sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Névoa


 Procurei o lugar mais afastado e calmo de todos os que eu tinha. Apoiei meus braços e relaxei ombros ao relento. Tentava respirar fundo, mas nada vinha em meu pulmões, soube que ali estava sem chão. Olhei para o lado e o corredor se alongou em distância surreal. Fechei meus olhos desejando não ter um acesso naquele momento.
 Meus ossos começaram a doer, de baixo para cima, e o frio fora sutil como a névoa que entrava em minhas narinas. Abri os jogos sem nenhuma expectativa. Olhei para os lados e deslumbrei um campo vazio, cinza como o receio e surdo como a verdade. O frio tomava conta dos arrepios, meus ossos inflamavam em revolta, não sabia onde estava, mas era muito familiar.
 Percorri o caminho em descontento com a situação, chamei por um e por outro, ninguém apareceu. A névoa era densa e não se via nada além de um palmo a minha frente. Vaguei pelo vazio por uns minutos e desistindo de encontrar alguma coisa viva, sentei. Contei até 10. Esperei passar aquela sensação de vazio.
Angústia rotineira por esses dias que vinham a avassalar a mente e o corpo em desespero das cores da felicidade que prestavam a presença quase todos os dias de viagem amargada pela saudade. Não havia segurança, medo, desejo ou tristeza. Apenas a névoa cobria tudo e todos que estavam ali. Embora não quisesse estar lá, sentado no vácuo, continuei por tempos, sem perspectiva alguma. Por mais frio que fosse, por mais cinza que apresentasse, por mais ensurdecedor que pudesse, por mais névoa que respirasse, nada me fez tirar o grito do meu peito. Reflexões me ajudaram a perceber onde eu estava, reflexões sobre a vida, minha vida, meu futuro, meu passado, os pensamentos arremessados com ódio em tudo aquilo que fora compaixonado e  construído em honra, os dizeres que esfaqueavam e mutilavam qualquer respeito.
 Depois de muito avaliar me dei conta de onde estava, apenas olhei o chão no qual eu sentara em cansaço. Tomei aquilo como guia e fui em direção única, ouvindo a civilização chegar pouco a pouco, e em alguns segundos de caminha solitária comecei a sentir os gélidos pingos de chuva. E quanto mais a chuva caia, mais dissipava a densa névoa que me encobrira.
 Estava novamente em casa, há poucos metros de onde eu me encontrava antes de me perder em vazio. Me perder em mim.

Um comentário:

  1. You must leave now, take what you need, you think will last
    But whatever you wish to keep, you better grab it fast
    Yonder stands your orphan with his gun
    Crying like a fire in the sun
    Look out the saints are comin' through
    And it's all over now, Baby Blue.
    The highway is for gamblers, better use your sense
    Take what you have gathered from coincidence
    The empty handed painter from your streets
    Is drawing crazy patterns on your sheets
    This sky, too, is folding under you
    And it's all over now, Baby Blue.
    All your seasick sailors, they are rowing home
    Your empty handed armies, are all going home
    Your lover who just walked out the door
    Has taken all his blankets from the floor
    The carpet, too, is moving under you
    And it's all over now, Baby Blue.
    Leave your stepping stones behind, something calls for you
    Forget the dead you've left, they will not follow you
    The vagabond who's rapping at your door
    Is standing in the clothes that you once wore
    Strike another match, go start a new
    And it's all over now, Baby Blue
    (It'a All Over Now, baby Blue. Bobo Dylan)

    ResponderExcluir

Apenas o céu

Foto por @sanamaru O amargo remédio se espreme goela abaixo, a saliva seca e o gosto de rancor perdura por horas. Em vez de fazer dormir ele...