quarta-feira, 2 de maio de 2012

Fall


      Mais de 30 mil pés, foi mais ou menos a altura da minha queda. Ganhei asas no pico do abismo e quase me atirando, recebi o incentivo de voar. Avistei o profundo desfiladeiro aos meus pés bem antes de saltar, era longo o caminho ao chão e exitei em saltar, pois sabia que uma hora ou outra aquilo ia dar muito errado, e por mais marcas ardidas das ultimas asas que queimaram em desalento, pulei.
      Saltei como em uma competição e sem olhar para baixo fui logo abrindo as articuladas asas da esperança, vi meus sonhos esticarem a penagem esbelta feita com esmeril castanhar. Acreditando em todas as boas coisas, fui impulsionado para cima, o pós nuvens era tão atrativo quanto o crepúsculo romântico que vira do infinito. Percorri riscando o céu de alegria e insegurança, sentia o chão tão perto quanto a crença que isso duraria muito.
      Logo o sol radiante começou a arder mais e mais, meus rodopios entre nuvens não surtia mais efeito para resfriar as minhas asas de arco vultoso, sentir o vento no rosto era a melhor sensação de liberdade que já tive em anos e logo percebi o quanto estava contente por tudo aquilo. Passou algum tempo e ainda serelepe a brincar entre colossal espaço de ar rarefeito fui atormentado pela aquilo que mais temia, a suficiência. 
      E mesmo me vendo temer você flanqueou-me e ainda sorrindo arrancou-me as asas. Uma por uma. lutei para que você pudesse parar, para que pelo menos a deixasse e embora uma delas estivesse quebrada e eu estivera perdendo altura, você se agarrou em mim e começou a rasgar aquilo que me dera. A cada puxada das minhas plumas de crença, o peito gritava em dor e tristeza, você sorrira por não mais querer aquelas asas e não as queria de volta, queria me ver sem nada. Mas naquela altura eu iria cair e você sabia, e depois que fez questão de sadicamente arrancar minhas asas deu a mão para que eu não caísse do céu. Como eu poderia voar se eu perdi tudo naquele mesmo momento? Não bastando você ainda me acertou o peito, perfurou meu tórax com sua mão fixamente espalmada e enfiou peito a dentro, apalpou meu coração e o esmagou sussurrando palavras de conforto próprio. O desespero tomou conta do meu eu. Não saberia mais como voar como você o fizera e ainda segurando tua mão, dei meu ultimo Adeus, soltei tua mão.
      Aceitei a queda como troféu da minha escolha, consenti a verdade de todas as placas amigas do caminho antes do voo, fechei os olhos e cai parafusalmente ao centro da Terra. Em mente passou tudo aquilo que eu vivera e confusamente te olhava, vi em teus olhos o sorriso de que tudo estava bem contigo e que nada mais faria efeito, nem mesmo minha existência, por isso você não hesitou em agarrar minhas mão quando eu soltei, por isso você não se assustou ou se surpreendeu quando eu te soltei, ao contrário, você sorriu como sempre o fizera quando estava de partida para outro sonhador. Você não esperou muito para seguir voando para outros condados a procura de outro alguém, nem me viu cair ao solo.
      Minha queda durou alguns segundos e para mim foram infinitos dias de dor e profunda tristeza. A liberdade que esvoaçava minhas roupas não era a mesma que me fazia liberto outrora. Sentia o vento levar minhas lágrimas para o alto e todas aquelas gotículas de sal se tornaram nuvens negras, figurando toda a minha dor sobre minha própria cabeça. Qualquer pessoa a quilomentros de distancia poderia ver a queda violenta que eu iria sofrer em micro segundos, e assim o foi. Uma destroçante queda daquele que hesitava em querer ter asas, despedaçado e sagrando fiquei ao chão respirando meu próprio sangue. Não havia um momento no qual algum movimento do meu corpo superasse a dor dos meus quebrados ossos de respeito e dignidade.  Fiquei ali suplicando socorro para o deserto que eu me encontrava, não havia ninguém ali, nenhum ser sabia onde eu estava e o que tinha acontecido até que, eu desmaiei de tanto sangrar.

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