terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Lady and the Tramp


     Fico embasbacado com a quantidade de ensinamentos que podemos tirar de simples coisas. Em um outro momento triste de minha vida, catei um clássico bem antigo dos estúdios Disney. A dama e o vagabundo. De fato histórias com animais não me atraem, porém eu estava sem nenhuma motivação para ir em busca do meu Tarzan, daí sucumbi aos encantos caninos e viajei sozinho em introspecto.

     A busca por uma companhia vai diretamente aos nossos conceitos de tolerância e afinidade. Seja ele em termos sociais, laborais e/ou hobbies. Buscamos compartilhar nossos gostos e feitos com pessoas que nos fazem sentir-se acolhidos, e é nesta reciprocidade que o vínculo cresce e estendesse para algo mais sério, algo mais fiel e construtivo, mesmo que fixe em uma amizade. Os contra-pontos são moldados e correlacionamos às pessoas, nossos determinados domínios de interesses, como se selecionássemos as pessoas como Conhecidos, Colegas, Amigos e Melhores Amigos pelo grau de afetividade e divisão comum de interesses. Faz sentido tal classificação?
     Já percebeu que algumas, muitas vezes, há pessoas no nosso círculo que não tem nada em comum ou algo a ver com toda a situação e, mesmo assim ela continua lá por ser peça adjunta ou contrastante? Pois bem, se no campo amistoso isso ocorre em um momento ou outro de nossas vidas, do mesmo acontece no campo sentimental. E nessa busca pela outra metade de nossa laranja (muito embora eu prefira morangos), buscamos encontrar alguém que nos complete, que nos faça uma desmistificação de perfeição.
     Construímos nossa vida circulando valores pessoais e atribuindo qualidades e defeitos para juntar e separar pessoas. Isso aqui é bom, isso aqui é ruim. E aditando moral, ética e bons costumes vamos vivendo, a cada passo dado advém novas experiencias, novos valores e pretensões. Dos 7 aos 15 testamos o que é certo ou errado, dos 15 aos 24, o que é bom ou ruim, dos 24 aos 32, o que é melhor para o futuro e o que não é. Destacam-se as quedas e levantadas que a vida nos dá para a formação de caráter e assim diluímos nossa personalidade em hábitos e performance. Depois de toda essa conversa, vejamos o núcleo:

     A dama e o vagabundo.

     Uma história de amor idiota onde seres socialmente diferentes conseguem enxergar um amor além de suas diferenças. Certo, entendi e afirmo que possa existir tal feito no mundo real. É sério, eu acredito. Ou você acha mesmo que cada pessoa vai ter exatamente um ser aguardando por ela, do jeito que ela quer e precisa, para suprir todas as suas necessidades e engrandecer todos os seus feitos? Óbvio que não. 
     Espero que vocês entendam os motivos de ter ditado logo cedo todo aquele desenvolver, é para justamente aqui não sobrar dúvidas que somos diferentes e imperfeitos. O mundo de relações interpessoais é regado de micro situações que culminam em grandes projeções, e nos casos de contrastes de interesses, isso é optável. Eu escolho as pessoas no qual convivo socialmente pelo gosto musical, cinematográfico, vestimentas, conversas casuais, habilidades, status quo... Logo, os vínculos amistosos são optáveis. No trabalho podemos não ter tanta sorte, o que temos que ter jogo de cintura, desenvoltura, sorte e perspicácia, para assim poder todo dia desvincular as coisas ruins e apenas trazer coisas boas para casa. O vínculo laboral é tolerável. No amor, ah o amor, é um mix de tudo isso e mais um pouco.
     Não existe pessoa totalmente compatível com nosso querer, entretanto cabe a nós querermos encaixar e podar as diferenças que surgem. O que significa que podemos ter parceiros que são totalmente diferente de nós (Um burocrata e uma artista, um servidor público e uma varejista, um morador de periferia e uma herdeira de um complexo de hotéis), os interesses em comum podem juntar as pessoas tanto quanto apenas fundir interesses divergentes em algo bem proveitoso. Exemplo de uma jornalista de uma revista de grande circulação que namora um rapaz que trabalha numa cafeteria, aqui temos além de formações diferentes, trabalhos diferentes e ela uma ótima redatora, ele mal consegue escrever um email promocional. Contraste gritante que o amor não consegue empatar, sabe porquê? Pelo simples fato de modelagem de relação e aceitação mútua.

     Observação 1: Sempre buscamos aceitação em nosso nicho, isso vem desde a criação do homem ou sua evolução. Sempre os "iguais" permaneciam juntos, surgiram os grupos nômades, pequenas aldeias, população crescente nas cidadelas, famílias nobres e plebeias,  castas e nichos religiosos, regionalismo e patriotismo. Subdividindo em o que possamos chamar de atividade grupal - tribos. (Conjunto de pessoas que compartilham de mesmos interesses em diferentes aspectos, englobando também os visuais, textuais e morais.)
     Observação 2: A construção dos valores e caráter que vinculam desde cedo o potencial de aceitação socioeconomica. Os pais sempre tendem a indicar as amizades aos filhos seguidos de históricos familiares, aceitação para com os outros vizinhos e membros da mesma ordem social, temperamento em grupo e individual e por último o potencial que os amigos podem desenvolver ao passar do tempo. Ninguém quer ver uma pessoa que tem grande oportunidade em crescimento, visto com pessoas de baixo nível social, baixo conhecimento ou capacidade laborativa. A seleção de melhor ou pior aqui é algo descaradamente preconceituoso, o que raramente é enfrentado por ser desgastantemente complicado. (Se é certo ou não, não será objeto de análise por agora.)
     Observação 3: O comparativo. Sempre haverá uma hora que olharemos para nós e para o outro e nos perguntaremos se aquilo é realmente certo. E nesses momentos de fraqueza é onde a observação 1 e 2 entram esmagando os sentimentos e certezas do indivíduo. Principalmente naquele hiposuficiente da relação, onde todos apontam o dedo e olham com pena. Surgem milhares de dúvidas e conversas, conselhos absurdos e malinos, consequentemente resultam em variações de sentimentos e acabam por desfazer os laços dos parceiros. Isso se não houver muita garra dos dois, mesmo que um peque por uma briga, desentender ou simples cobrança de terceiros, se seu parceiro souber lidar com a situação, ele conseguirá mostrar outras formas onde os sentimentos se acoplam e se fundem em novos e maravilhosos momentos. Uma hora ou outra isso acontecerá, tanto de um lado quanto do outro. Outra forma massacrante na comparação é o auto cobrar, esse meticuloso sentimento de que nunca é o bastante, que o suficiente seria algo que ele não pode oferecer. O simples ou o luxo, o material ou o imaterial, algo que o indivíduo de alguma maneira se acha na obrigação de proporcionar por também pensar que se fosse com outro seria tudo diferente. Por um lado faz muito sentindo, seria sim tudo diferente, mas não quer dizer que seria melhor ou pior, ou se seu parceiro iria aceitar daquela forma.

     A dama e o vagabundo. Um conto infantil sobre amor e desigualdade, aceitação e desprendimento. Quem ganha é o amor, mas neste simples filme acontecem tantas coisas, transporta agora isso pra vida real, para o dia-a-dia, os conflitos e tudo mais. Será mesmo que o seu amor sobreviveria? Será que ele seria forte o bastante para sustentar uma dúvida? Será, até, que seu amor próprio permite você oportunizar diferentes encontros, provar de outros contos tantos pontos nos cantos onde nunca se viu estar?
     

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