quarta-feira, 27 de junho de 2012

Fim


       
       Embora toda alegria fosse tida como sincera, a cada sorriso dado ao prazer de sorrir, a tristeza continuava esguia nas entranhas daquele sonhador. Por mais esperanças que ele tivesse, por mais chances o mundo pudesse lhe oferecer, nada foi o suficiente para manter erguido seu corpo, sua mente, sua alma. A verdade destrutiva de todos aqueles estranhos, dos envoltos íntimos e familiares ávidos de críticas, forçaram ele a cavar mais ainda o lugar onde estava. O sol poderia aparecer todos os dias, mas o calor não aquecia sua pele fria de descontento com a vida, era apenas mais um dia cinza a seus castanhos olhos, apenas mais um dia de sofrimento interno.
       Ninguém nunca se importou em saber realmente se ele estava bem, seu sorriso bastava para aqueles prontos para descarregar seus problemas em cima do reflexivo jovem. A frieza comportamental era sentida pelos mais atentos, mas todos pensavam que era apenas uma fase, uma fase ruim devido a algumas circunstâncias recentes, não deram atenção devida ao simples entristecer do olhar ao maravilhoso mar que sempre o consolara.
       O somativo de pequenas desgraças em sua vida, mais a força negativa dos seus acreditados, congelara mais ainda todo o seu sentimento vital. Não havia inspiração, perdeu-se os pensamentos, não ouviam-se as piadas e dizeres, as conversas foram ficando curtas, as saídas ao mundo sempre proteladas ao depois, sem sono, sem fome, sem vontade, sem fé. Ele deixou de viver para apenas sobreviver, tetando entender o sentido da vida e tudo mais, buscando em pequeninos momentos de alegria externa o suprimento do vazio rasgante que o sugava em implosão.
       E em desentender cíclico de si, buscou a maneira mais fácil de sentir-se vivo. A dor. Trancafiado em um cubículo, pousou a lâmina firme em seu pulso e respirou fundo, lembrou do antes daquilo tudo, lembrou de quando tudo era colorido e promissor, mas não conseguia lembrar dos motivos de tudo se romper em ilusão. As lágrimas desceram ao subir da fina dor que o primeiro corte deu, a dor enraizada em seu pulso ao passar laminoso o fez desesperar-se ainda mais e mesmo enquanto pensava na miserável vida e escrevia sobre ela, ele continuou a experimentar a dor.
       O vermelho sangue misturava-se com o esbranquiçado piso, fazia-se constelações a cada derramar de espesso e escuro sangue. O soluçar do choro perturbava o silêncio daquele lugar, mas apenas ali a pura tristeza era sentida, ninguém nunca suspeitara de nada, o mundo lá fora dormia em tranquilidade, mas o mundo aqui dentro... Este mundo em pedaços, era o que eu pudia oferecer em troca ao alívio de não mais sofrer. A mão formigava e descontrolavelmente chorei, não era remorso ou arrependimento, mas sim a angustia que não passara. Este sentimento que tanto me persegue e me fez vítima de si, continuarei o ritual e caso eu consiga ficar aliviado, aguardo a esperança chegar novamente e fluir em contento. Caso eu não consiga e continue buscando na dor esse alívio, poderá ser meu fim.



       Fim.

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