quarta-feira, 19 de setembro de 2012

A Primeira Noite do Segundo Sol.


      Em ganância do próprio ego, esqueci de como eram as cores do dia. Lembro sempre do que ficara marcado em mim, tenho em mente aquilo que aprendi a vislumbrar, todas as cores alaranjadas do fim do dia. O laranja riscando o céu junto ao violeta, era o âmbar igual aos teus olhos, e assim aprendi a valorizar o momento em que quase sempre estávamos juntos, o pôr do sol.
      Em princípio do oportuno mês que me abraça em aniversário, fui convidado ao inesperado. Observar as estrelas como na adolescência, com conversas agradáveis, teorias e até cochilos. E ali eu vi o dia acordar, junto à cidade que roncava em sonhos. Em pontos fixos as estrelas brilhavam, não havia lua, não havia pressa, não havia nada além de nós dois. Acredito que nunca tinha observado a marcha das nuvens vindas do horizonte, o quase amanhecer fabricara tantas nuvem que cuidadosamente invadiam os céus em púrpura. Ventava muito, mas elas continuavam pacíficas, eram tantas e tão separadamente juntas que merecia mais que uma recordação, poderiam ser fixadas na sala de estar em molduras em vidro.
       O neon alaranjado brincava ao céu claro de cor mostarda, o púrpura era sopro boreal em circulação entre nuvens. A cidade calmamente dormia e nunca poderia sonhar com tais cores, tudo vibrava em som de mar apaixonado, tão amável quanto o abraço que me contornara e abrigava meu corpo combatendo o frio. O dia acorda preguiçoso, bem devagar, para não assustar a quem ainda dorme e logo as nuvens começaram a correr dia a fora. Já não estavam tão próximas, distância se fazia no céu ainda vibrante. Era deserto na calçada, na areia da praia, no mar refletindo o céu, no horizonte e em meu peito. 
     O horizonte era extensão do oceano que parecia terra longínqua e sedenta por um amor. Não vi ali um céu que conhecia, mas uma visão do contrário que via à minha frente. Em meio as areias do tempo antigo, à frente um mar revolto em atenção, e logo acima uma paisagem de cores quentes e aspecto árido. Me peguei indo até lá, naquele deserto de cores fortes e de abrasivo sentido, mas não perguntei se você também poderia ir onde eu estava indo, fiquei com medo estar distante mesmo estando perto, como sempre fora.
     Depois de um longo dia primeiro, cheio de trabalho e angústia, assisti de perto a primeira noite do segundo sol, vi os primeiros raios de sol rasgarem as escuras cortinas da noite. Admirei o dia acordar ao som do vento que sussurrava em ouvidos, tendo a certeza que estava feliz, senti a vida arder sem explicação. Tentei te explicar, desenhando no ar o que eu sentia, apertar teus braços para se aproximar mais do calor que me surpreendia, e antes que eu visse você disse o que eu não podia acreditar. O sorriso cobria minha face como se fosse apenas isso que eu fazia para continuar vivo, o meu sorriso foi o mesmo que eu trouxe do deserto íntimo que percorri só para saber se existia algo além do horizonte.
     Explicação não tem, mas vi algo além do horizonte. E é justamente isso que trago no meu olhar.
     

     

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