaridade) - Você consegue imaginar a probabilidade de dois roqueiros hardcores estereotipados se conhecerem numa swuigueira? É quase nulo.
Do outro lado temos a supressão desses requisitos, dando oportunidade ao acaso e surpresas. Quando os requisitos não estão estabelecidos, o "conhecer o outro", namorar e tudo mais, é uma descoberta maior. Podendo nos encantar ou desencantar de forma gigantesca.

Na busca de companhia podemos excluir um ou outro requisito da lista  mas isso faz com que as chances de parcerias aumentem, do mesmo que nos faculta o desespero, podendo nos fazer ficar com "qualquer um".

Apenas o céu

Foto por @sanamaru O amargo remédio se espreme goela abaixo, a saliva seca e o gosto de rancor perdura por horas. Em vez de fazer dormir ele...